Jornal Estado de Minas

Patrimônio histórico

Conservação de obra de Aleijadinho sob análise

Equipamentos tecnológicos de última geração contrastam, na paisagem barroca de Ouro Preto, na Região Central de Minas, com o esplendor da Igreja São Francisco de Assis da Penitência, no Centro Histórico da cidade reconhecida como Patrimônio da Humanidade. Sobre andaimes de quase 15 metros, instalados na fachada, equipe de especialistas de diversos segmentos executa um diagnóstico da portada (ornamento da porta principal, em pedra-sabão) do templo, com projeto arquitetônico de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730-1814), e pinturas internas de Manuel da Costa Ataíde (1762-1830). Em 2011, o monumento foi considerado uma das sete maravilhas de origem portuguesa no mundo.





“Nosso objetivo é avaliar o estado de conservação da portada feita por Aleijadinho, a qual foi alvo de um diagnóstico, em 1992, pela extinta Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (Cetec), em parceria com profissionais da Alemanha. Naquela época, não havia equipamentos tão avançados como hoje, por isso é importante este trabalho”, informa o professor Luiz Souza, vice-diretor do Centro de Conservação e Restauração de Bens Móveis da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (Cecor/EBA/UFMG). Em 2004, foi realizado um outro diagnóstico.

A partir da pesquisa, que utiliza equipamentos sofisticados, a exemplo do espectrômetro de raio X, aparelho para imageamento em infravermelho e drones, os especialistas querem verificar se houve, com o passar das décadas, algum tipo de dano à obra de Aleijadinho, incluindo mudança de cor, deterioração e outros fatores de risco.

“Em caso afirmativo, vamos informar às autoridades do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), da Igreja, no caso a Arquidiocese de Mariana, e da Prefeitura de Ouro Preto, para que sejam tomadas medidas efetivas, pois se trata de um bem de extrema importância. Nossa parceria é fundamental”, afirma Luiz Souza.





Instituições diversas 
O Projeto “Protocolos de gestão de riscos ao patrimônio cultural: documentação científica e monitoramento utilizando Mapas de Danos por BIM (em inglês, Building Information Modeling ou Modelagem de Informações de Edificações)”, com financiamento de CNPq e Fapemig, reúne especialistas de distintas áreas e várias instituições, como a UFMG, Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG, de Ouro Preto), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Mackenzie, de São Paulo, Fundação de Arte de Ouro Preto (Faop), vinculada à Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult), e Associação Brasileira de Ensaios Não Destrutivos e Inspeção (Abendi).

Nesta etapa de trabalho de campo, há o apoio da Igreja, prefeitura e do Escritório Técnico do IPHAN de Ouro Preto. A equipe montou um andaime de quase 15 metros de altura, onde especialistas treinados estão fazendo registro de medição com equipamentos de ponta na fachada de um dos bens mais importantes do Brasil.

Ao término do trabalho, os especialistas deverão fazer um comparativo com os diagnósticos feitos há 20 e 30 anos. “Como resultado, esperamos gerar uma avaliação detalhada que possa, futuramente, contribuir com outros trabalhos e com a própria restauração desse monumento”, diz Luiz Souza, ressaltando a importância da ciência e da tecnologia no estudo e preservação de bens culturais, que “no Brasil ainda têm um longo percurso”.





Sete maravilhas de origem portuguesa
Localizada no Largo do Coimbra, a Igreja São Francisco de Assis da Penitência recebeu oficialmente a certificação como uma das sete maravilhas de origem portuguesa no mundo, em 21 de maio de 2011. No Brasil, destaque semelhante só para o Convento de São Francisco e da Ordem Terceira, de Salvador (BA), sendo os demais monumentos as ruínas da Igreja de São Paulo, em Macau, na China; a Fortaleza de Diu, na Índia; a Basílica do Bom Jesus, em Goa, na Índia; a Cidade Velha de Santiago, em Cabo Verde; e a Fortaleza de Mazagão, no Marrocos. A certificação foi realizada por votação na internet, em 2009.

Bem cultural tombado pelo Iphan, a igreja fica na área reconhecida como patrimônio da humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Começou a ser erguida em 1766, com projeto arquitetônico de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, responsável também pelo risco da portada, púlpitos, retábulo-mor, lavabo e teto da capela-mor. Para completar a suntuosidade e a riqueza do conjunto arquitetônico, as pinturas ficaram sob responsabilidade de mestre Ataíde, considerado, ao lado do próprio Aleijadinho, grande expoente da arte colonial brasileira.
 
Da equipe do Projeto Protocolos de Gestão de Riscos do CNPq, coordenada pela professora do Cecor/EBA/UFMG, Yacy Ara Froner, fazem parte também o arquiteto-conservador Willi de Barros, da UFMG, Ana Cuperschmid, da Unicamp, Paola Villas Bôas, do IFMG-OP, e Guilherme Michelin, da Universidade Makenzie.