Jornal Estado de Minas

MEIO AMBIENTE

Barão de Cocais: polícia atribui desmatamento à mineradora GSM

O desmatamento de área com ipês-amarelos em Barão de Cocais, Região Central de Minas, foi atribuído à GSM Mineração pela Polícia Militar de Meio Ambiente. A corporação confirmou que a empresa foi apontada como autora da supressão das árvores sem qualquer licenciamento. Na área, vereadores da cidade já denunciaram a abertura de uma estrada para escoamento de produção sem consulta aos moradores da região.





Os militares foram acionados pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente para averiguar uma denúncia de desmatamento na última sexta-feira (1/7). A fiscalização do local terminou na terça (5/7) e, após análises de documentos apresentados pela empresa, a operação concluiu que a mineradora não tinha autorização para supressão vegetal na área. Uma ocorrência foi encaminhada à Polícia Civil para investigação.

Na quarta-feira (6/7), o Estado de Minas publicou que vereadores de Barão de Cocais denunciaram a abertura de uma estrada que liga uma mina da GSM até vias para escoamento da produção na mesma região onde foi feita a fiscalização por desmatamento. 

A estrada fica próxima a pontos residenciais cujos habitantes não foram consultados sobre a abertura da via. Moradores da região do Bairro Santa Cruz temem que a intervenção signifique transtornos como acúmulo de resíduos da mineração, poluição sonora e do ar.





Procurada, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Barão de Cocais disse que, de acordo com o apurado, a supressão das árvores aconteceu de forma acidental pela GSM. A reportagem também questionou se a mineradora solicitou algum processo de autorização para a abertura da estrada na região, mas a pasta não se pronunciou sobre o tema.

A Polícia Civil informou que instaurou um inquérito para apurar o desmatamento registrado em Barão de Cocais. Nos próximos dias haverá uma perícia técnica no local.

Em nota, a GSM Mineração afirmou que realiza reuniões periódicas com a população local, nas quais são realizados fóruns de escuta e a apresentação de todas as ações e projetos que a empresa realiza. A mineradora também informou que investe espontaneamente em melhorias estruturais no âmbito municipal de forma desvinculada de obrigações legais ou condicionantes administrativas.

A empresa ainda informou que mantém diálogo com as instituições que apuram o caso em questão: “ao tomar ciência dos fatos ocorridos, o corpo diretivo da GSM prontamente se colocou em contato com os órgãos públicos envolvidos no assunto, de modo a esclarecer os fatos e manter sua atuação pautada no desenvolvimento sustentável das operações e dos municípios de atuação”.




Comportamento padrão

Segundo o biólogo e coordenador estadual do Movimento Pela Soberania Popular na Mineração (MAM), a GSM acumula críticas de moradores da região de Barão de Cocais e Santa Bárbara, onde também atua.

“Eles atuam na região desde 2019 e é um procedimento padrão a GSM atuar desta forma. Eles abrem o empreendimento de forma irregular para depois tentar a regulamentação”, critica.

O comerciante Raimundo Alexandre mora no Bairro Santa Cruz há 22 anos, onde também é dono de uma mercearia. Ele conta que a comunidade já convive com transtornos causados pela mineração.

“Desde que a GSM começou a minerar lá em cima, começou com a poeira e o barulho, eu sou comerciante e sofro muito com isso. Tem várias pessoas que estão chateadas, só que eles não dão ouvidos, estão tocando na base do ‘eu que mando, eu que faço’”, afirma.

Raimundo conta que não foi consultado sobre a abertura da estrada e complementa sem um prognóstico alvissareiro: “tenho certeza que, na hora que começarem a rodar com os caminhões, vai ter impacto aqui. São cargas de 50 toneladas e vai trincar muita casa”.
 
Outros moradores de Barão de Cocais ouvidos pela reportagem também manifestaram a sensação de impotência diante dos avanços da empresa. Por dependerem da atividade mineradora na região, eles preferiram não se identificar.