Jornal Estado de Minas

JULGAMENTO EM BH

Chacina de Unaí: acusação apresenta prova que liga Antério a Chico Pinheiro

As procuradoras de acusação apresentaram, na manhã desta quarta-feira (25), documento que prova uma ligação telefônica feita por um número registrado no nome de Antério Mânica para o município Formosa, em Goiás, cidade onde mora Chico Pinheiro, um dos intermediários do crime que ficou conhecido como Chacina de Unaí.





O registro, conseguido com a Telemig Celular, aponta duas ligações feitas através do número de Antério para o município de Goiás. As chamadas foram feitas no dia 4 de janeiro, 24 dias do assassinato dos fiscais do Ministério do Trabalho. A acusação destacou, ainda, o registro de hospedagem do contratante dos pistoleiros Chico Pinheiro na cidade de Unaí, dias antes do crime.

O perito criminal Antônio César Morante, contratado como assistente técnico, examinou uma gravação telefônica à pedido do Ministério Público. Em seu depoimento, na manhã desta quarta-feira (25), ele afirma que não foi possível identificar a identidade dos envolvidos na conversa, porém existem trechos em que é possível deduzir uma menção crime no diálogo.

Segundo ele, os interlocutores, identificados na gravação como Mine e Téio, falam em um processo em Brasília e citam que tinham que "mandar o menino lá para aqueles caras". A gravação tem duração de 3 minutos e 11 segundos.



Ele negou saber a data em que a conversa aconteceu, após ter sido questionado pelo advogado da defesa. O perito ainda afirmou não ter conhecimento dos nomes citados pelos interlocutores na gravação.

Pistoleiro cita envolvimento de Antério

Erinaldo de Vasconcelos Silva, um dos autores dos disparos que matou três fiscais do Ministério do Trabalho em uma emboscada em 2004, foi o primeiro a depôr na manhã desta quarta-feira (25). Apesar de não ter tido contato direto com Antério, ele diz que Chico Pinheiro confirmou o envolvimento do fazendeiro na chacina.

A motivação do crime seriam as fiscalizações feitas pelos auditores nas fazendas da região. Segundo Erinaldo, os irmãos Mânica reclamavam que o fiscal Nelson José da Silva fazia vista grossa e não aceitava dinheiro dos fazendeiros. O combinado, inicialmente, era matar apenas Nelson.

Segundo Erinaldo, Antério estava presente na reunião entre os intermediários do crime, que aconteceu em um posto de gasolina. Ele diz que o fazendeiro estava no Fiat Marea de cor escura. Irritado com a falta de resolução do problema, Antério teria dito para "torar todo mundo", se referindo ao pedido para matar todos os fiscais envolvidos na investigação e ainda dobrou o valor da recompensa.





Questionado pela defesa do réu, representada pelo advogado Marcelo Leonardo, Erinaldo disse que não viu Antério no dia, mas que a informação teria sido confirmada por Chico Pinheiro. O advogado ressalta que Erinaldo teve três oportunidades para apresentar o fato, mas só o fez dois anos após a morte de Chico.

A Chacina de Unaí

Em 28 de janeiro de 2004, Eratóstenes de Almeida Gonçalves, João Batista Soares Lage e Nelson José da Silva foram assassinados a tiros em uma emboscada quando investigavam condições análogas à escravidão na zona rural de Unaí, incluindo as propriedades da família Mânica. O motorista Ailton Pereira de Oliveira, que acompanhava o grupo, também foi morto.

Além de Antério Mânica, o irmão dele, Norberto, foi condenado como outro mandante da chacina. Ele, porém, está em liberdade. Outros condenados pelos crimes foram Hugo Alves Pimenta, José Alberto de Castro, Erinaldo de Vasconcelos Silva, Rogério Alan Rocha Rios e Willian Gomes de Miranda, que cumprem pena na prisão.