Jornal Estado de Minas

ACIDENTE

'Bebida alcoólica é droga': revolta marca enterro de ciclista atropelado

O corpo do ciclista Eduardo Lobato, de 41 anos, foi velado na tarde deste domingo (2/4), no Parque Renascer, em Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte. O sepultamento reuniu centenas de familiares e colegas de esporte que, nesse momento de dor, revolta e desespero, pedem por justiça pelo amigo, que foi atropelado por um motorista com sinais de embriaguez na BR-040, em Nova Lima, na manhã de sábado (1º/4).





Em meio ao luto, o amigo de longa data e também ciclista, Ricardo Alcici Matos, reforça que mesmo com acidentes sendo, infelizmente, rotina para os atletas, o momento não é fácil. “Infelizmente são dois opostos que conflitam, onde o mais forte que é o embriagado, em um carro grande, ceifa a vida dos mais fracos, que estão buscando saúde e são frágeis”, comenta Ricardo

Alcici é ciclista há 22 anos e bicampeão brasileiro de ciclismo de estrada (2010-2012), pela experiência ele conta que o sentimento é de impotência, pois não há nada a fazer em termos de manifestações, que para ele nunca funcionam. “A única solução são punições realmente severas para, ao menos, inibir o crime. É mudar a lei e colocar como crime hediondo, com prisão de verdade”, disse.

Hoje com 42 anos, Matos se aposentou do pedal profissional e é consultor e treinador esportivo, realizando treinos em grupo e individuais. Em entrevista ao Estado de Minas, ele também deixou seu repúdio ao que chamou de “cultura da cerveja”, e destacou que é “bebendo socialmente” que acidentes deixam pessoas mortas, como aconteceu com o amigo Edu Lobato.

“Bebida alcoólica é droga, a expressão “cervejinha” não tem nada a ver. Infelizmente é do beber socialmente que acontece o que aconteceu ontem”, disse.

Acidentes mudam a perspectiva

Com anos de experiência no pedal e medalhas no peito, Ricardo Alcici também já se envolveu em dois acidentes graves ao longo de sua carreira, ambos na orla da lagoa da Pampulha, local muito frequentado por ciclistas e carros. 





Em 2020, Ricardo saiu para treinar às 5 horas da manhã, quando sofreu uma colisão frontal com um veículo que vinha na contramão realizando uma ultrapassagem na orla. Entre as várias lesões, ele teve fraturas no joelho, tórax, clavícula e maxilar, além de uma contusão no pulmão, precisando passar por cirurgia.

Nove meses depois, em julho de 2021, Alcici também foi atropelado por um motorista embriagado que dormiu ao volante. Na ocasião, ele teve um machucado na canela e quebrou o quadril. 

“Desde o primeiro acidente eu comecei a usar alguns acessórios de segurança, como um farol na frente e uma espécie de farolete piscando atrás, acho que teria evitado o primeiro. O segundo, infelizmente, é uma coisa que todo domingo de manhã a gente tem medo”, afirmou.

Em sua assessoria esportiva, Ricardo treina com grupos grandes de ciclistas, entre 20 e 30 alunos. Para aumentar a segurança dos atletas, ele conta com carro de apoio fazendo um tipo de “escolta”, “mas infelizmente nem todo mundo consegue ter isso”, completou.
 
Ele ressalta a necessidade das autoridades competentes de investir em campanhas de conscientização para evitar acidentes com motoristas embriagados.