Além disso, declara estes crimes como "de lesa-humanidade, em conformidade com os tratados internacionais" e afirma que "não se computará prazo algum, processual, de prescrição ou de caducidade" para seu julgamento.
"Se estes casos prescreverem, será paradoxal e talvez um deboche em relação aos familiares, que em tempos de ditadura obviamente não podiam pleitear nem pedir justiça, e que quando se abre a democracia, se decreta a Lei de Caducidade ou de impunidade", disse nesta terça-feira o senador oficialista Rafael Michelini, membro informante do projeto.
A Lei de Caducidade foi aprovada em 1986, quando a Justiça começava a citar os militares por violações aos direitos humanos cometidos durante a ditadura, e um ano e meio depois foi aprovada outra norma que anistiou os presos e perseguidos políticos.
O Poder Executivo, que segundo a Lei de Caducidade devia autorizar quais casos de violações aos direitos humanos podiam ser julgados, não o fez durante os 20 anos nos quais foi controlado pelos partidos tradicionais Colorado e Nacional.
Em março deste ano, a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) ordenou que o Uruguai investigasse e julgasse os crimes da ditadura, mas dois meses mais tarde uma tentativa do governista Frente Ampla (FA) para suprimir a Lei de Caducidade fracassou no Parlamento pela desobediência de um de seus deputados.
Desde então, o presidente uruguaio, o ex-guerrilheiro José Mujica, revogou mais de 80 atos administrativos de outros governos que tinham impedido as investigações.
Questionamentos e denúncias
A aprovação do projeto estaria assegurada, já que atualmente todos os legisladores do FA, no poder desde 2005 e com maioria em ambas as câmaras, anunciaram que darão suporte à iniciativa. Os três partidos de oposição, no entanto, rejeitaram o projeto, afirmando que este não vai ao encontro da vontade da população, que em duas consultas populares (em 1989 e 2009) não aprovou a anulação da Lei de Caducidade.
"Estamos aqui para defender a Constituição e a lei. Não estamos aqui para ter os olhos na nuca", disse o senador Francisco Gallinal, do Partido Nacional. "A Lei de Caducidade, como a da Anistia, são leis injustas; mas são leis necessárias para superar circunstâncias", considerou.
A ditadura deixou 38 desaparecidos no Uruguai, segundo a Comissão para a Paz que funcionou entre 2000 e 2003 para investigar o destino dos desaparecidos. Na Argentina, foram denunciados outros 182 desaparecimentos de uruguaios, no Chile, oito, no Paraguai, dois, e no Brasil, um. Militares afastados, no entanto, anunciaram ações judiciais contra ex-membros de grupos armados da década de 1960 e 1970.
"Estamos em igualdade de condições para realizar denúncias contra as pessoas que cometeram crimes e não foram julgadas nem processadas, nem cumpriram nenhum dia de prisão", disse à AFP o presidente do Centro Militar, coronel Guillermo Cedrez. Cedrez disse que se basearão na sentença da CIDH e no Pacto de San José de Costa Rica, que sustentam que "não se deve conceder nenhum tipo de anistia".