As autoridades gregas já enviaram a Bruxelas a lista de reformas que devem apresentar antes de obter uma prorrogação de quatro meses de seu plano de ajuda financeira, indicou nesta segunda-feira uma fonte europeia.
Não há detalhes sobre o pacote, mas se não convencerem, no sábado (dia em que termina o programa de ajuda concedido à Grécia), a economia grega pode entrar em colapso.
O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, que chegou ao poder no último dia 25 de janeiro, também pode enfrentar a indignação de seus eleitores se não conseguir cumprir sua promessa de acabar com a austeridade.
Na sexta-feira em Bruxelas, ao fim de outro dramático enfrentamento entre a Grécia e o Eurogrupo, o ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, conquistou o apoio à extensão da ajuda por parte de seus 18 parceiros europeus.
O acordo impulsionou os mercados de todo o mundo ao afastar o temor de uma "Grexit", como é chamada a saída da Grécia da zona do euro, e as bolsas voltaram a subir nesta segunda-feira na Ásia e na Europa.
O pacto, contudo, estava condicionado ao conteúdo da lista enviada nesta segunda-feira por Atenas, nas quais deveriam figurar medidas convincentes para acabar com dúvidas sobre o cumprimento pela Grécia de seus compromissos de reformas.
"Os fundamentos continuam sendo os mesmos: assistência em troca de reformas", esclareceu nesta segunda-feira o ministro de Relações Exteriores alemão, Frank-Walter Steinmeier, ao jornal Bild.
'Render-se à realidade'
Tsipras e seu partido, Syriza, preconizam o fim da "humilhação" e do "círculo vicioso" de cortes exigidos pelos credores da Grécia em troca dos dos resgates ao país no valor de 240 bilhões de euros.
Sua vitória nas eleições supôs um terremoto na Europa, principalmente na Alemanha, onde a chanceler, Angela Merkel, teme que a mensagem anti-austeridade repercuta em outros países europeus e complique ainda mais a crise da dívida da zona do euro.
Tsipras planeja implementar nos próximos quatro meses um novo pacote de reformas que leve o país para o bom caminho, para se recuperar depois de anos de recessão, cortes de gastos e aumento do desemprego. Mas, ao mesmo tempo, a dura negociação com a Alemanha e outros sócios da zona do euro obriga a Grécia a ceder.
Atenas prometeu não tomar medidas unilaterais que comprometam suas metas fiscais e teve que abandonar seus planos de obter cerca de 11 bilhões de euros adicionais dos fundos de apoio do Banco Central Europeu (BCE).
O economista Eric Nielse, da UniCredit, o denomina o posicionamento grego como "uma completa rendição política ao mundo da realidade", e afirma que claramente é Europa que dita as regras.
Tsipras insistiu durante o fim de semana que seu governo conseguiu o "importante êxito na negociação, ao tentar dar fim à austeridade".
"Não pode haver compromisso entre um escravo e um conquistador: a única solução é a liberdade", disse o membro mais respeitado do Syriza, o herói da resistência antinazista Manolis Glezos. "Gostaria de me desculpar com o povo grego por participar dessa ilusão".
Luta contra a fraude fiscal
Entre as medidas propostas por Atenas, haveria um plano de combate à fraude fiscal, maiores impostos para os mais ricos e rigor contra o contrabando de combustível e cigarro.
A Comissão Europeia, que com o Fundo Monetário Internacional e o Banco Central Europeu forma a chamada "troika", ainda não se pronunciou oficialmente sobre a lista enviada por Atenas.
A extensão do prazo precisa ser aprovada também pelo parlamento de vários países europeus. Mas se as propostas forem rejeitadas, a Grécia voltará à estaca zero, com uma dívida de 320 bilhões de euros.
"Se a lista não for aceitada, o acordo está morto", sentenciou na sexta-feira Varoufakis.