Jornal Estado de Minas

SAÚDE

Santa Casa pede socorro para reconstruir CTI incendiada há um mês

 

Passado um mês do incêndio que atingiu a Santa Casa de Belo Horizonte, período completado ontem, a instituição ainda sofre com a falta de recursos para a reforma do espaço afetado pelo fogo. Apesar do esforço para agilizar a liberação emergencial de vagas,  todos os 50 leitos do Centro de Terapia Intensiva (CTI) no 10º andar do hospital seguem interditados. Segundo o Corpo de Bombeiros, foi nesse CTI que as chamas começaram, após pane em aparelho de um dos leitos, na noite de 27 de junho.





 

Maior instituição hospitalar 100% SUS de Minas Gerais, com mais de mil vagas, a Santa Casa da capital atende pacientes de mais de 80% dos municípios mineiros, o que a torna crucial para todo o sistema de saúde do estado. Para se ter uma ideia, os 50 leitos interditados representam quase um terço do total de vagas de CTI oferecidas pela instituição (165) e mesmo com remanejamentos a situação segue complicada.

 

A correria para liberar os leitos começou logo depois do incêndio, mas tropeça na falta de recursos, informa o diretor jurídico da Santa Casa, João Costa Aguiar Filho. “Na mesma semana do incêndio fizemos uma adaptação para liberar oito leitos do bloco cirúrgico para serem usados por pacientes em terapia intensiva. Na ala de internação no 6º andar liberamos mais 12 leitos para CTI. Naquele momento, a pressão era muito grande, e precisávamos ter pelo menos esses leitos”, conta.

 

Ainda de acordo com Aguiar Filho, a instituição fez um levantamento das necessidades de equipamentos para dar andamento às obras de infraestrutura, o que permitirá a liberação de mais leitos. Mas o início das intervenções ainda depende de recursos.





 

Enquanto isso, informa, a Santa Casa está tomando providências para liberar, emergencialmente, alguns leitos para suprir a demanda. O diretor explica que área onde ocorreu o incêndio, no 10º andar, é dividida em três alas: A, B e C. O fogo atingiu diretamente os leitos da ala B, mas causou danos também nas demais. “A fumaça se espalhou, as pessoas tiveram que quebrar vidros, se soltar de equipamentos, as tomadas foram danificadas”, detalha.

 

Segundo com o diretor, ainda nesta semana está prevista a liberação de pelo menos mais 10 leitos de CTI, na ala C, a menos afetada pelo incêndio e consequentes estragos. A ala B ainda não começou a passar por intervenções, segundo ele. “Ainda é provisório, precisamos de investimentos maiores, mas essa é uma intervenção imediata, porque temos uma demanda grande de leitos de CTI, tanto de pacientes que precisam ser transferidos para a Santa Casa quanto de cirurgias que demandam vagas de terapia intensiva de retaguarda. Sem eles, o paciente não pode ser submetido a cirurgia”, explicou. Uma situação que aumenta a fila de espera da instituição, altamente demandada para procedimentos cirúrgicos – no ano passado, foram 11 mil operações, num quadro geral que incluiu ainda 29 mil internações, 139 mil consultas e 1,7 milhão de exames.

 

INVESTIGAÇÃO E REVISÃO O diretor jurídico lembra que a instituição ainda investiga as causas do incêndio. Nos dias seguintes ao episódio, um serviço pericial foi contratado para averiguar o que provocou as chamas. O laudo sobre o incidente deve ser entregue à Santa Casa até o fim da próxima semana. O documento será um orientador das medidas que devem ser adotadas para evitar novos incêndios. Enquanto isso, a instituição faz uma revisão de todos os equipamentos do hospital. “Tivemos que checar 600 tomadas especiais ligadas em equipamentos, além de todo o cabeamento que fornece energia para eles. Estamos trabalhando para ter segurança na liberação, ainda que provisória, de alguns leitos”, contou.





 

Em 1° de julho, três dias depois do incêndio, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, visitou a Santa Casa e anunciou que R$ 10 milhões seriam liberados para reforçar o caixa da instituição. Os recursos seriam suficientes para cobrir o prejuízo do hospital com o incêndio, calculado em R$ 5,4 milhões, mas bem aquém dos R$ 16,4 milhões solicitados pela instituição para a recuperação do andar atingido e investimentos.

 

Aguiar Filho afirma que o processo de liberação de recursos do governo federal não é simples, além de ser demorado. “O convênio com a Santa Casa já está formalizado, mas ainda estamos nos trâmites da liberação. É importante dizer também que esse recurso tem uma destinação específica para a aquisição de equipamentos” , ressalta. Assim, esse aporte não pode ser usado para a reconstrução das alas de CTI atingidas pelo fogo. Além disso, segundo o diretor jurídico, ainda não há um prazo para que os recursos do Ministério da Saúde sejam liberados.

 

Na ocasião da visita do ministro, o direção-geral da Santa Casa informou que a instituição estava em diálogo com os governos estadual e municipal para complementar o valor necessário. Porém, até o momento, não houve liberação de recursos. “No caso do estado de Minas Gerais, há uma dificuldade legal neste momento, devido às eleições. Nosso pleito ao governo estadual é para que haja antecipação da liberação daqueles recursos que foram ajustados da dívida que ele tinha com os municípios e com algumas instituições. Essa antecipação ficou de ser ajustada depois do processo eleitoral”, explicou o diretor jurídico. “Com o município de Belo Horizonte, como ele é nosso contratante, temos tratativas em andamento com a Secretaria Municipal de Saúde. Não temos recurso específico previsto prometido, mas estamos em tratativas”, completou.





 

CAMPANHA Na quarta-feira (3/8), a Santa Casa vai lançar uma campanha de financiamento coletivo para tentar angariar fundos a serem destinados especificamente para as obras de reconstrução da ala de CTI destruída pelo incêndio na instituição, que acumula dívidas de R$ 260 milhões. O evento de lançamento vai acontecer no salão do Minas Tênis Clube. “Estamos convidando representantes de instituições empresariais para apresentar os impactos que a Santa Casa teve (com o incêndio) e solicitar apoio para que possamos adiantar nosso processo de retomada desses leitos”, contou Aguiar Filho. Pessoas físicas e jurídicas vão poder contribuir para a causa. Os canais de doação serão divulgados no evento.

 

Memória
Noite de pavor

 

Dois pacientes morreram no processo de esvaziamento da Santa Casa na noite do incêndio que destruiu ala do Centro de Terapia Intensiva localizado no 10° andar da instituição, no Bairro Santa Efigência, Centro-Sul da capital; 26 funcionários tiveram que ser hospitalizados. O fogo começou durante a noite de 27 de junho e foi controlado horas depois. Em pânico, 931 pacientes que estavam internados foram retirados às pressas do prédio. Os brigadistas do próprio hospital iniciaram os combates às chamas e a evacuação da instituição, antes de ganhar o reforço do Corpo de Bombeiros. A suspeita é e que o incêndio tenha começado após um vazamento de oxigênio, devido à pane de um equipamento do CTI.