Brasília – A mais de dois anos das eleições presidenciais, os norte-americanos começam a sondar quais poderão ser os postulantes à sucessão de Barack Obama na Casa Branca, em novembro de 2016. Embora o Partido Democrata esteja com as atenções voltadas para a campanha às eleições legislativas de novembro próximo, o nome da ex-primeira-dama Hillary Clinton já ganha destaque. Embora não tenha confirmado os planos de concorrer à presidência, a secretária de Estado do primeiro mandato de Obama ensaia a candidatura em meio aos esforços para que o partido conquiste o maior número possível de cadeiras no Congresso.
A mulher de Bill Clinton é considerada uma escolha natural dos democratas para a sucessão e foi apontada como favorita para vencer as primárias do partido, segundo pesquisa publicada no fim de janeiro pelo jornal The Washington Post em parceria com a rede de televisão ABC News. A sondagem indicou que ela venceria a disputa interna com 73% dos votos. O cenário que Obama deixará no fim de seus oito anos de mandato, porém, pode dificultar os planos da democrata para retornar à Casa Branca, agora como protagonista.
Hillary, que foi também senadora por Nova York entre 2001 e 2009, tem feito discursos por todo o país, enquanto o marido, que governou de 1993 a 2001, marca presença ao lado de democratas que concorrem a vagas no Congresso. Sondada sobre seus planos políticos, no início do mês, a quase-candidata respondeu que tem pensado sobre 2016, mas ressalvou que não pretende tomar uma decisão "por algum tempo". Mesmo sem a confirmação, algumas instituições independentes, cujos nomes fazem menção à ex-secretária de Estado, começaram a arrecadar fundos em seu nome. A organização Ready for Hillary (Prontos para Hillary, em livre tradução) arrecadou US$ 1,7 milhão nos primeiros quatro meses de 2014.
O apoio da família Clinton a alguns candidatos ao Congresso e a constante presença do nome de Hillary entre os cartazes de militantes democratas fortalecem os argumentos de que o terreno para a candidatura presidencial está sendo preparado. Lara Brown, especialista em cenários eleitorais da Universidade George Washington, observa que o momento é propício à construção de suporte político, dando apoio a candidatos que possam retribuir o gesto em 2016. "Não há dúvidas de que ela está considerando se candidatar. As pessoas que a apoiam e muitos membros do Partido Democrata querem que ela concorra e estão trabalhando muito duro para que ela tenha a estrutura necessária, caso decida entrar na disputa."
Ameaça Lara Brown, porém, ressalta que, apesar do favoritismo, a candidatura de Hillary não é certa. Sua decisão deve influenciar a movimentação de outros democratas que estudam concorrer às primárias – como o governador de Nova York, Andrew Cuomo, e o ex-governador de Montana Brian Schweitzer. A analista aponta que a imagem de Obama – que fechou o ano de 2013 com 41% de aprovação, o nível mais baixo registrado em sua gestão – pode ser a maior ameaça ao projeto presidencial da ex-secretária. "Se ele deixar o governo com baixa popularidade, será difícil convencer o país a dar mais um mandato aos democratas, especialmente com alguém que trabalhou na gestão anterior", considera a estudiosa. Na sua avaliação, o resultado das legislativas deste ano, tidas como um termômetro sobre a aprovação do atual governo, deve nortear o discurso de Hillary: ela pode advogar pela continuidade dos projetos de Obama ou por repaginar o modo como o país é conduzido.
Guilherme Casarões, cientista político e professor de relações internacionais das Faculdades Integradas Rio Branco e da Fundação Getúlio Vargas (FGV), acredita que a democrata terá dificuldades em se esquivar das críticas republicanas acerca das falhas e incertezas do governo Obama. Para ele, o fato de seu marido ter sido um presidente popular pouco a ajudará. O desempenho de Hillary como secretária de Estado, tema do livro de memórias que será lançado por ela em 10 de junho, também deve ser colocado na linha de fogo. "Embora não tenha grandes concorrentes, Hillary adotou certas posições consideradas duras ou radicais, que desagradaram parte dos democratas."
Chelsea Clinton(foto), a filha de Bill e Hillary Clinton, não tem um histórico de entusiasmo pela carreira política. Na semana passada, a menina que cresceu na Casa Branca e agora tem 34 anos, anunciou que espera o primeiro neto do casal presidencial.
Bush x Clinton, a revanche
Um sobrenome que traz boas (e más) lembranças ao eleitorado republicanos pode voltar à cena presidencial em 2016, possivelmente para um tira-teima com outro sobrenome acostumado à Casa Branca – mas do lado democrata. Jeb Bush tem dois ex-presidentes no círculo mais íntimo da família. O pai, George H.
O caçula Bush foi governador do estado da Flórida por dois mandatos consecutivos, entre 1999 e 2007, e é tido como um republicano moderado, simpático a reformas no sistema de imigração. Ele é uma das figuras de destaque na campanha republicana para o Congresso, neste ano, e tem feito aproximação estratégica com grandes doadores do partido, segundo informações da revista The Week. No entanto, Jeb enfrenta a resistência de alas mais conservadoras do partido Republicano. Guilherme Casarões, cientista político e professor de relações internacionais das Faculdades Integradas Rio Branco e da Fundação Getúlio Vargas (FGV), lembra que o perfil eleitoral da legenda "não permite espaço para candidatos mais arejados".
Desde que deixou o governo da Florida, Jeb não fez grandes avanços na carreira política. Para Casarões, ele parece mais inclinado a apoiar outros pré-candidatos, como o senador Marco Rubio, eleito pela Flórida e fortemente envolvido nos debates sobre a reforma migratória proposta pelo presidente Barack Obama. Mesmo se decidir concorrer às primárias, porém, Bush seria desafiado por uma lista considerável de postulantes. Ao contrário do que ocorre no Partido Democrata, os republicamos não contam com um nome que se sobressaia entre os possíveis presidenciáveis.
Além de Bush e Rubio, alguns dos que indicam interesse por 2016 são o governador de Nova Jersey, Chris Christie; o governador de Wisconsin, Scott Walker; o deputado por Wisconsin, Paul Ryan e o senador pelo Kentucky, Rand Paul. "Os republicanos estão fora da Casa Branca há dois mandatos e, por isso, existem muitos esperando para entrar na disputa, mas nenhum tem apelo comparável ao de Hillary Clinton", observa Lara Brown, especialista em cenários eleitorais da Universidade George Washington, em referência à possível candidatura da ex-primeira-dama. Apesar da vantagem de já ter uma pré-candidata popular, Brown observa que os democratas ficariam muito mais vulneráveis na competição caso Hillary não emplaque como favorita na disputa interna .