Jornal Estado de Minas

PÁSCOA

Via Sacra marca celebrações no Santuário da Piedade


Em mais uma cerimônia que marcou a retomada das celebrações presenciais, fiéis subiram a pé o trecho entre a MGC-262 e o Santuário Basílico de Nossa Senhora da Piedade, em Caeté, Região Metropolitana de Belo Horizonte.



Durante a caminhada, conduzida pelo reitor do santuário, Padre Wagner Calegário de Souza, 42 anos, os fiéis católicos paravam e rezavam em 15 pontos que representavam o calvário de Cristo, durante sua condução ao Monte das Oliveiras, onde foi crucificado.

Padre Wanger falou que celebrar a Semana Santa não é somente cumprir uma tradição. "Alguns são levados a pensar assim. Entramos no mistério do Cristo que se entrega, que é ungido. Que assume as consequências de seu caminho. Que caminha com seus discípulos e passa pela realidade da morte. Tem a vitória da vida. E de tal maneira, celebrar a Semana Santa é quando entramos no caminho onde percebemos as dores e entregas de toda pessoa. No cristianismo tem um novo tom. Me entrego juntos daqueles para dar a vida,  para que todos tenham vida."

Neste ano não houve a representação ao vivo da crucificação de Cristo - uma decisão da Arquidiocese para evitar aglomerações e preservar os atores. A cerimônia, que será celebrada às 19h30 de hoje pelo arcebispo de BH, dom Walmor de Oliveira, na igreja local, terá imagens pré-gravadas e transmitidas pelas redes sociais da arquidiocese.




 
Fabiano Frederico de Souza, 39 anos, eletricista da Cemig, a esposa Alexandra Gonçalves, 40 anos, enfermeira e a filha Sophie, 4 anos subiram a pé os 5,5 km que separam a MGC-262, que liga a BR-381 a Caeté, e o alto da Serra da Piedade.  "Viemos de Contagem. É primeira vez que viemos, coincidiu com minha folga. Saimos de casa às 5 horas. A medida que processão parava, a  gente rezava e agradecíamos a Deus por estarmos vivendo com saúde."
 
Trabalhadora rural na região de Caeté Maria Antônia Ferreira da Silva, 65 anos, mostrou que resistência combina com fé. Com o terço em mãos, ela subiu toda a íngreme ladeira em curvas, e a cada parada, ajoelhava e acompanhava as orações puxados pelos padres que conduziam o cortejo. "Acompanho todos os anos. Neste dois anos de pandemia, quando tudo foi suspenso, fiquei muito triste, acompanhando de casa as missas pela televisão. Sou devota de Nossa Senhora da Piedade porque minha filha tinha 12 anos quando foi atacada por quinze cachorros e ficou entre a vida e a morte. Durante o ataque, ela contou que olhou para a serra e pediu a Nossa Senhora da Piedade que a salvasse. Foi uma graça que a gente agradece todos os anos."
 
Maria Goreth, 59 anos, aposentada. "Sou voluntária há 10 anos no santuário. Ajudo na organização e acolhida do povo.  Moro em Caeté. A retomada do movimento de peregrinos está um pouco lenta, as pessoas ainda têm medo. Aqui recebemos gente de todo o mundo, e em alguns as pessoas não têm o devido cuidado, mas temos que visto que as famílias estão procurando religião. Neste ano os padres e a equipe do santuário discutiram como seria a acolhida e resolveram que a encenação presencial só acontecerá no ano que vem." 
 
Para pagar uma promessa Rosilene Silva, 37 anos, empresária, moradora em Santa Bárbara, região central do Estado, também acompanhou a via sacra com seus familiares. "Hoje vim com minha família, pagando uma promessa. Escolhemos a sexta-feira da paixão por ser um dia mais tranquilo de sair, caminhar sem pressa. Agradecendo nossa Senhora pela graça. Não conseguia engravidar e fiz pedido de ajuda a Nossa Senhora da Piedade, que se fosse do coração dela, me concedesse a graça de ser mãe e concedendo essa graça, viria subir a Serra em agradecimento. Hoje tenho uma filha de dois anos."




 
O Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade,  padroeira de Minas Gerais, está localizado a 48 km de Belo Horizonte e a 16 km do município de Caeté, no alto da montanha, a 1746 metros de altitude, com vista panorâmica de 360 graus e de nove cidades: Belo Horizonte, Caeté, Contagem, Lagoa Santa, Nova União, Raposos, Sabará, Santa Luzia e Vespasiano.
 
Em 1956, o Conjunto Arquitetônico e Paisagístico do Santuário Nossa Senhora da Piedade foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan. Em dezembro de 2010, o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Iphan aprovou a extensão de tombamento do conjunto arquitetônico e urbanístico da Serra da Piedade em Minas Gerais.
 
Com a extensão de tombamento, o polígono de proteção abrange a antiga área tombada pelo Iphan, os tombamentos estadual e municipal. Em 2012, o governo do estado promulgou decreto que declara o Santuário Nossa Senhora da Piedade como Atrativo Turístico de Especial Relevância para o Estado.
 
Em 2021, o santuário recebeu 70 mil pessoas e 119 mil inscrições para visita. Nos três meses e meio de 2022 já foram registradas 32 mil visitações. "São visitantes religiosos, outros em peregrinação sem vínculo ou a passeio. O santuário basílico não é só uma igreja, esse é o ponto, está dentro de uma reserva ambiental e patrimônio de relevância para o turismo de Minas Gerais", explicou o reitor. Antes da pandemia dados por estimativa indicaram em torno de 500 mil pessoas visitantes.