Jornal Estado de Minas

'DELATOR'

Criado em Minas, sistema promete combate eficaz à lavagem de dinheiro

Um projeto desenvolvido pelo laboratório de pesquisa aplicada em inteligência artificial do Banco Inter, o Inter Mind, e o Departamento de Ciência da Computação (DCC) da UFMG, propõe o uso de inteligência artificial para detectar indícios de lavagem de dinheiro em transações bancárias.





 

De acordo com a legislação brasileira, instituições do sistema financeiro devem comunicar à unidade de inteligência financeira federal, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), quaisquer casos que possam configurar lavagem de dinheiro, como movimentação incompatível com a condição financeira do cliente.  

 

Chamado de "Delator", o modelo proposto pelo Inter e pela UFMG opera com base na similaridade entre situações de clientes e nas regras já existentes no banco. "Se a situação de um cliente do Inter em um determinado período é de alguma forma similar a de outros clientes que já foram comunicados à unidade de inteligência financeira, o Delator tende a classificá-la como suspeita", explica o professor e pesquisador do DCC Fabrício Murai.

 

Ainda segundo Murai, o Delator considera tanto as características e comportamentos do cliente, quanto a situação das pessoas com as quais ele transacionou no período. A inteligência artificial é capaz até mesmo de fazer uma estimativa do valor das transações do correntista com seus contatos, com basse no histórico de operações anteriores. Um comportamento destoante pode indicar movimentações suspeitas. 

 

"Em um determinado mês, considerando apenas os clientes que não foram enquadrados em nenhuma das regras do nosso sistema de monitoramento, selecionamos um conjunto de clientes com as situações mais suspeitas, segundo o Delator. Após análise, concluímos que 14% dos casos selecionados deveriam ser comunicados à unidade de inteligência financeira federal", conta o pesquisador da UFMG. 





 

"Esse resultado mostra o valor do Delator como um complemento ao nosso sistema. Também demonstra o seu valor como uma fonte de insights, sugerindo novas regras que poderiam ser adicionadas ao nosso sistema e regras existentes que poderiam ser aperfeiçoadas", complementa. 

 

O modelo ainda não tem data de lançamento, mas Murai espera que ele comece a ser produzido nos próximos meses. 


Brasil é líder mundial em lavagem de dinheiro

No dia 29 de outubro, foi comemorado o Dia Nacional da Prevenção da Lavagem de Dinheiro. A data é uma iniciativa de várias instituições que compõem a Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro (ENCCLA) e o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC).

 

 

O termo "lavagem de dinheiro" se refere a práticas econômico-financeiras que têm por objetivo esconder a real origem ilícita de ativos financeiros ou bens patrimoniais. Em outras palavras, lavar dinheiro significa justificar a existência de riquezas obtidas de forma criminosa por meio da execução de falsas operações idôneas, acobertando assim crimes como a extorsão, a corrupção e o terrorismo, bem como o tráfico de pessoas, armas e drogas.

 

Em 2019, o Relatório Global de Fraude & Risco da Kroll apontou o Brasil como líder mundial em lavagem de dinheiro: a prática foi testemunhada por 23% dos entrevistados,  enquanto a média global era de 16%. Divulgado no início de outubro de 2022, o relatório da Transparência Internacional denuncia recuo do país no combate à corrupção e à lavagem de dinheiro: o Brasil regrediu de implementação "moderada", na avaliação divulgada em 2020, para implementação "limitada" de mecanismos contra o suborno transnacional.