Jornal Estado de Minas

NO ÔNIBUS EM BH

Jovem tem aparelho auditivo roubado e faz vaquinha para voltar a ouvir

O mundo voltou a ter sons para Ester Garcia em fevereiro, mas não por muito tempo. A estudante perdeu a audição e ficou sete anos sem ouvir até que recebeu um implante coclear que lhe recuperou o sentido. Neste mês, no entanto, ela teve o aparelho auditivo roubado dentro de um ônibus em Belo Horizonte e agora luta para conseguir comprar um novo equipamento que a permita escutar novamente.





O relato de Ester viralizou no Twitter na última sexta-feira (24/6). A estudante contou sobre o crime do qual foi vítima e movimentou a rede social com uma campanha para conseguir comprar um novo aparelho auditivo. Em entrevista ao Estado de Minas, ela relata como foi roubada e como é possível ajudá-la a ouvir novamente.

A estudante mora na Região do Barreiro e estava em um ônibus da linha 3050 quando teve o aparelho furtado em 13 de junho. Ela conta que usa uma corda para prender o implante na roupa para evitar roubos e que foi orientada a fazê-lo pela fonoaudióloga que a atendeu durante o tratamento para instalação do implante. A estratégia, no entanto, não foi suficiente para evitar o crime.

“Eu estava cochilando, quando eu acordei eu passei a mão na cabeça e percebi que não estava ouvindo mais e estava sem o implante e a presilha que é super forte e fica presa na camisa, estava presa, mas com a corda com aspecto de cortada, não um aspecto de que foi arrebentada”, relata.





Ester mostra a corda que usava para manter o aparelho preso à camisa (foto: Arquivo pessoal)


Ester conta que começou a perder a audição aos 11 anos de forma gradativa até ficar surda, aos 15. A causa é desconhecida, mas ela acredita que seja hereditária, já que o irmão também não escuta bem e o pai, já falecido, era surdo.

Ela entrou na fila para o implante já aos 16 anos e ficou sem respostas por um longo tempo. Foi só quando começou a atuar na área do Direito, seu curso universitário, que conseguiu uma orientação sobre um problema no seu registro no Sistema Único de Saúde (SUS)

“Aos 21 anos, entrei em um escritório de advocacia como estagiária. Por coincidência, um dos advogados do escritório é filho do cirurgião que faz os implantes no Hospital das Clínicas. Eu estava "perdida" na rede de saúde auditiva, estava registrada, mas não corretamente. O pai dele corrigiu isso, descobriu o erro e demos início, tinha muitos exames pra fazer, o escritório pagou os exames para o procedimento sair mais rápido, e a cirurgia foi pelo SUS”, conta. 

O aparelho auditivo é uma extensão do implante. Utilizado na parte externa da orelha, ele se comunica com o implante interno e permite que Ester escute. Sem o equipamento ela não consegue ouvir nada.

Após ter o aparelho furtado, a estudante procurou saber o preço de um equipamento novo, mas o preço a assustou. O valor gira em torno de R$30 mil reais e está fora das condições orçamentárias. Para ajudar a conseguir voltar a ouvir, ela lançou uma vaquinha online para que as pessoas possam contribuir com a causa. Para participar, basta acessar este link.





No Twitter, Ester também divulgou a opção de ajudar via PIX.



Crime comum

O roubo do aparelho auditivo fez Ester conhecer muitas pessoas com histórias parecidas com a dela. A estudante conta que não está nem tendo tempo de responder aos relatos de quem também teve o equipamento que permite a audição roubado. Até casos de crime a mão armada lhe foram relatados.

Ela diz que pessoas surdas ou com deficiência auditiva são visadas por criminosos. Algumas, inclusive, têm medo de usar identificações importantes, como a indicação usada em carros, para não chamar a atenção de ladrões.

“Um exemplo que eu vou te dar é que as pessoas que têm deficiência auditiva ou são surdas, quando tiram a habilitação, podem colocar na traseira do carro um adesivo que mostra que aquele condutor tem deficiência auditiva ou é surdo. Tem gente que prefere não colocar esse adesivo porque eles têm medo de alguém pensar: ‘olha, o motorista é surdo, é mais fácil de roubar, ele deve ter um aparelho, deve ter um implante’”, afirma.