Jornal Estado de Minas

Mar agitado impede recuperação de corpos em Lampedusa

AFP

As operações de recuperação de corpos prosseguiam suspensas neste sábado em consequência do mar agitado nas costas de Lampedusa, onde faleceram na quinta-feira quase 300 imigrantes em um naufrágio.

Até o momento apenas 111 foram recuperados. A suspensão dos trabalhos foi confirmada por Leonardo Ricci, chefe da polícia alfandegária da região.

Rajadas de vento e ondas acima do normal impediam os trabalhos dos navios.

A embarcação que partiu da costa líbia com entre 450 e 500 imigrantes procedentes em sua maioria da Eritreia, afundou após um incêndio acidental na madrugada de quinta-feira perto das costas de Lampedusa.

As equipes de emergência, ao lado de pescadores, conseguiram resgatar 155 pessoas, o que faz deste naufrágio o mais grave da imigração nos últimos anos.

"Há uma obrigação jurídica e moral de recuperar todos os corpos. Centenas de famílias esperam notícias dos parentes", disse Ricci.

Os destroços da embarcação foram localizados e as primeiras explorações mostraram cenas impactantes.

"Dezenas de corpos, podem ser centenas, estão empilhados uns sobre os outros. Os mais afortunados foram os que se afogaram primeiro", afirmou à imprensa italiana o mergulhador Rocco Canell.

Quatro barcos de pesca seguiram para o local do naufrágio neste sábado e lançaram uma coroa de flores. Toto Martello, presidente do consórcio de pescadores, negou as acusações de que alguns pescadores não socorreram os náufragos.

Os corpos das vítimas, incluindo muitas mulheres e crianças, estão em um hangar do aeroporto, onde são fotografados para posterior identificação.

Em um gesto inédito, o prefeito de Roma, Ignazio Marino, decidiu que os 155 sobreviventes seriam recebidos na capital "como demonstração de rebelião contra a resignação e a indiferença".

Um pedido para conceder o prêmio Nobel da Paz a Lampedusa, organizada pelo jornal L'Espresso, já recebeu mais de 30.000 assinaturas.

"Isto não pode continuar assim. Esperamos que as políticas mudem. O futuro de Lampedusa depende diretamente das políticas de asilo e imigração", afirmou a prefeita da ilha, Giusi Nicolini.

O primeiro-ministro italiano, Enrico Letta, que falou de "vergonha", anunciou que as vítimas receberiam a nacionalidade italiana e pediu o aumento do "nível de intervenção" da Europa. Quase 30.000 migrantes e refugiados chegaram às costas italianas desde o início do ano.

O primeiro-ministro da França, Jean-Marc Ayrault, pediu uma reunião urgente após o dramático naufrágio de Lampedusa.

"É importante que as autoridades políticas europeias falem sobre isto juntas e de maneira rápida", afirmou Ayrault.

"São eles os que devem reunir-se para falar da resposta correta, a compaixão não basta", disse.

"Quem pode ficar insensível? Eu fiquei profundamente afetado, consternado com as imagens que vi", completou.

As autoridades italianas prenderam o capitão do pesqueiro clandestino, que partiu de Misrata (Líbia). O homem, um tunisiano de 35 anos, foi expulso da Itália em abril.