Kano (Nigéria) – Pelo menos 40 pessoas morreram e 30 ficaram feridas em violentos confrontos entre cristãos e muçulmanos no Centro da Nigéria, país atingido regularmente por conflitos religiosos. Os confrontos ocorreram na sexta-feira na localidade de Wukari, a 200 quilômetros de Jalingo, capital do estado de Taraba. Os participantes do cortejo fúnebre de um líder da etnia Jukun, de maioria cristã, atravessaram um bairro muçulmano aos gritos, em um ato considerado ofensivo pelos moradores locais, explicaram testemunhas. “Até o momento, registramos 39 mortos e 30 pessoas gravemente feridas”, declarou um porta-voz da polícia, Joseph Kwaji. De acordo com testemunhas, o número de vítimas pode ser ainda maior. Segundo ele, 40 suspeitos foram detidos. O estado de Taraba é parte do volátil “cinturão médio nigeriano, onde o Sul majoritariamente cristão e o Norte de maioria muçulmana se encontram. Essa área testemunha atos violentos frequentes entre comunidades seminômades pecuaristas, como os fulanis, e povos agricultores assentados, como o jukuns, na disputa de terras. O fato de que os fulanis tendem a ser muçulmanos e outras etnias, incluindo os jukuns, são em grande parte cristãs às vezes dá uma dimensão religiosa ao conflito no “cinturão médio”.
INVESTIGAÇÃO
Neste contexto de violência crescente, a organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) pediu a abertura de uma investigação do Tribunal Penal Internacional sobre o massacre de Baga. A HRW divulgou imagens de satélite da destruição em massa na região, suspeitando da intenção do Exército nigeriano de tentar mascarar a extensão dos abusos que cometeu. A ONG, que acusa o Exército nigeriano de crimes contra a humanidade em sua repressão contra a insurgência lançada em 2009 pelo Boko Haram, declarou que “os eventos de Baga devem ser adicionados ao inquérito preliminar do procurador” do Tribunal Penal Internacional lançado em 2010.
O Exército nigeriano reconheceu a morte de 37 pessoas, enquanto a Cruz Vermelha indicou um registro de 187 mortos e um senador da região indicou que 228 pessoas perderam a vida. O Exército nega as acusações da HRW. A organização estima em 3,6 mil o número de pessoas mortas pelo Boko Haram e pelas forças de segurança desde 2009. No início da semana passada, o presidente nigeriano, Goodluck Jonathan, declarou que seu país atravessa atualmente um “período difícil” em termos de segurança. A Nigéria é a maior produtora de petróleo da África e o país mais populoso do continente, com estimados 170 milhões de habitantes. A maioria vive em áreas rurais pobres e dispõe de poucos meios formais para arbitrar suas disputas.