Jornal Estado de Minas

Coreia do Norte vai às urnas: um candidato único por região

AFP

Os norte-coreanos votaram neste domingo em eleições parlamentares com um único candidato por distrito, uma prática distante da democracia e que permite às autoridades identificar deserções no exterior.

Um só candidato, designado pelo partido único, é autorizado a se candidatar em cada uma das 687 circunscrições.

Os eleitores têm como únicas opções "sim" e "não" na cédula de voto.

E os eleitores não decepcionam: a taxa de participação em 2009 foi de 99,98%, com uma aprovação dos candidatos de 100%.

Neste domingo à noite, as autoridades anunciaram que todos os eleitores votaram, com exceção daqueles no exterior. Aos doentes, as urnas foram levadas até suas casas.

A imprensa oficial não deixou de lembrar o "dever de todo o indivíduo de votar", promovendo a participação com a publicação de poemas.

Esta é a primeira eleição da Assembleia Suprema do Povo desde a chegada ao poder de Kim Jong-Un após a morte de seu pai Kim Jong-Il, em dezembro de 2011.

Kim se apresentou na circunscrição numéro 111, a de Mont Paektu. A televisão exibiu imagens de soldados em fila para votar, antes de se inclinar em frente aos retratos de Kim Il-Sung e Kim Jong-Il na parede.

O Monte Paektu está localizado no norte da Coreia do Norte, perto da fronteira com a China. É considerado sagrado pelos norte-coreanos. Foi lá que o fundador do país, Kim Il-Sung, pai de Kim Jong-Il, estabeleceu um acampamento de guerrilha anti-japonesa durante a colonização da Coreia pelo Japão.

As eleições parlamentares são normalmente realizadas a cada cinco anos e a assembleia se reúne apenas uma vez ou duas vezes por ano, muitas vezes em uma sessão para votar o orçamento e ratificar as decisões tomadas pelo partido dos Trabalhadores.

A última sessão foi em abril de 2013, na qual foi adotado um decreto especial, formalizando o estatuto de potência nuclear da Coreia do Norte.

O interesse real desta votação para os observadores estrangeiros é descobrir a lista final dos candidatos, que podem fornecer orientações sobre as mudanças dentro do regime após o expurgo ordenado no ano passado por Kim Jong-Un.

O líder norte-coreano descartou uma série de personalidades do poder e executou várias autoridades, incluindo o seu próprio tio e mentor, Jang Song-Thaek, morto em dezembro sob a acusação de traição e corrupção.

A eleição também serve como censo populacional, porque funcionários responsáveis pela organização visitam cada casa para garantir a presença ou ausência dos eleitores registrados.

"Em qualquer outro momento do ano, os parentes de pessoas que não votaram podem subornar ou mentir, dizendo que a pessoa está à procura de trabalho em outro distrito", explica o New Focus International, dirigido por refugiados norte-coreanos asilados no Sul.

"Uma eleição pode revelar a fuga de um norte-coreano para a China ou Coreia do Sul", acrescenta.

Kim Jong-Un reforçou a segurança na fronteira em uma tentativa de limitar as chances de candidatos ao exílio. Mais de 1.500 partidas para a Coreia do Sul através da China, no entanto, foram registradas no ano passado.

Para Ahn Chan-il, desertor instalado na Coreia do Sul e especialista no regime norte-coreano, o recenseamento eleitoral não deve permitir que Pyongyang tenha uma ideia clara das deserções, já que muitas autoridades locais preferem permanecer em silêncio em vez de expor-se a sanções.

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