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Novo premier do Paquistão manterá linha-dura com talibãs, dizem analistas

AFP

O futuro primeiro-ministro paquistanês Nawaz Sharif, líder do partido que venceu as eleições legislativas de sábado, será um aliado "pragmático" dos Estados Unidos que não abandonará a luta contra os talibãs e buscará reativar a economia do país, afirmam analistas.

Sharif, ex-primeiro-ministro em duas ocasiões nos anos 1990, uma época na qual o Paquistão não era atingido por atentados diariamente, sugeriu durante sua campanha eleitoral a organização de negociações com os talibãs paquistaneses do TTP, responsáveis pela morte de milhares de pessoas nos últimos seis anos.

O TTP reivindicou uma onda de atentados durante a campanha eleitoral contra os membros laicos da coalizão em fim de mandato no poder em Islamabad.

A Liga Muçulmana (PML-N, centro-direita) de Nawaz Sharif não foi atacada, o que facilitou a organização de seus comícios, mas levantou dúvidas sobre sua possível proximidade com grupos islamitas armados.

Mas Sharif garantiu rapidamente que apoia os Estados Unidos em sua "guerra contra o terrorismo".

"O mais importante é não permitir jamais que nossa terra possa ser utilizada para criar problemas em outro país do mundo", disse Sharif citado no domingo pelo jornal britânico Sunday Telegraph.

O presidente americano, Barack Obama, afirmou que Washington trabalhará com o governo de Sharif entre "sócios igualitários".

Segundo Jonah Blank, ex-diretor do Comitê de Relações Exteriores do Senado americano para o sul da Ásia, a retórica antiamericana de Nawaz Sharif durante a campanha não levará a uma política de confronto com Washington.

"Não há nada que fundamente a ideia de que é um chefe extremista ou que sua retórica, antiamericana ou pró-islamita, se traduzirá em uma política de confronto" com Washington, disse.

Sharif havia apoiado as ofensivas do Exército contra os rebeldes islamitas em 2009 no Vale do Swat e no distrito tribal do Waziristão do Sul, perto da fronteira afegã.

"O ponto central do manifesto de Nawaz Sharif é que não podemos negociar com gente que não aceita nossas instituições, nossa constituição, nosso Parlamento e nosso sistema judiciário", explica Sartaj Aziz, funcionário de alto escalão do partido.

O Paquistão precisa de "uma estratégia mista" que se baseie em uma sábia dosagem de ações armadas e negociações com os rebeldes, acrescentou.

Pragmatismo

Durante a campanha eleitoral, Nawaz Sharif também havia criticado os ataques de aviões teleguiados dos Estados Unidos contra os talibãs, tanto paquistaneses quanto afegãos, e contra outros grupos ligados à Al-Qaeda que encontraram refúgio nas zonas tribais do noroeste do país.

Mas essas críticas eram muito menos virulentas do que as de seu rival Imran Khan, mais uma prova de seu pragmatismo, segundo os analistas.

"Terá provavelmente uma relação madura e não passional com os Estados Unidos", considera Imtiaz Gul, especialista em questões de segurança.

"A guerra contra o terrorismo e a campanha de drones está acabando, não falará muito sobre estes temas", disse Gul, que concorda com os demais observadores sobre o fato de que a prioridade de Sharif será a economia.

Em relação à retirada das forças da Otan do vizinho Afeganistão, os analistas não esperam uma mudança na política oficial do Paquistão, favorável a uma paz negociada entre as diferentes facções do país.

Em relação à Índia, cuja histórica rivalidade com o Paquistão levou os dois países a se enfrentarem em três guerras, Sharif deve adotar um enfoque pragmático, tentando capitalizar seus contatos pessoais com os líderes indianos.

Esta relação "precisa de melhores contatos de alto nível, algo que Nawaz Sharif e Manmohan Singh (primeiro-ministro indiano) podem resolver facilmente", ressalta Sartaj Aziz, ligado ao clã Sharif.