O governo argentino considerou que o objetivo da denúncia formulada pelo falecido promotor Alberto Nisman - e rejeitada pela justiça - acusando a presidente presidente Cristina Kirchner de acobertar iranianos pelo atentado antissemita de 1994 era desestabilizar o governo, segundo um texto pago e publicado nesta quarta-feira.
"Rejeitada a denúncia, resta se perguntar quais eram os objetivos do promotor Nisman com sua denúncia repleta de contradições, carência lógica e sustento jurídico.
Nisman apareceu morto em 18 de janeiro no banheiro de seu apartamento com um tiro na cabeça de uma pistola calibre 22 que havia pedido emprestada a um colaborador, em um incidente que ainda é investigado.
Quatro dias antes havia acusado Kirchner de proteger ex-governantes iranianos pelo ataque à mutual judaico-argentina AMIA em 1994, que deixou 85 mortos e 300 feridos.
A justiça federal rejeitou na semana passada esta acusação por "inexistência de crime" e por não ter sustento jurídico, já que Kirchner não pediu à Interpol que levantasse os pedidos de captura dos suspeitos, como alegava Nisman, entre outros pontos.
O juiz federal Daniel Rafecas rejeitou a acusação revelando documentos assinados pelo próprio Nisman em dezembro de 2014 e janeiro de 2015 nos quais, em vez de acusar Kirchner, reconhecia seu trabalho para esclarecer o caso. Os documentos foram entregues por uma colaboradora de Nisman à justiça.
"Nestes documentos o promotor Nisman inclusive ressaltava a oferta ao Irã de realizar o julgamento em um terceiro país e a assinatura do memorando de entendimento como duas tentativas do governo para 'alcançar o objetivo de sempre: levar os acusados perante o juiz e, desta forma, conseguir o avanço no caso para seu julgamento oral'", sustenta o governo.
Em seu comunicado, o governo se pergunta "de que dependia a opção de impulsionar uma estratégia conjunta do Poder Executivo ante as Nações Unidas ou de denunciar a presidente de acobertamento?".
Em resposta, o governo lança um "apelo à sociedade argentina e à comunidade internacional a ouvir as vítimas do atentado e seus familiares, a quem todos dizem representar, mas poucos realmente prestam atenção".
Também pediu que acompanhe "o julgamento oral que será realizado pelo verdadeiro acobertamento do atentado", no qual estão acusados o ex-presidente Carlos Menem (1989-1999) e outros ex-funcionários de alto escalão por sua suposta responsabilidade no desvio de provas e irregularidades na primeira instrução do caso.
O governo estimou que este julgamento, previsto para o próximo semestre e que levará ao banco dos réus um ex-juiz e o ex-titular do organismo judaico DAIA Rubén Beraja, entre outros, "também coloca em foco o sistema penal federal".
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