Jornal Estado de Minas

DIREITOS HUMANOS

Criação de Conselho LGBTQIA+ gera polêmica em Itaúna

No Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+ a votação na Câmara de Vereadores de Itaúna, cidade do Centro Oeste de Minas, para a criação de um Conselho LGBTQIA+ gerou polêmica e foi motivo de publicações homofóbicas nas redes sociais. No final da votação, na noite desta terça-feira (28/6),  o projeto foi rejeitado.



A Câmara ficou repleta de representantes a favor e contra a criação do conselho, de um lado o grupo dos conservadores com cartazes e faixas exaltando a tradicional família cristã e do outro lado as pessoas favoráveis à criação do conselho com bandeiras nas cores do arco-íris e cartazes pedindo igualdade de direitos.

A reunião teve momentos de discussão acalorada entre os grupos presentes, que gritavam palavras de ordem. Se na plateia a divisão do público era de praticamente 50% para cada lado, no placar a votação foi esmagadora para os conservadores que obtiveram 12 votos contrários à criação do Conselho LGBTQIA+ e apenas duas vereadoras votaram favorável ao projeto.

 

Ataques


Nos dias que antecederam a votação da criação do Conselho Municipal LGBTQIA+ em Itaúna, a vereadora que propôs o projeto, Edênia Alcântara (PDT), conta que recebeu várias mensagens e críticas de que ela seria "contra a família".



Em uma dessas mensagens a vereadora foi chamada de "agente de Satanás". Um dos grupos que mais fortemente se manifestou contra a criação do conselho em Itaúna foi o Movimento dos Conservadores Cristãos de Itaúna (MCCI).

Nas redes sociais e grupos de WhatsApp o grupo fez postagens criticando a criação do Conselho LGBTQIA+ e afirmando que o mesmo representaria a destruição da família e dos princípios cristãos. Entre as postagens do MCCI a de que eles estariam sendo vítimas de "heterofobia". 

Divisão do público na plateia não foi refletida na votação dos vereadores que foram em maioria contra o conselho LGBTQIA+ (foto: Reprodução Internet)
Vereadora foi chamada de "agente de Satanás" por defender direitos LGBTQIA+ (foto: Reprodução Arquivo Pessoal)
 

Marielle Franco


Com um arco-íris pintado na face, a vereadora Edênia Alcântara, autora do projeto de Lei 85/2022, que previa a criação do Conselho LGBTQIA+ em Itaúna, começou o discurso de defesa do projeto alertando para fake News que circularam na cidade e revelando alguns dos ataques que sofreu.



Ela também relatou que em Itaúna faltam dados específicos sobre a população LGBTQIA+. “Nem mesmo a Secretaria Municipal de Saúde sabe quantos LGBTQIA+ nós temos em Itaúna. O que queremos é a elaboração de políticas públicas que protejam essas pessoas”, afirmou a vereadora.

Edênia lembrou ainda que outros conselhos não geraram tanta polêmica. “No ano passado foi aprovada a criação do Conselho dos Direitos dos Animais e não houve toda essa manifestação aqui”, questionou.

Para finalizar Edênia se afirmou como “cria e semente” da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) assassinada brutalmente em 2018 que ficou conhecida pela defesa de pautas das minorias. “Sou cria e semente de Marielle e vocês vão ter que me engolir”, afirmou a vereadora encarando os desafetos do outro lado da tribuna.



Conservadores Cristãos de Itaúna se dizem vítima de "heterofobia" (foto: Reprodução Redes Sociais)


A outra vereadora que votou favoravelmente ao projeto foi Márcia Cristina (Patriota) que lembrou da dor que sofrem as mães de filhos e filhas que sãos hostilizados e perseguidos por serem homossexuais. “Que Cristã seria eu se hoje votasse contra a criação de um conselho que é simplesmente para garantir os direitos da população LGBT”, afirmou a vereadora.

Já entre os 12 vereadores que foram contra o projeto apenas um se manifestou. De forma tímida e numa tentativa de conciliar os dois lados e acalmar os ânimos, o vereador Antônio de Miranda (PSC) afirmou que concordava com todos os pontos apresentados pelas vereadoras Edênia e Márcia e disse que recebeu reivindicações “de um lado e do outro”. Ele sugeriu que os conservadores cristãos e os pastores poderiam ajudar, futuramente, na criação de um conselho LGBTQIA+.

Vizinhança participativa


Políticos das cidades vizinhas a Itaúna também se manifestaram a respeito da criação do Conselho LGBTQIA+ no município, tanto a favor, quanto contra o projeto. Impulsionadas pelos grupos de direita, entre as mensagens que circularam em Itaúna às vésperas da votação de criação do Conselho LGBTQIA+ estava um vídeo do vereador da cidade de Divinópolis,vizinha a Itaúna, Eduardo Azevedo (PSC). Ele é irmão do prefeito de Divinópolis,Gleidson Azevedo,e do deputado estadual Cleiton Azevedo.

O vereador afirmava em sua mensagem que a criação do Conselho em Itaúna iria levar para as crianças a “problematização” das pautas LGBTQIA+ para o ambiente educacional.

Também circulou na cidade um vídeo do prefeito reeleito de Itapecerica, Wirley Reis, conhecido como Têko (PODE). Têko, que é homossexual e tem a bandeira nas cores do arco-íris no gabinete de prefeito, falou sobre a importância da criação de um conselho para garantir os direitos da população LGBTQIA+