As negociações sobre o clima foram retomadas neste domingo em Genebra, em uma primeira reunião formal para preparar o texto do grande acordo que será assinado em Paris por 195 Estados, que seguem divididos sobre pontos chave.
Estas negociações intermediárias, sob a égide da ONU, têm por objetivo alcançar no fim do ano na capital francesa o mais ambicioso acordo já assinado para lutar contra o aquecimento climático, que substituirá o protocolo de Kyoto para os anos posteriores a 2020.
As negociações começaram na manhã deste domingo com uma sessão plenária antes de abrir caminho às sessões de trabalho a portas fechadas.
O objetivo é conhecido: é preciso limitar o aumento da temperatura mundial a %2b2°C em comparação com a era pré-industrial. Caso contrário, está previsto um distúrbio climático que terá graves consequências nos ecossistemas, nas sociedades e economias, em particular nas regiões mais pobres.
Ao ritmo atual, o mundo se aproxima de um aumento de 4 a 5 graus no fim do século se não forem tomadas medidas drásticas para reduzir as emissões de gás de efeito estufa, provocadas em grande parte pelo uso maciço de energias fósseis.
Na última segunda-feira a Organização meteorológica mundial confirmou que o ano de 2014 foi o mais quente já registrado no planeta, refletindo uma clara tendência. "Devemos iniciar uma profunda 'descarbonização' da economia mundial e, por fim, conseguir na segunda metade do século a neutralidade climática", ou seja, um equilíbrio entre as emissões e a capacidade da terra em absorvê-las, explica a responsável pelo clima da ONU, Christiana Figueres.
No entanto, Figueres já advertiu que não se deve esperar da reunião de Genebra um texto finalizado, e sim um documento que reflita um pouco melhor os pontos comuns. "Esperamos que os governos sejam capazes de trabalhar juntos para produzir um testo mais manejável", afirmou.
Confiança entre governos
De fato, os Estados estão divididos sobre os meios que devem ser utilizados, como reflete o projeto de acordo de 37 páginas que será estudado em Genebra, e que propõe um leque de opções sobre uma série de questões chave. "Como dividir a carga das reduções das emissões entre os países do Norte e os do Sul, mais vulneráveis, menos preparados e muito necessitados de energia? Que papel desempenham os grandes países emergentes: China, Brasil, Índia...?".
Os países em desenvolvimento também esperam que as nações industrializadas mobilizem os fundos prometidos para financiar ao mesmo tempo as medidas de adaptação e de luta contra o aquecimento climático (100 bilhões de dólares anuais até 2020). "Devemos garantir que este acordo não apenas seja ambicioso e encarado para o futuro, mas que seja justo e igualitário", declarou na véspera da reunião o presidente do grupo dos países menos avançados (LDC).
Paralelamente às negociações, os Estados estão convidados a comunicar no decorrer do ano seus compromissos em matéria de redução de suas emissões. Mas ainda não se sabe no novo acordo qual será o mecanismo de revisão e de progressão para estes compromissos, no momento insuficientes para respeitar o objetivo de %2b2 graus.
Além disso, que forma jurídica será dada ao futuro acordo de Paris? E que novas ações serão tomadas para o período 2015-2020, que os cientistas consideram crítico? "Reforçar a confiança entre governos" será um assunto chave, ressalta o Fundo Mundial para a Natureza (WWF), dotado do status de observador nestas negociações, e que convoca todos a "sair da rotina" diante da gravidade da situação.
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