Jornal Estado de Minas

PATRIMÔNIO

Sem restauração, igreja do século 18 agoniza

A parte de dentro da Igreja São Bartolomeu (foto: SÉRGIO MURILO DE OLIVEIRA/ADECOSB/DIVULGAÇÃO)

Os moradores do histórico distrito de São Bartolomeu, em Ouro Preto, na Região Central de Minas, veem chegar mais um fim de ano sem as esperadas obras de restauração da matriz dedicada ao padroeiro local. Interditado há quase quatro anos, o templo do século 18 está coberto por uma lona, o que o protege da chuva, mas não resolve seus graves problemas. “Outro Natal sem nossa igreja aberta”, lamenta Sérgio Murilo de Oliveira, presidente da Associação de Desenvolvimento Comunitário de São Bartolomeu (Adecosb).





“Igreja fechada, sem uso e com lona por cima resulta em quê? Mofo, né? E, mais adiante, a destruição”, Sérgio pergunta e responde, com preocupação. Numa manhã chuvosa deste mês, ele fez fotos da Igreja São Bartolomeu e disse que, com o passar do tempo, a lona pode furar, vazar, e, consequentemente, causar infiltrações. “Todas as imagens sacras já foram retiradas por questão de segurança. Estamos participando das missas em outra igreja”, explicou.

Tombado em 1960 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e interditado desde fevereiro de 2019 devido a riscos à segurança, o monumento barroco foi coberto com a lona branca pela prefeitura, e já tem prontas, segundo o presidente da associação, as planilhas de custo. “A Prefeitura de Ouro Preto vem fazendo sua parte, tem nos apoiado muito. Precisamos, agora, é de uma decisão do Iphan”, afirma Sérgio.
 
(foto: SÉRGIO MURILO DE OLIVEIRA/ADECOSB/DIVULGAÇÃO)
 

MOBILIZAÇÃO

Em 23 de abril, durante o Festival Cultural da Goiabada de São Bartolomeu, os moradores fizeram uma manifestação diante do templo para cobrar das autoridades federais a urgência da obra. Usando camisas feitas especialmente para a ocasião, com palavra Socorro, os defensores do patrimônio pediram providências à direção do Iphan, vinculado à Secretaria Especial de Cultura/Ministério do Turismo, para a busca de recursos e posterior intervenção. Conforme os estudos, a obra está estimada em R$ 6,5 milhões.





Em nota, o escritório técnico do Iphan em Ouro Preto informa que vem acompanhando, constantemente, a evolução dos fatores de degradação da Igreja Matriz de São Bartolomeu. “Por esse motivo, a restauração do bem foi incluída no Programa de Preservação do Patrimônio Cultural Brasileiro, Ação de nº 220, consórcio firmado entre o Iphan e a Prefeitura Municipal de Ouro Preto, o que prevê a restauração integral do monumento, sanando definitivamente todos os danos identificados.”

A nota do escritório técnico esclarece que considera “imperiosa” a realização de obras emergenciais para garantir a estabilidade do bem, abrangendo ações criteriosas e sistemáticas de conservação e restauração. Assim, numa iniciativa conjunta com o professor Carlos Magno de Souza Paiva, do Núcleo de Pesquisa em Direito do Patrimônio Cultural da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e presidente do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural e Natural de Ouro Preto (Compatri) e representantes da Cúria Metropolitana da Arquidiocese de Mariana, o Iphan, a partir de meados de 2022, vem buscando inserir essa obra emergencial na Plataforma Semente, do Ministério Público de Minas Gerais.

O escritório do Iphan informa também na nota que numa reunião do Conselho do Fundo de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural de Ouro Preto, em 16 de setembro, foi aprovada a destinação de R$ 200 mil para a contratação de serviços emergenciais de fixacão da policromia do forro da nave, a serem contratados pela prefeitura. O órgão considera esse serviço necessário e primordial para que se possa proceder ao restante dos serviços emergenciais. Na mesma reunião, ficou acordada a destinação de R$ 75 mil reais, valor orçado pela Fundação de Arte de Ouro Preto (Faop), para contratação do projeto de restauração dos elementos artísticos.





HISTÓRIA

Nascido no fim do século 17, tendo como destaque a Matriz São Bartolomeu (início do 18) dedicada ao padroeiro e o casario antigo, São Bartolomeu tem 730 habitantes, que se orgulham das águas do Rio das Velhas ainda limpas e transparentes e do patrimônio natural ao lado do leito.

A matriz não só representa um espaço sagrado para os moradores como atrativo turístico e local de reuniões da comunidade de maioria católica. Um dos símbolos importantes está no sino de madeira, que, conforme a tradição oral, teria, nos primórdios, um badalo de prata. No campanário, de onde se tem linda vista, uma placa indica que o sino de madeira foi restaurado em 1997.

No ano passado, São Bartolomeu foi indicado ao título de Melhores Vilas Turísticas do Mundo, cujo resultado foi divulgado em Madri, na Espanha, durante a 24ª Assembleia Geral da Organização Mundial do Turismo (OMT), agência especializada da Organização das Nações Unidas (ONU). O reconhecimento ficou com a Rota Enxaimel, em Pomerode (SC), mas, para os moradores, ter ficado entre os três melhores destinos brasileiros, juntamente com distrito de Alberto Moreira, em Barretos (SP), significou uma grande conquista.