Jornal Estado de Minas

INTOLERÂNCIA RELIGIOSA

Terreiros de umbanda e candomblé em Esmeraldas são alvos de vandalismo

A violação à liberdade de crença foi cometida em dois templos de religiões de matriz africana com ataques de vandalismo e furtos de imagens em Esmeraldas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Em resposta ao ato de intolerância religiosa e com o objetivo de alertar e conscientizar as pessoas, 12 terreiros de umbanda e candomblé da cidade vão se reunir neste sábado (09/07), às 9h, na praça Getúlio Vargas em um manifesto pacífico. 




 
Segundo o Pai Murilo de Oxalá, da Casa Fraternidade Jesus Amigo, no total foram cinco atos de violência em dois meses em templos de matriz africana na cidade, motivos para que as denúncias feitas em boletins de ocorrência cheguem ao conhecimento da população.
 
“Queremos tornar nossa denúncia pública e também conscientizar as pessoas de que intolerância religiosa é crime. Acredito que para construir uma sociedade justa precisamos de romper com o preconceito e o conhecimento é um bom início para interromper esse ciclo”.
 
Pai Murilo de Oxalá conta que é a primeira vez que as 12 casas de religiões afro vão se reunir na cidade. Durante o manifesto “Respeite meu Axé” terão cantos em língua portuguesa comuns na umbanda e também cantos na língua iorubá, utilizados no candomblé, como forma levar ao conhecimento as tradições das religiões.




 

Os ataques

 
A  filha da casa Ilê Asé Odé Ayó - que em português significa “A casa de felicidade” -  Lavínia Ferraz Dofona de Oyá, conta que o templo religioso existe desde 2015 em imóveis alugados e que os ataques começaram após o início da construção da sede em um terreno comprado.
 
Ela relata que o primeiro ataque de intolerância religiosa ocorreu no dia sete maio deste ano em que foram furtados e destruídos materiais de construção e divindades sagradas do candomblé foram quebradas. O segundo ataque foi poucos dias depois quando os autores voltaram ao local e furtaram as imagens.
 
“Não têm palavras que descrevam o que sentimos, quebraram a representação física do nosso orixá, foi a mesma coisa de quebrar um membro da nossa família. Fizemos um boletim de ocorrência, a polícia foi de imediato, mas até hoje os autores não foram identificados”, disse.




 
Para dar continuidade à construção do templo, o dirigente do Ilê Asé Odé Ayó, o babalorixá Joaquim de Oxóssi, está fazendo rifas, vaquinhas e recebendo doações. “A nossa casa é simples, mas foi fruto de muito trabalho e que agora precisa de apoio”, explica.
 
Outros três atos de intolerância religiosa aconteceram na Fraternidade Jesus Amigo. Segundo o pai de santo Murilo de Oxalá, o primeiro ataque foi em 11 de junho quando foram arrancadas as plantas utilizadas nos rituais sagrados. Na segunda ação de vandalismo, as plantas foram novamente arrancadas e peças do assentamento de exu – uma espécie de altar – foram quebradas.
 
Na terceira vez, as plantas voltaram a ser alvo e novamente o assentamento do orixá foi destruído.
 
O pai de santo conta que a comunidade lida constantemente com o preconceito religioso e assim muitos atos criminosos não são denunciados na polícia “por já estarem acostumado com as ofensas”, mas devido ao furto e destruição dos objetos dos cultos, ele sentiu a necessidade de unir forças com os outros terreiros da cidade.
 
“Agora queremos criar em Esmeraldas uma rede de apoio a outras pessoas que estão sofrendo o mesmo que a gente, ou que poderão a vir a sofrer até que a nossa religião seja respeitada e o responsável pelas ações criminosas seja identificado e a justiça feita”, protesta.