Jornal Estado de Minas

POLÊMICA

Médicos do Sofia Feldman são punidos pelo Conselho Regional de Medicina

Três médicos do Hospital Sofia Feldman estão sendo punidos pelo Conselho Regional de Medicina (CRM) por apoiarem a realização da consulta de enfermagem obstétrica, com a utilização da ultrassonografia, segundo denúncia de ativistas ligados ao  Movimento pela Humanização do Parto e Nascimento. O diretor-técnico teve o registro profissional suspenso por 30 dias e dois ginecologistas-obstetras receberam censura pública pelo CRM-MG.





Um abaixo-assinado on-line foi organizado por ativistas contra a “perseguição” ao movimento. De acordo com o texto do documento, a consulta de enfermagem obstétrica é uma prática realizada em diversos países, recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e reconhecida pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen).

O CRM disse, em nota, que os processos correm sob sigilo, e que por isso não seriam informados os motivos de os médicos estarem sendo punidos.  

Perseguição


Para ativistas, a ação do CRM é uma tentativa de perseguir os profissionais de saúde  alinhados à prática do parto humanizado, e, por isso, teriam como alvo o Hospital Sofia Feldman, maternidade que é referência no país na assistência ao parto. 

O texto divulgado pelo movimento diz que a punição aos médicos é um “ataque direto aos direitos das mulheres, pessoas gestantes e bebês, com a tentativa de silenciamento e desmonte de uma instituição vanguarda nacional deste Movimento, referência internacional na assistência obstétrica, que trabalha há 40 anos abrindo caminhos”.




Saúde das gestantes

Para a enfermeira obstétrica Joyce Maira, a atuação desses profissionais com a consulta ultrassonográfica para gestantes pode melhorar na detecção de patologias, e garantir o acesso e a tomada de conduta em tempo oportuno.

Segundo ela, é necessário “reduzir intervenções desnecessárias”, e “respeitar o protagonismo das mulheres e das famílias no momento do parto”.

A categoria defende que o uso da ultrassonografia por enfermeiros é respaldado pela legislação, e não configura como exercício ilegal da profissão. 

“Os enfermeiros, junto com o conselho federal de enfermagem e os conselhos regionais de enfermagem tem lutado, inclusive, judicialmente para que a atuação do enfermeiro não seja impedida. Outras categorias precisam explicar qual tem sido a polêmica da utilização da ultrassonografia por enfermeiros, já que ela está disponível a todos e pode ser utilizada por diversos profissionais”, finaliza Joyce.





A reportagem solicitou posicionamento ao Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (Sinmed-MG) e aguarda nota.

Confira íntegra do posicionamento do Hospital Sofia Feldman 

"O Hospital Sofia Feldman é uma instituição filantrópica, com atendimento 100% SUS atendendo uma população de 2,6 milhões de habitantes. É referência nacional e internacional na assistência ao parto e nascimento, pautado pelo trabalho compartilhado dos profissionais de saúde e das melhores evidências científicas. Atualmente é a maior maternidade e neonatologia do Brasil, possuindo uma média de 900 partos ao mês.

A consulta de enfermagem está preconizada na Lei 7498/86, na qual o enfermeiro utiliza os conhecimentos científicos e outras ciências para estruturar sua assistência. A incorporação do ultrassom durante as consultas é regulamentada pela Resolução Cofen nº 627/2020 que “Normatiza a realização de ultrassonografia Obstétrica por Enfermeiro Obstétrico” em locais onde ocorram assistência obstétrica no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). 

A consulta de enfermagem com uso do ultrassom, vai para além da utilização desta tecnologia, propõe uma assistência integral observando todos os aspectos da saúde das usuárias do serviço, descrevendo o atendimento e fazendo encaminhamentos necessários para equipe multiprofissional. 





É importante salientar que nenhum diagnóstico médico é feito durante a consulta, os achados são descritos para avaliação, interpretação e tomada de conduta pela equipe do pré-natal, ou a que está assistindo a mulher durante a internação.

A utilização da ultrassonografia por enfermeiros é uma prática corrente em vários países do mundo como Estados Unidos, Reino Unido, Suécia, Noruega, Chile, Austrália; realizada no Sofia Feldman desde 2015, recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e reconhecida pelo Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). Ou seja, uma prática que promove acesso e garantia do atendimento a população, do trabalho em equipe multiprofissional e não viola qualquer dispositivo ético ou legal.

A enfermagem possui histórico no uso da ferramenta do US em outros procedimentos, como: Parecer emitido pelo Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP) Parecer n° 029/2014 que dispõe sobre o uso do US pelo enfermeiro para cálculo de volume em retenção urinária, resolução n° 243/2017 normatizou a execução ao profissional enfermeiro capacitado, o uso de microindutor e auxílio de ultrassom na inserção de Cateter Central de Inserção Periférica (CCIP/PICC) (COREN-SP, 2014; COFEN, 2017).





Algumas entidades de classe, por sua vez, entendem que esses procedimentos devem ser exclusivamente realizados por médicos. Os diretores técnicos e administrativos do Hospital Sofia Feldman tiveram condenações pelo Conselho Federal de Medicina por causa da atuação dos profissionais de enfermagem dentro do modelo de trabalho colaborativo. 

O Conselho Federal de Enfermagem – COFEN que é o órgão responsável pela regulação das práticas da categoria, afirma que a utilização dessa tecnologia não configura como exercício ilegal da profissão. Caso haja interrupção da atuação da enfermagem nesse contexto, haverá prejuízo do acesso a saúde e qualidade do cuidado às mulheres contribuindo para piora dos indicadores maternos e neonatais."