Sensação de aconchego, acolhimento e proteção. Sentimentos que os moradores do Padre Eustáquio encontram no bairro onde escolheram viver. E, por isso, decidiram comemorar o aniversário de 72 anos dele, com direito a bolo e música ao vivo, em plena rua Progresso, num domingo diferente, de festa.
Um dos bairros mais tradiconais de Belo Horizonte, na região Noroeste da capital, o Padre Eustáquio é sinônimo de família, amigos e fé. Fernando Alfredo Costa, de 69 anos, vive no bairro há quase sete décadas. E a mulher dele, a capixaba Antonina Matos dos Santos Costa, de 70, também se encantou com o lugar, quando se mundou para BH para estudar na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e conheceu o futuro marido. Construíram a família e a vida no bairro.
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Dezoito bairros de Belo Horizonte estão sem água neste domingoGanhador da Mega-Sena inspira suspeitas e sonhos em Pedro LeopoldoVídeo mostra confusão em festival de música no MineirãoÀ espera de um milagre: fé e preces pela canonização de Padre EustáquioA trajetória que fez Padre Eustáquio atrair romeiros de várias cidades a BHEstado de Minas viaja com peregrinos para cidade natal de Padre Eustáquio"Nasci, cresci, estudei e me casei no bairro. Casamos na igreja Padre Eustáquio em 1978, tivemos cinco filhos; já são seis netos, e todos ainda moram ou sempre estão por aqui. Além de irmãos e irmãs, moramos perto uns dos outros", se orgulha Fernando.
Fernando e Antonina participam da vida do bairro, fazem parte da Pastoral Familiar da igreja Padre Eustáquio, e um dos filhos, não só mora, como tem até uma choperia por lá: "Não dá para traduzir, falar o que sinto pelo bairro. Minha família, meus amigos estão todos aqui. Minha irmã mais velha, a Maria do Socorro, foi batizada pelo Padre Eustáquio em 1943, meses antes de ele morrer. Enfim, minha identidade, minhas raízes estão fincadas no bairro, que vi crescer, as mudanças, as casas dando lugar a prédios, novas ruas."
A ligação de Fernando é tanta que ele revela que se casou e mudou de casa, mas hoje voltou a morar no local onde nasceu, literalmente: "Antigamente, o parto era feito em casa, pelas parteiras. Assim cheguei ao mundo, em minha casa e no Padre Eustáquio. Uma casa especial, de 600 m², com um pé de manga centenário, de ameixa, enfim, meu lugar".
Uma soteropolitana no bairro Padre Eustáquio
E não é só mineiro ou belo-horizontino que se apaixona pelo bairro Padre Eustáquio. Marileuza Mendes, de 78 anos, mas que "parece ter 35 anos", como ela faz questão de enfatizar soltando um largo sorriso, nasceu em Salvador e morou no Rio de Janeiro, onde conheceu o marido mineiro, de Ouro Preto, onde morou até se mudar para BH e o bairro do coração: "Tenho 46 anos de Padre Eustáquio e amo o bairro. Meu marido morreu há 21 anos, num acidente; tivemos três filhos, Wallace, Wellington e Cynthia. Um flho vive no bairro, com meu netos, e minha filha se aposentou e, agora, voltou a morar comigo. Uma festa, todos por perto."
Feliz e sorridente, Marileuza conta que mora há poucos quarteirões da famosa rua Padre Eustáquio, a principal do bairro: "Ela me serve em tudo, da igreja a lojas, supermercado, bancos, boutiques. Tudo o que eu precisar. Quanto a segurança do bairro, lugar nenhum é seguro, e sempre pode melhorar. Mas minha vizinhança é espetacular, pessoas amigas, maravilhosas, que se ajudam e até viajamos juntos. Só posso dizer, de novo, que amo o Padre Eustáquio".
Marileuza não sabe dizer ou não revela o segredo do Padre Eustáquio, sabe que foi conquistada eternamente: "Sou de Salvador, soteropolitana, mas agora já falo 'uai'. Fui conquistada por um mineiro de Ouro Preto, no Rio da Janeiro, e nosso lugar se tornou o bairro Padre Eustáquio, onde fomos felizes. E sabe de uma coisa? Quem sai do bairro, acaba voltando".
História do bairro Padre Eustáquio
Para gostar e criar identidade, é preciso conhecer. Em abril de 1951, o então prefeito de BH, Américo Renê Giannetti, sancionou a lei que alterou o nome da Vila Bela Vista, fundada por operários, para Vila Padre Eustáquio. A mudança homenageou a memória do hoje beato Padre Eustáquio, holandês que morou na região de 1942 a 1943, quando faleceu, vítima de picada de carrapato (febre maculosa).
À época, a Vila Padre Eustáquio era uma região afastada do centro de BH. A principal via era a Estrada para Contagem, atual rua Padre Eustáquio, aberta por tropeiros e de terra batida, o que explica o traçado sinuoso e estreito se comprada a outras vias da cidade que recebem fluxo semelhante de veículos.
O desenvolvimento começou com a chegada dos bondes (um exemplar está no Museu Abílio Barreto), a abertura da Pedro II e a da Tereza Cristina. A população aumentou bastante a ponto de rua Padre Eustáquio ter tido quatro cinemas.
Sete décadas depois, o bairro Padre Eustáquio é residência de aproximadamente 30 mil pessoas, conforme o último Censo do IBGE (2010). Levando-se em conta a população flutuante (trabalhadores, estudantes e mesmo quem esteja apenas de passagem), a população alcança cerca de 100 mil pessoas por dia.
'Padreustaquiano'
Outra particularidade do bairro é que muitos moradores antigos, que nasceram em casa no Padre Eustáquio, têm orgulho em dizer que, assim como são belo-horizontinos, também são padreustaquianos.
Já outros têm orgulho em acrescentar que o bairro, por ser muito hospitaleiro, é uma roça dentro da metrópole.