Jornal Estado de Minas

FÓRUM LAFAYETTE

Testemunhas depõem em júri de delegado que matou motorista em BH

Nove pessoas foram ouvidas nesta quarta-feira (9/11) durante o primeiro dia de audiência do processo contra o delegado da Polícia Civil Rafael de Souza Horácio, acusado de matar o motorista de caminhão reboque Anderson Cândido de Melo, no dia 26 de julho, na avenida do Contorno, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, após uma discussão de trânsito. O júri está acontecendo no Fórum Lafayette, no centro da capital.





Durante o dia de hoje, foram ouvidas oito testemunhas de acusação e uma de defesa. Seis pessoas ainda devem testemunhar a favor do delegado. Conforme a assessoria de imprensa do Fórum, a previsão é que Rafael de Souza fale ainda amanhã. 

Familiares de Anderson estiveram na porta do Fórum, durante a audiência. Com faixas com pedidos de justiça e camisas estampando a foto do motorista, o clima entre os presentes era de indignação. “Meu marido não era bandido, não. Ele matou meu marido à toa”, disse Maria Regina de Jesus, de 50 anos, viúva da vítima. “Ele (Rafael) era para estar protegendo a gente, ele foi lá e matou um pai de família, é muita indignação isso”, continuou a esposa.

Além disso, um grupo de reboquistas realizou uma manifestação pedindo justiça por Anderson. O ato contou com cerca de 20 caminhões-reboque, que saíram do Viaduto São Francisco, na Pampulha, em direção ao Fórum Lafayette.





Kennedy Larson, de 28 anos, é motorista de guincho e era colega de trabalho de Anderson. Ele contou que a ideia da passeata surgiu de uma mobilização dos amigos e colegas de trabalho, que se indignaram com o caso. "O guincho é o seguinte, mexeu com um, mexeu com todos. Se tirarem um do nosso meio, nós vamos correr atrás de justiça. Ele estava sempre de bom humor, não tinha tempo ruim para ele. Tava sempre rindo, brincando, fazendo as palhaçadas dele", disse.

Relembre o caso

No dia do crime, o delegado Rafael de Souza Horácio, que estava em uma viatura descaracterizada juntamente com outro policial, alegou que Anderson o “fechou” com seu caminhão por duas vezes, causando perigo para quem trafegava na via e que, posteriormente, teria jogado o veículo na direção do delegado, que havia descido do carro, e da viatura.

Rafael disse, então, que ele e outro policial presente exigiram que Anderson Melo descesse do veículo, mas que o motorista não acatou a ordem e acelerou na direção deles. O delegado então sacou a arma e atirou contra o pára-brisa do caminhão, acertando Anderson no pescoço.





O motorista foi socorrido e passou por cirurgia, mas morreu no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII.

Apesar da alegação do delegado, a juíza sumária do 1º Tribunal do Júri de BH, Bárbara Heliodora Quaresma Bomfim, destacou a “irracionalidade e violência do crime apurado” e que o autor da morte do motorista era uma “autoridade pública”.

Rafael de Souza Horácio conta com 16 registros por infrações penais e administrativas na Corregedoria-Geral da Polícia Civil.

A Polícia Civil de Minas Gerais informou que, durante o tempo em que estiver respondendo ao processo, o delegado está afastado de suas atividades, mas permanece como servidor do estado.