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NOSTALGIA O vaticanista da Universidade da Virgínia compara a divisão ideológica na Igreja às divergências políticas na sociedade secular. Alguns jovens vislumbram o retorno a um passado que jamais existiu, enquanto clérigos mais experientes contemplam a estabilidade anterior ao Concílio Vaticano II e têm dificuldades em aceitar mudanças. "No outro lado desse embate estão aqueles que consideram a Igreja uma associação humana, que deveria se adaptar a cada aspecto do mundo contemporâneo, sem reconhecer a dimensão sobrenatural", sustenta Fogarty. O choque entre reformistas e conservadores polariza forças dentro dos 440 mil metros quadrados que delimitam o Vaticano e expõe um dilema. "Os liberais têm que reconhecer a existência do sobrenatural e da revelação. Os conservadores precisam admitir que nem tudo no passado foi divinamente ordenado, mas muito foi produto da invenção do homem", acrescenta.
Para o monsenhor Robert J. Wister, professor de história da Igreja pela Seton Hall University (em Nova Jersey), Bento XVI foi incomodado por divisões entre católicos que desejam uma mudança radical nos ensinamentos da Igreja, especialmente em assuntos relacionados à moral, e aqueles que não pedem uma transformação, mas uma volta ao passado. Ele concorda que a disputa entre os conservadores e os liberais é assunto recorrente nas igrejas europeias e norte-americanas. "Essa divisão sempre aparece na imprensa, que, com frequência, apela por mudanças na doutrina sobre o aborto, a contracepção e os direitos dos gays."
"Havia uma divisão interna entre os 12 apóstolos. Não é diferente o que ocorre dentro da Igreja de seus sucessores", explica o padre jesuíta norte-americano Joseph Fessio, que conhece Joseph Ratzinger como poucos. Em 1975, ele concluiu a tese de doutorado em teologia pela Universidade de Regensburg (Alemanha) sob a orientação do atual papa. "Bento XVI é um homem de paz e sempre vislumbrou a reconciliação", afirma. Há quem defenda que o cerne das rupturas na Igreja seja o Concílio Vaticano II. É o caso do monsenhor Charles Hilken, professor de história medieval e diretor do Instituto Bispo John S. Cummins para o Pensamento, a Cultura e a Ação Católica, sediado na Califórnia. "Parece haver duas compreensões diferentes do significado do Concílio Vaticano II. Uma delas o vê como o fim de um período de reforma iniciada no Concílio Vaticano I; a outra o considera o começo de uma nova era de construção de consenso com os fiéis e a continuação de um diálogo dinâmico com o mundo e seus problemas." Uma era defendida por Bento XVI como urgente e para o bem da Igreja.
Encontro polêmico
Convocado em 1961 pelo papa João XXIII, o Concílio Vaticano II foi realizado entre 1962 e 1965 com a participação de quase 2 mil bispos. O encontro serviu para discutir o papel da Igreja com o mundo moderno, a relação da instituição com outras religiões e a liturgia católica. Entre as decisões tomadas, por exemplo, estava o fim das missas em latim e celebradas de costas para os fiéis. Na quinta-feira passada, Bento XVI afirmou que a visão apresentada pela mídia fez com que os resultados do encontro fossem mal interpretados, reduzindo o trabalho a "lutas sobre poder político entre as várias correntes da Igreja". Para o papa, é preciso corrigir o que ele considera uma interpretação incorreta do concílio. Em sua opinião, o concílio significou uma ruptura com o passado, como defendem católicos liberais, mas uma renovação e o despertar para as melhores tradições da igreja antiga. Entender corretamente o Vaticano II seria a verdadeira renovação da Igreja.