Com um alcance médio de 3 mil quilômetros, o Musudan – um míssil de fabricação própria e capaz de transportar uma ogiva nuclear – e componentes foram levados de trem, ontem, até a costa leste da Coreia do Norte. Em tese, o artefato poderia atingir a Coreia do Sul, o Japão e, possivelmente, a Ilha de Guam, pertencente aos Estados Unidos. Fontes de inteligência sul-coreanas e norte-americanas, consultadas pela agência de notícias Reuters, confirmaram a manobra, que ameaça agravar a já delicada situação no Leste da Ásia. "Pode ser destinado a realizar testes de disparos ou treinamentos militares", declarou o ministro da Defesa sul-coreano, Kim Kwan-Jin, ante parlamentares. Nas últimas horas, aumentaram as suspeitas de que Pyongyang estaria preparando o lançamento de um míssil balístico nos próximos dias ou semanas. Não está claro, no entanto, se o armamento em questão seria o Musudan. Citando autoridades de Washington e de Seul, a agência de notícias Yonhap, da Coreia do Sul, indicou 15 de abril como a data provável, a fim de coincidir com o aniversário de Kim Il-sung, avô do ditador Kim Jong-un e fundador da Coreia do Norte. Como medida preventiva, os EUA moveram um sistema de defesa antimísseis THAAD para Guam, que serve de base para 4,3 mil soldados norte-americanos. O país comunista ainda ameaçou retirar todos os seus 53 mil operários das fábricas
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Apesar da forte retórica belicista do Norte – o regime de Kim Jong-un chegou a autorizar um ataque nuclear contra os EUA –, moradores da Coreia do Sul procuram manter a calma ante o possível risco de uma guerra. "Estamos com um pouco de medo, mas a vida segue normalmente", afirmou por meio da internet o estudante Anwoo Choi, de 26 anos, morador de Seul. "Se um confronto acontecer, eu defenderei meu país." Ele acredita que a pressão dos Estados Unidos e da ONU impede que Kim lance um míssil com ogiva atômica.
Professor de uma escola pública no bairro de Gangnam, em Seul, casado com uma sul-coreana, o norte-americano Wesley Swan acusou os EUA de desejarem controlar a Coreia do Norte. "Pyongyang quer um tratado de paz formal com os americanos, mas não é correspondido", explica à reportagem, também pela internet. Na opinião dele, a China tem duas opções: substituir Kim Jong-un por um dos irmãos e, então, assinar um tratado de paz com o Sul; ou tentar pôr panos quentes na crise. "Se houvesse um confronto, ele terminaria muito rapidamente e significaria o fim da Coreia do Norte", afirma o também professor de inglês Barry White, 29 anos, morador de Suwon, a 31km de Seul. Ele vê uma jogada do ditador norte-coreano para tentar consolidar-se no poder e igualar-se às figuras do pai, Kim Jong-il, e do avô Kim Il-sung.