Jornal Estado de Minas

Venezuela

Violência pós-eleição mata sete e fere 61

Manifestações pró e contra o governo ocorreram em vários estados. Presidente acusa os EUA de promover tumultos

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- Foto: LEO RAMIREZ / AFP
Caracas
– A procuradora-geral da Venezuela, Luisa Ortega Díaz, informou que pelo menos sete pessoas morreram e 61 ficaram feridas como resultado dos protestos e ações violentas de partidários da oposição que contestam a vitória do candidato chavista Nicolás Maduro nas eleições presidenciais de domingo. De acordo com a TV estatal, o ministro de Comunicação venezuelano, Ernesto Villegas, responsabilizou o candidato derrotado, Henrique Capriles, “pelos danos que sucederam (às eleições) e por qualquer outro cenário de violência que possa ocorrer no país”. As autoridades prenderam 135 pessoas.

Apesar da violência, grupos de opositores e simpatizantes do governo continuaram algumas manifestações. Atendendo à convocação de Maduro, grupos de chavistas vestidos de vermelho protestavam em defesa do sucessor de Chávez nos estados de Zulia, Monagas, Anzoáteqgui, Carabobo e Apure, segundo imagens do canal oficial VTV. Enquanto isso, opositores começavam a se reunir em setores dos estados de Barquisimeto (Leste) e de Maracaibo (Oeste) para exigir a recontagem de votos, de acordo com informações de líderes opositores locais.
Mais tarde, porém, o presidente eleito da Venezuela, Nicolás Maduro, acusou a Embaixada dos Estados Unidos em Caracas de financiar os protestos e os atos de violência pós-eleitoral. "Isto é responsabilidade daqueles que têm incitado a violência, daqueles que desrespeitam a Constituição e as instituições", disse Maduro em um ato público transmitido pela televisão. "O plano deles é um golpe de Estado", declarou. "A embaixada financiou e dirigiu todos os atos de violência", declarou Maduro, chamando os grupos opositores de neonazistas e dizendo que vai apresentar provas para sustentar sua acusação.

Não é a primeira vez que o governo da Venezuela acusa os Estados Unidos de estar por trás de ações para causar turbulência política na Venezuela. Recentemente, o site Wikileaks divulgou comunicados do embaixador americano em Caracas em que descrevia planos para derrotar o chavismo e fortalecer a oposição em 2004. Já foi provado também o envolvimento do governo americano no apoio à tentativa de golpe de Estado contra o então presidente Hugo Chávez em 2002.

Pouco antes da acusação de Maduro, o governo dos Estados Unidos alegou não estar "em condições" de parabenizar o candidato governista por sua vitória nas eleições e qualificou como "difícil de explicar" a decisão do CNE de proclamá-lo vencedor sem a realização de uma recontagem dos votos. Washington é uma das poucas capitais do mundo que ainda não emitiram mensagem de felicitação a Maduro pela vitória.

Na noite de segunda-feira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que reconhece Nicolás Maduro como o vencedor da eleição presidencial da Venezuela e opinou que os EUA não deveriam interferir nesse processo. "Os norte-americanos deveriam cuidar um pouco mais de suas próprias questões e nos deixar decidir nosso próprio destino", declarou Lula em Belo Horizonte.

A tensão aumentou depois que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) proclamou Nicolás Maduro, herdeiro político de Hugo Chávez, vencedor das eleições de domingo por uma margem de 1,77 ponto percentual sobre o segundo colocado, o opositor Henrique Capriles. A estreita margem levou Capriles a dizer que só reconhecerá a derrota nas urnas se houver uma recontagem voto a voto. A legislação eleitoral venezuelana, no entanto, não contempla a recontagem de votos.

Capriles chegou a convocar para hoje uma passeata para que seus correligionários exijam do CNE que os votos sejam recontados, mas cancelou a marcha no fim da tarde. "Não vamos nos mobilizar", disse em uma coletiva de imprensa depois de insistir que o governo está por trás dos atos de violência que afetaram alguns lugares do país. "Amanhã, aquele que sair estará do lado da violência, estará fazendo o jogo do governo. O governo quer que ver mortos no país." Capriles pediu que, ao invés da passeata de amanhã, sejam feitos novos "panelaços" no resto da semana. O líder opositor disse que o governo quer desviar a atenção "do que é importante" com os atos de violência.

Horas antes, Maduro advertiu que o governo não permitiria a realização do protesto. "A passeata não será permitida", declarou Maduro. "Com a mão dura, vou fazer frente ao fascismo, à intolerância. Se querem me derrubar, estou aqui. Venham me pegar", desafiou Maduro.