Jornal Estado de Minas

MAUS-TRATOS

'Atividade de aluguel de cães não é fiscalizada o suficiente', diz ativista

 

Após a divulgação de denúncias de maus-tratos contra cães de guarda alugados em Belo Horizonte, a reportagem do Estado de Minas recebeu novos depoimentos sobre situações semelhantes. Franklin Oliveira, ambientalista, ativista dos animais e jornaleiro, acredita que "a atividade de aluguel de cães não é fiscalizada o suficiente". Além de Franklin, outras pessoas já presenciaram casos de maus-tratos com o mesmo modus operandi e cobram justiça das autoridades.





Além disso, permanece a desconfiança de que  os cães são do Canil Amaral Andrade, que já recebeu várias denúncias sobre maus-tratos, e é constantemente cobrado nas redes sociais sobre o tratamento oferecido para os cães de guarda. De acordo com a Polícia Militar de Minas Gerais, há pelo menos 9 boletins de ocorrência sobre maus-tratos contra o Canil Amaral Andrade. 


A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) instaurou procedimentos para apurar os fatos.  A investigação tramita no Departamento Estadual de Investigação de Crimes Contra o Meio Ambiente (Dema). 


 

 


Franklin relatou que há dois anos formalizou queixa-crime na Delegacia Especializada de Combate à Crimes Contra a Fauna, da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), contra o aluguel de cães do Canil Amaral Andrade e outros estabelecimentos do ramo. 


"O inquérito já existe na delegacia. Várias outras pessoas que me procuraram com denúncias dessa atividade, foram orientadas a procurar a dita delegacia para formalizar queixa", disse Franklin. "Várias empresas exploram essa atividade. Não existe fiscalização. O que a gente observa é que a polícia não oferece o suporte necessário", explicou. 





A queixa-crime formalizada na delegacia de crimes contra a fauna por Franklin foi sobre um caso em que um cachorro que realizava a guarda de um imóvel, quando foi retirado, já estava sem vida. "A gente vê que as coisas não andam e as autoridades não fazem nada", opinou. 



"Ele estava muito magro, com as costelas aparecendo"



Marisa Lyon, dona de uma banca de revistas próxima a mais um local em que um cão alugado vive em condições insalubres, diz que desde o começo do ano, ela e a filha cuidam de um cão que faz a guarda de um imóvel na rua Cláudio Manoel, ao lado de uma academia de ginástica. "Ele estava muito magro, com a barriga funda e as costelas aparecendo. Agora ele está melhorando, a gente dá ração para ele todo dia", contou. 


Cachorro está melhor de saúde, graças a oferta de cuidados dos moradores (foto: Arquivo Pessoal/Reprodução)


Ela disse que quando viram o cachorro, começaram a observar a rotina dele. "Vinha uma pessoa umas duas vezes por semana oferecer pedaços de frango pra ele. Só que essa carne apodrecia, e ele ficava no meio da carniça, e ele ficando muito magro", disse Marisa, que destacou que o cão agora está muito dócil: "Ele não pode nem ver a gente que já vem abanando o rabinho". 





Marisa contou que o animal estava cheio de pulgas e carrapatos, e que por meio de uma vaquinha na internet, compraram remédio e ofereceram ao cachorro para curar as enfermidades. 

 

 


Um dia, a dona da banca de revistas encontrou com um funcionário do canil enquanto ele oferecia frango ao cachorro. "Eu xinguei ele todo e falei que ia denunciar ele. Eu já pensei em ir a vários órgãos, mas a gente sabe que não dá em nada. Mesmo assim, eu liguei na Guarda Municipal, e, quando o guarda chegou, ele disse que aquilo era normal, que eles só comem carne mesmo. Eu questionei ele 'mas tão pouco, você acha normal?', e ele foi embora". 


Projetos de Lei 


O deputado Osvaldo Lopes, foi até o local da primeira denúncia, na quarta-feira (6/7), localizado na Av.Olegário Maciel. Em entrevista ao Estado de Minas, ele contou como foi a visita


 

"Na parte da manhã, eu e minha equipe verificamos a parte externa do local para averiguar a denúncia. Não encontramos o cãozinho dentro do estabelecimento, porém, foi possível identificar que o local estava muito sujo e com muitas fezes do cão", disse. 


O deputado acionou a Delegacia de Crimes Contra a Fauna e a Guarda Civil Municipal de Belo Horizonte, para que as autoridades pudessem entrar no local e realizar uma verificação adequada. Após a chegada da GCM, da Polícia Civil e da Prefeitura, foi possível entrar no local e constatar que o cão já havia sido retirado pela empresa responsável. "Caso o animal ainda estivesse no local, seria possível realizar o flagrante naquele momento e já recolhê-lo", contou Osvaldo Lopes. 





 


Há três anos, na Assembleia Legislativa, o deputado instaurou a  PL 428/2019, que proíbe que cães sejam cedidos, comercializados ou alugados para fins de guarda. De acordo com ele, até o momento, o PL se encontra em análise na Comissão de Constituição e Justiça da ALMG. O político deixa suas redes sociais abertas para o recebimento de denúncias como essa.  

 

*estagiária sob supervisão do subeditor Diogo Finelli