Jornal Estado de Minas

Igreja

Renúncia do papa Bento XVI completa um ano

Pela primeira vez em 598 anos, um papa renunciou o governo da Igreja Católica. Troca de comando do Vaticano mudou a cara do catolicismo, mas fiéis ainda guardam carinho do antecessor de Francisco

Thiago Ventura
Renúncia de Bento XVI surpreendeu fiéis numa segunda de carnaval no Brasil - Foto: AFP Photo/Vincenzo Pinto

Há um ano, o então Papa Bento XVI fez um anúncio que deixou Igreja e o mundo perplexos: declarou que iria renunciar ao papado ainda naquele mês. Foi uma decisão histórica, pois a última vez que um papa havia tomado tal medida foi na Idade Média. Em 11 de fevereiro de 2013, aos 85 anos, o pontífice alegou que a saúde frágil era razão de sua renúncia. Leigos e religiosos ficaram surpresos e abalados, pois a expectativa era que Bento XVI fizesse como o antecessor, Beato João Paulo II, e seguisse no cargo até o fim da vida, mesmo doente e debilitado.

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Apesar da perplexidade e dúvidas, o tempo entre os últimos dias de papado de Bento XVI, sé vacante e a escolha no Conclave foi marcado por oração e esperança de novo tempo para a Igreja. Por outro lado, várias dúvidas surgiram sobre o motivo da saída do Bispo de Roma. Segundo o padre Nivaldo Magela de Almeida Rodrigues, vice-chanceler da Arquidiocese de Belo Horizonte, a decisão do papa emérito foi um gesto de humildade e confiança no plano divino.

"O Papa Bento XVI, com sua inteligência e acuidade, percebeu que problemas e temas da Igreja não poderiam ser enfrentados por ele. O Papa não foge à discussão e aos problemas, mas os repropõe de forma corajosa com sua renúncia", afirma. Em sua análise, a renúncia, além da saúde debilitada, foi um gesto para reforçar a igreja como instituição.
"A renúncia do Papa Bento XVI segue, para mim, a característica de renúncia dos Papas da Igreja Antiga, ou seja, renúncia para manter o bom governo da Igreja. A saída de Bento XVI tem haver com sua vida de fé e seu compromisso com a Igreja", aponta

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O cardeal Joseph Ratzinger era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e foi eleito papa em 19 de abril de 2005, aos 78 anos. Seu governo foi marcado pela defesa das questões da fé, reafirmando sempre a posição da Igreja frente às questões modernas, por isso foi visto pelo mundo como conservador. Bento XVI enfrentou ainda os problemas morais na Igreja, como os casos de pedofilia e econômicos no Banco do Vaticano. Em ambas situações, o papa propôs normas duras contras os crimes cometidos pelo clero e ações firmes para melhorar a administração da Santa Sé.

IMAGENS DA ÚLTIMA ORAÇÃO DO ÂNGELUS DE XVI

"No campo da Fé, o Papa promoveu o Ano Sacerdotal, o Ano da Fé, escreveu documentos pontifícios marcados por um estilo elegante e teologicamente profundo. Convocou todo um estudo sobre a Palavra de Deus. Criou a Congregação para Nova Evangelização, que debate a presença da Igreja no mundo atual", explica pe. Nivaldo, que é mestre em História da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana, de Roma.

Papa Francisco visita o papa-emérito nas vésperas do Natal de 2013 - Foto: OSSERVATORE ROMANO/Divulgação

Agora como Papa-Emérito, Bento XVI vive uma vida simples, dentro dos muros do Vaticano, dedicando os dias à oração. Papa Francisco exibe carinho com seu antecessor e já fez várias visitas a ele. "A mensagem do Papa Bento XVI atual é humildade e confiança em Deus tanto na vida pessoal como para a vida da Igreja. Há muitos que reconhecem no Papa Bento XVI um homem humilde, lúcido, inteligente e, ao mesmo tempo, de grandeza moral. Circula nas redes sociais o adjetivo de Magno aplicado a ele, 'Papa Bento Magno', título usado somente a grandes papas de envergadura intelectual, moral e de grande expressão para a Igreja", afirma padre Nivaldo.

Dois papas amigos

Isolado do "barulho mundano", como anunciou antes de abandonar o Trono de Pedro, Bento XVI apareceu publicamente no último ano junto ao papa Francisco em apenas quatro oportunidades.Depois de recuperar suas forças e o bom humor, o papa emérito se dedica à leitura, escreve e não se descarta que em 27 de abril participe da cerimônia de canonização de João XXIII (1958-1963) e João Paulo II (1978-2005), com quem trabalhou como prefeito da Doutrina da Fé e guardião do dogma durante 23 anos.

"Minha única e última tarefa é sustentar com a oração o pontificado de Francisco", escreveu em janeiro o papa alemão em uma carta enviada ao teólogo progressista suíço Hans Kung, na qual enfatiza que compartilha com o papa argentino "uma grande identidade de pontos de vista".


Papa Francisco tweeta para Bento XVI

O papa Francisco pediu nesta terça-feira aos católicos que orem por Bento XVI, chamado por ele de "homem corajoso e humilde", por ocasião do primeiro aniversário de sua histórica renúncia após oito anos de pontificado.

"Hoje convido-vos a rezar juntos comigo por Sua Santidade Bento XVI, um homem de grande coragem e humildade", escreveu Francisco em sua conta na rede social Twitter.
(Com AFP)

Em maio de 2007, papa Bento XVI visitou o Brasil e foi ovacionado em Aparecida - Foto: Juarez Rodrigues/Estado de Minas - 13/05/2007 .