Jornal Estado de Minas

PATROMÔNIO

Igreja do século 18 é reaberta em Ouro Preto

 

No dia em que os brasileiros reverenciam a memória de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814), patrono das artes no país, os moradores de Ouro Preto, na Região Central de Minas, participam da festa de reinauguração oficial do Santuário Matriz Nossa Senhora da Conceição, do século 18. A cerimônia, com a presença de autoridades federais, estaduais e municipais, começará às 10h.





 

Satisfeito com o resultado das obras, que demandaram mais de nove anos e contemplaram parte estrutural e elementos artísticos, o pároco e reitor do santuário, padre Edmar José da Silva, explica que as intervenções foram custeadas pelo governo federal e acompanhadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), com investimento de quase R$ 10 milhões. “É uma data feliz para a comunidade, pois celebramos o patrono das artes no Brasil e manifestamos nossa gratidão pelo término dos serviços.”

 

A superintendente do Iphan em Minas, Débora do Nascimento França, que estará presente à cerimônia, destaca a importância das obras, que foram da consolidação estrutural e restauração arquitetônica ao cuidadoso trabalho nos elementos artísticos. “O Iphan, responsável pelo tombamento da matriz em 1939, devolve à comunidade de Ouro Preto um serviço completo.”

 

No próximo dia 24, às 19h, Dia Nacional de Ação de Graças, será celebrada missa para marcar a reinauguração da igreja, onde estão sepultados Aleijadinho, falecido em 18 de novembro de 1814, e seu pai, o português Manuel Francisco Lisboa, autor do projeto arquitetônico do templo. “Escolhemos essa data porque significa agradecimento. Fazemos o convite a todos e pedimos para que tragam, no dia 24, alimentos não perecíveis para serem entregues aos necessitados”, acrescentou o pároco. As pessoas devem também levar mensagens positivas que serão distribuídas às vésperas do Natal, nas ruas. “Muitas pessoas precisam de uma força, de uma palavra de carinho”, explicou o padre.





Muita Alegria

Na voz da comunidade, está a alegria de festejar a reinauguração do bem cultural e espiritual da primeira cidade do país reconhecida como patrimônio mundial, em 1980.  Provedora da Irmandade Nossa Senhora da Conceição e atuante na comunidade de Antônio Dias, em Ouro Preto, Irene do Sacramento, de 80 anos, não contém a emoção. “Estamos tranquilos e aliviados, pois nossa igreja matriz ganhou vida nova, encontra-se livre das infiltrações, do barro que descia do telhado, pelas paredes, na época das chuvas, e dos cupins”.

 

Ao lado de Irene, o pároco afirma que “o restauro reforçou a segurança e ampliou a beleza”. Animada para comemorar seus 81 anos em 26 de dezembro, Irene conta que acompanhou a restauração em 1949 e outra, não tão completa, 30 anos depois. A atual, que começou em 19 de janeiro de 2013, ficou, na sua avaliação, uma “maravilha”.

 

A partir de agora, quando o Iphan dá por encerrados os serviços no local, os visitantes poderão ver o espetáculo que é o santuário, no qual, também hoje, ocorre o encerramento da tradicional Semana do Aleijadinho – o mestre do barroco está sepultado sob o altar de Nossa Senhora da Boa Morte. Faz bem aos sentidos o restauro que retirou camadas de tinta do forro e trouxe à luz o retábulo-mor, que abriga a imagem da padroeira, os oito altares laterais, os lustres, os oito painéis, a cimalha, a porta para-vento, na entrada, o arco-cruzeiro e a tarja sobre ele. Atento aos detalhes, padre Edmar mostra o forro do corredor em direção à sacristia, do qual foram retiradas sete camadas de tinta branca.





 

No melhor estilo “quem te viu, quem te vê”, a equipe do Estado de Minas documentou toda a obra externa, que recuperou, no início das intervenções, as cores originais da fachada (amarelo-ocre e branco) e interna. Nesse segundo caso, havia perda de suporte, o que traduz por madeiras, douramentos e policromia – como inimigos da joia barroca, estavam o ataque de cupins, as infiltrações e as repinturas, que fizeram estragos generalizados.

História

Vinculado à Arquidiocese de Mariana, o Santuário Nossa Senhora da Conceição, também chamado de Matriz Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias, foi erguido pelo grupo do bandeirante Antônio Dias no então arraial homônimo, como uma pequena capela devotada a Nossa Senhora da Conceição. Por volta de 1705, a ermida foi ampliada, reflexo do desenvolvimento local e da subsequente demanda pela constituição de uma paróquia própria. A freguesia de Antônio Dias, junto com a de Nossa Senhora do Pilar, passou a compor a recém-fundada Vila Rica, unificando, sob a mesma jurisdição política e administrativa, dois dos principais arraiais de Ouro Preto.

 

Em 1727, o templo começou a ser reconfigurado e ampliado por Manoel Francisco Lisboa, pai de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Nos anos seguintes, a igreja passou por diversas obras, intervenções e melhoramentos internos até a segunda metade do século 18. A Matriz Nossa Senhora da Conceição, tombada isoladamente pelo Iphan em 1939, foi sede de vários eventos históricos importantes, como a posse do governador Gomes Freire de Andrade, em 1735.





 

Também abriga os restos mortais de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814), patrono das artes no Brasil, sepultado sob o altar de Nossa Senhora da Boa Morte; e de seu pai, Manoel Francisco Lisboa, na capela-mor. Um dos mais importantes exemplares da arquitetura religiosa brasileira – tanto sob o contexto arquitetônico no panorama das matrizes mineiras setecentistas quanto na excepcionalidade da qualidade artística do seu acervo de bens integrados –, a edificação passou por duas etapas de serviços de conservação e restauração.

 

 

Memória
De volta aos altares

 

Referência para todo o país: paralelamente às obras de restauro do Santuário Matriz Nossa Senhora da Conceição, Ouro Preto deu um bom exemplo de conservação e preservação, mostrando que a comunidade é a melhor guardiã do seu patrimônio. Em 2021, o pároco e reitor Edmar José da Silva (foto), há quase três anos à frente da paróquia, criou a campanha de apadrinhamento de 23 imagens sacras do século 18 pertencentes à igreja. A adesão foi tão grande (mais de 200 famílias), que o sacerdote conseguiu os recursos bem antes do prazo programado. O trabalho foi acompanhado pelo EM desde maio de 2021.