Jornal Estado de Minas

Combates impedem perícia em avião que caiu na Ucrânia

Missão internacional que investiga queda do avião malaio que matou 298 pessoas suspende operações no Leste do país, onde autoridades locais advertem sobre "catástrofe humanitária"

Novos combates entre as forças do governo ucraniano e os separatistas pró-russos que controlam áreas do Leste do país voltaram ontem a prejudicar o trabalho de uma equipe internacional de peritos enviada à região para investigar a queda de um Boeing da Malaysia Airlines, supostamente abatido por um míssil aéreo disparado pelos rebeldes.

Sem perspectiva de uma solução negociada para o conflito, ou ao menos de um cessar-fogo estável, as autoridades de Lugansk, importante centro urbano recém-recuperado pelas tropas leais ao governo de Kiev, afirmaram que a cidade está “à beira de uma catástrofe humanitária”. A situação é semelhante em Donetsk, capital da região de mesmo nome e, atualmente, o principal reduto em poder dos separatistas – nas imediações do local da tragédia com o avião malaio, que matou as 298 pessoas a bordo em 17 de julho.


Impedidos de continuar a recolher fragmentos do Boeing e restos das vítimas, os 70 inspetores enviados pela Organização para a Cooperação e a Segurança na Europa (OSCE), acompanhados de especialistas holandeses e australianos, tiveram que deixar a cidade Grabove, base das operações. Eles ouviram tiros à distância de mais ou menos 2km e se retiraram. “As coisas aconteceram suficientemente perto para que eles tomassem a decisão de sair. O impacto dos tiros era muito intenso e o chão tremia”, relatou Alexander Hug, diretor adjunto da missão da OSCE na Ucrânia.


Hug informou ainda que os separatistas autorizaram o acesso da equipe às áreas sob seu controle, mas considerou que era “muito cedo” para determinar se a retomadas das hostilidades configurava uma violação do cessar-fogo estabelecido entre as partes nas imediações do local da tragédia. A busca de corpos é considerada prioritária em relação ao levantamento de indícios sobre a causa do acidente, garantiram os cientistas holandeses que iniciaram a identificação das vítimas. Eles lembraram que o trabalho poderá durar meses.

GUERRA As investigações são dificultadas pela destruição provocada nos arredores por mais de três meses de combates.

“O que acontece hoje em Lugansk é uma autêntica guerra, que custou a vida de mais de 100 habitantes pacíficos”, afirmou um comunicado da prefeitura. A cidade, próxima à fronteira com a Rússia, sofre com falta de água e energia elétrica, além das dificuldades no abastecimento de alimentos.

 

Protesto em Moscou

 

Com a Rússia submetida a duras sanções dos Estados Unidos e da União Europeia (UE), em represália pelo apoio que dá aos separatistas, centenas de manifestantes foram ontem às ruas de Moscou pedir ao presidente Vladimir Putin que envie tropas para a Ucrânia com a missão de proteger a população do Leste. Desde o início do conflito, em março, a ONU estima que mais de mil pessoas foram mortas. Os manifestantes pediram ajuda humanitária à região industrial ucraniana do Donbas e cantaram músicas patrióticas. “Se uma pessoa tem o poder, deve utilizá-lo para passar à ação”, afirmaram os líderes do protesto, que contou com a presença de representantes da autoproclamada República Popular de Donetsk. Pressionado entre o embargo ocidental e o apoio de parcela importante da opinião pública russa aos separatistas, Putin administra o impacto de médio prazo da crise sobre uma economia que já vinha dando sinais de estagnação. Mas, embora tenha agido prontamente para anexar a península da Crimeia, em março, atendendo aos resultados de um plebiscito declarado nulo pelos EUA e pela UE, o presidente russo não anunciou oficialmente ajuda militar direta aos separatistas do Leste ucraniano.

.