A guerrilha comunista das Farc advertiu nesta terça-feira que "não é possível" selar um acordo de paz para a Colômbia que contemple "um único dia de prisão" para os guerrilheiros, depois que aumentou a pressão por justiça para as vítimas do conflito armado.
"Manifestamos que não é possível um acordo que contemple um único dia de prisão para nenhum guerrilheiro pelo fato de ter exercido o direito à rebelião (...) para acabar com as injustiças que nosso povo tem sofrido", declarou a guerrilha em um comunicado lido à imprensa por Ricardo Téllez, um de seus delegados nas negociações de paz com o governo colombiano em Havana.
"Não são os membros das Farc que gozaram de impunidade ao longo do conflito colombiano, senão a oligarquia, a classe política governante e as forças militares", acrescentou Téllez.
A delegação do governo não comentou esta advertência, feita pela guerrilha depois que aumentou a pressão nacional e internacional para que aceitem julgar os rebeldes envolvidos em crimes de guerra e contra a humanidade no âmbito do conflito armado de meio século.
O ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan, prêmio Nobel da Paz 2001, advertiu nesta sexta-feira, em uma reunião com os negociadores das duas partes, em Havana, que se um eventual acordo de paz não contempla justiça na Colômbia, a Corte Penal Internacional (CPI) poderia intervir.
"A Corte Penal Internacional tem a norma de que se o governo envolvido, neste caso o governo colombiano, não soluciona os assuntos de justiça, não estabelece um tribunal (...), a CPI intervém", disse Annan em coletiva de imprensa conjunta com os chefes de negociação das Farc, Iván Márquez, e do governo, Humberto de la Calle.
As Farc admitiram que suas ações armadas afetaram a população civil colombiana e não só as forças militares, mas negam ter cometido crimes contra a humanidade ou infringido o "direito internacional humanitário", que regula a conduta dos beligerantes em um conflito armado.
A guerrilha denuncia que o governo está tentando assegurar a "impunidade" dos membros das forças militares e policiais responsáveis por crimes no conflito armado.
O governo de centro-direita de Juan Manuel Santos e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), a maior guerrilha do país, estão negociando desde novembro de 2012 o fim do conflito, que deixou 220.000 mortos e 5,5 milhões de deslocados, segundo cifras oficiais.
Visita reservada de enviado dos EUA
Nenhuma das duas delegações de paz revelaram até agora o que conversaram com o enviado especial americano, Bernie Aronson, que visitou Havana neste fim de semana com este propósito.
Aronson fez sua visita de forma reservada "por decisão do governo americano", disse à AFP uma fonte da equipe do governo colombiano.
As duas partes estão debatendo há sete meses o complexo tema da reparação das vítimas, o quarto dos seis pontos da agenda de paz.
Além disso, se reunirá nesta quinta-feira a nova "subcomissão" conjunta de desarmamento, o ponto seguinte da agenda, integrada por cinco generais e um almirante pelo lado do governo e comandantes guerrilheiros por parte das Farc.
Esta "subcomissão" deve preparar o terreno para um cessar-fogo bilateral e sua implantação visa a acelerar as negociações.
A incorporação de chefes militares a esta equipe foi qualificada como "da maior gravidade" pelo ex-presidente conservador Alvaro Uribe (2002-2010), um duro crítico do processo de paz.
"As Forças Armadas serão colocadas no mesmo nível do terrorismo. Agora as obrigam a não cumprir sua tarefa de dar segurança aos cidadãos, mas de ser interlocutoras do terrorismo de igual para igual", declarou Uribe ao jornal espanhol El Mundo, coincidindo com visita do presidente Santos a Madri.
.