Cesário Melantonio Neto: Não é uma função nova. No passado, foi desempenhada pelo embaixador Afonso de Ouro Preto. Como conheço bem a região, por ter sido embaixador no Irã, na Turquia e agora no Egito, são dez anos convivendo com a cultura e o mundo árabe, fui designado para essa função. A posição do Brasil é historicamente a não intervencionista. Defendemos o diálogo e a busca pacífica pelas soluções de impasses.
Antes da captura e morte do ex-presidente líbio Muammar Khadafi, o senhor foi até a Líbia negociar com os integrantes do Conselho Nacional de Transição (CNT). O que se diz em um momento de tanta tensão e disputa?
Melantonio Neto: Em todas as conversas que tenho, seja aqui , com as autoridades da Liga Árabe, ou na Líbia, costumo lembrar que todos os processos revolucionários são lentos e passam por um momento de transição. No Brasil mesmo passamos por uma longa fase desde o fim do autoritarismo até a redemocratização. Mas acredito, sinceramente, que ainda levará muito tempo para esses processos todos serem concluídos.
Parece tão distante, o Brasil, na América do Sul, participar das negociações de paz na região. Por que o tema é tão caro ao Brasil?
Melantonio Neto: O Brasil integra o grupo denominado Aspa cujo objetivo principal é a integração dessas áreas. . Em setembro de 2012, a Aspa se reunirá em Lima, no Peru. Nos preocupamos com as dificuldades de todos os países-membros e, nesse caso, a distância não deve ser observada como uma dificuldade.
Observando do Ocidente, a impressão que se tem é que a situação crítica se concentra na Síria. Mas isso é real?
Melantonio Neto: Não. Há vários pontos de tensão em todo o universo chamado de mundo árabe. Os movimentos de reação popular são intensos não só na Síria, como também na Arábia Saudita, na Turquia, no Irã e outros. Estou permanentemente em conversa com a Liga Árabe para saber como estão as negociações. O Brasil apoia o trabalho da Liga Árabe e coloca-se à sua disposição.
O senhor disse que prevê ainda um longo período até encerrar essa tensão toda...
Melantonio Neto: Sim. Os processos revolucionários ao longo da história já se mostraram lentos e graduais. No caso do Ocidente, o melhor exemplo disso é a Revolução Francesa . Por isso, quando me perguntam se esses movimentos continuarão, respondo sempre: 'ainda vai levar muito tempo'.