Jornal Estado de Minas

Fiéis se despedem de Papa com vivas e aplausos

Agência Estado
Com uma longuíssima salva de aplausos, fiéis que, na quarta-feira, lotaram a Basílica de São Pedro despediram-se do papa Bento XVI. Em um dia de emoções fortes e tristeza, o Vaticano viveu mais um momento inédito na história recente: a celebração, pelo próprio pontífice, de sua despedida.
O papa alemão não levou à Praça São Pedro uma multidão de fiéis como a que compareceu ao Vaticano após a morte de João Paulo II, em 2005. Mas nem por isso despertou menos simpatia. Sua primeira aparição em público após o anúncio da renúncia ocorreu pela manhã, em uma audiência geral no Vaticano. Visivelmente aliviado e até ensaiando alguns sorrisos, Bento XVI foi ovacionado, ainda em um clima de festa.

O papa entrou no palco caminhando sem ajuda, falou em seis idiomas durante horas, aplaudiu as músicas e acenou ao público, reforçando a impressão, para muitos, de que sua fragilidade - usada para justificar sua decisão - é, sobretudo, política.

Entre as pessoas presentes, não faltaram gritos de “Viva o papa” clima de festa e até fanfarras vindas da Baviera - região na Alemanha onde Joseph Ratzinger nasceu - vestidas a caráter.

No final do dia, na Basílica de São Pedro, Bento XVI ainda realizou sua última missa, a de quarta-feira de cinzas. Transportado em uma plataforma, o pontífice já não disfarçava seu cansaço e o tom da despedida foi dos mais sóbrios. Mas a Basílica foi tomada por um longo e espontâneo aplauso do público que se levantou. Em um gesto pouco comum, os bispos chegaram a tirar a mitra em respeito. Vários deles não contiveram o choro.

O coro e auxiliares do pontífice também não escondiam a emoção. Poucos papas, ao longo dos 2 mil anos da Igreja, realizaram uma missa em São Pedro sabendo que seria a última de seu reinado. Não por acaso, o clima de despedida na Basílica impressionava até cardeais. “Foi uma experiência que nunca mais esquecerei”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo d. João Aviz, cardeal brasileiro e prefeito da Congregação para os Institutos da Vida Consagrada e Sociedade de Vida Apostólica do Vaticano.

O cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado do Vaticano, homenageou o papa Bento XVI no fim da missa celebrada ontem dizendo que seu pontificado foi “uma janela aberta” para a Igreja e para o mundo.

Manto de tristeza


“Não seríamos sinceros se não disséssemos que há um manto de tristeza em nosso coração”, lamentou o número 2 do Vaticano. De acordo com o cardeal italiano, Bento XVI ensinou aos bispos que a Igreja se renova sempre. “(Devemos) servir à Igreja com a firme consciência de que ela não é nossa, mas de Deus, e não somos nós que a construímos, mas é ele.” Bertone é visto por muitos como principal alvo dos recentes vazamentos de documentos sigilosos da Santa Sé (conhecidos como VatiLeaks) e fonte de discórdia na Cúria Romana.

Entretanto, em julho de 2012, o papa Bento XVI manifestou publicamente sua confiança no secretário de Estado, afirmando que ele vinha recebendo críticas injustas. Do lado do público, a emoção não foi menor. John Harris, um americano de 25 anos que estava viajando pela Europa, decidiu ir até Roma quando, na segunda-feira (11), escutou que o papa havia renunciado. Na quarta-feira (13), passou quatro horas na fila para conseguir um “lugar na primeira fila”.

“Eu queria me despedir do papa”, disse. “Ele deu um golpe em muita gente aqui com o que fez”, declarou. “Participei de um momento histórico”, dizia com lágrimas nos olhos a irlandesa Cathy, após a missa.