Quinze militares da reserva e civis foram condenados à prisão perpétua, nesta sexta-feira, por violações dos direitos humanos cometidas em um centro clandestino de detenção na última ditadura argentina (1976-1983) - informou a Justiça.
Cerca de 20 militares e civis foram julgados por um tribunal oral de La Plata (62 km ao sul de Buenos Aires) pela aplicação de tortura e pelo assassinato de 135 pessoas - entre elas, a filha de Estela de Carlotto, líder da organização Avós da Praça de Maio.
Nesse julgamento, foram investigadas as violações dos direitos humanos cometidas no centro clandestino conhecido como "La Cacha".
A sala do tribunal ficou lotada durante a audiência.
A "avó" Estela Carlotto estava acompanhada do neto Guido, o qual reencontrou recentemente, após quase quatro décadas de busca. Os dois se abraçaram, enquanto o público aplaudia a leitura da sentença, segundo as imagens transmitidas pela Internet pelo Centro de Informação Judicial.
No banco dos réus, estava mais uma vez o ex-chefe da polícia da província de Buenos Aires Miguel Etchecolatz, que acumulou uma segunda condenação à prisão perpétua.
"Condenando Miguel Etchecolatz à pena de prisão perpétua por sua cumplicidade no genocídio cometido na última ditadura militar", leu um dos juízes, que repetiu a mesma sentença para os demais réus.
Além dos militares da reserva, há membros do Serviço Penitenciário e civis, como o ex-funcionário do regime Jaime Smart.
O tribunal sentenciou ainda um marine e outros três civis a penas entre 12 e 13 anos de prisão. Eles também receberão baixa das Forças Armadas.
O corpo da desaparecida militante peronista de esquerda Laura Carlotto, filha de Estela, de 83 anos, e mãe do músico Guido Montoya, de 36, foi entregue à família em 1978, após ser executado pelos membros de La Cacha.
Em seus 37 anos de existência, a organização Avós da Praça de Maio, fundada por Carlotto, conseguiu devolver a identidade de 115 bebês roubados na ditadura (1976-1983). Outros 400 filhos de presos políticos desaparecidos são procurados até hoje.
De rádio a uma sinistra maternidade
La Cacha era uma antiga estação de rádio, que passou a ser usada pelo Comando 101 de Inteligência do Exército, operando como maternidade clandestina. Acredita-se que Laura Carlotto tenha dado à luz Guido nesse local.
Segundo sobreviventes, também passou pelas masmorras de La Cacha o desaparecido Antonio Bettini, pai de Carlos Bettini, atual embaixador argentino na Espanha.
Desde que foram anuladas as Leis de Anistia no país, há dez anos, 547 ex-militares e ex-policiais foram condenados - informou nesta sexta à AFP uma fonte da Procuradoria de Crimes contra a Humanidade.
Dos ditadores, o único ainda vivo é o ex-general Reynaldo Bignone, de 85 anos, que cumpre seis condenações por graves violações dos direitos humanos.
Cerca de 30 mil pessoas desapareceram na ditadura - afirmam organismos de defesa dos diretos humanos.
Este ano, Carlotto recebeu distinções e reconhecimento internacional por seu trabalho humanitário na organização.
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