Jornal Estado de Minas

EMOÇÃO

Longe do país natal, ucraniano ganha festa de aniversário em Belo Horizonte

As cores azul e amarelo, presentes em bandeiras e balões, dão as boas vindas, na noite desta quarta-feira (6/4), à nova idade do ucraniano Vitalii Afanasiev, residente em Belo Horizonte. Natural de Yenakievo, Região de Donbass, no extremo Leste do país europeu invadido pela Rússia, Vitalii completa 37 anos, dos quais 14 no Brasil, e ganha uma festa-surpresa de aniversário numa cervejaria e restaurante do Bairro Cidade Nova, na Região Nordeste da capital.




 
 

Muito emocionado, num momento em que a terra natal se dilacera sob mísseis, bombas e destruição, o engenheiro de telecomunicações Vitalii Afanasiev disse, após ouvir o tradicional “parabéns” e receber o abraço dos amigos mineiros: “Vamos resistir até o fim. Se Putin saísse da Ucrânia, seria muito bom para todos nós, para o mundo. A situação está difícil economicamente para os russos, mas penso que a guerra está longe de terminar". O aniversariante chegou à festa com uma camisa que ganhou de presente e traz na frente às letras FCK PTN (Fuck Putin).

Na Ucrânia, vivem a mãe, o irmão, a cunhada e dois sobrinhos de Vitalii. "As notícias são sempre de sofrimento."

A ideia da festa na cervejaria 100% Malte e Restaurante Origem - Assados do Mundo, do produtor audiovisual Breno Nogueira, partiu da mulher de Vitalli, a belo-horizontina Rafaela Mendes, servidora pública federal. “Resolvi fazer a surpresa para levantar o astral dele, que anda muito abalado com tudo o que ocorre na Ucrânia. Não está sendo nada fácil receber notícia da família e dos amigos, saber que locais tão íntimos estão sendo bombardeados constantemente.”

VIDA EM BH

Casados há 11 anos, Vitalli e Rafaela têm duas filhas. “Nós nos conhecemos na Ucrânia, onde trabalhei, em 2006 e 2007, como analista de marketing em uma empresa de coleta de dados de uma siderurgia localizada em Dnipropetrovsk. Quando retornei ao Brasil, ele decidiu vir também”, conta Rafaela. A família esteve pela última vez na Ucrânia em agosto de 2018, “quando levamos as meninas para conhecer a avó e os tios”.





Rafaela explica que a região de Donbass foi ocupada pelos russos em 2014. “Minha sogra se refugiou inicialmente em Kiev (capital) e agora foi para um vilarejo na divisa com a Romênia”.

PRATOS E MÚSICA

No cardápio preparado no bar e restaurante, que não funciona às quartas-feiras e abriu exceção para o cliente especial, não faltam pratos típicos ucranianos, a exemplo do zayats, bolo de carne (também conhecido como pão ucraniano) e potaptsi, pão com tomate e queijo levado ao forno.

Na trilha sonora, sucessos das bandas preferidas do aniversariante: a ucraniana Okean Elzy e a mineira Skank. Para relaxar e esquecer, mesmo que por algumas horas a guerra na Europa, cerveja e vodca.

Quem passa na Avenida José Cândido da Silveira na esquina com Tabelião Ferreira de Carvalho pode ver as bandeiras da Ucrânia e faixas escritas em inglês, "Stop war" (parem a guerra) com o símbolo "paz e amor", e também em russo pedindo o fim da agressão.
 
Breno Nogueira, produtor cultural e proprietário do estabelecimento (foto: MARCOS VIEIRA/EM/D.A PRESS)
 

O produtor cultural e proprietário do estabelecimento, Breno Nogueira, falou da sua alegria. "Neste momento, a solidariedade fala alto. Estamos abrindo a casa hoje, especialmente, e ficamos felizes com a presença do Vitalii", disse Breno.




SOLIDARIEDADE

Os amigos prestigiaram, a exemplo do casal Sascha Godel, alemão, construtor, e Hanna Godel, administradora, baiana radicada em BH. "Estamos aqui por uma questão de solidariedade. Para abraçar nosso amigo, e também pela Ucrânia, que vem sofrendo numa guerra, totalmente descabida em pleno ano de 2022", afirmou Hanna, que usou uma saia amarela e uma blusa amarela, cores da Ucrânia. Sascha foi de camisa amarela. 

Ucraniana residente há oito anos em BH, Svitlana Muzychenko, que atua com projetos humanitários para seu país, disse que foi à festa para abraçar o "amigo de coração" e que o melhor presente é apoio.

O sogro e a sogra de Vitalii ficaram felizes com a homenagem e não economizaram elogios ao genro, que, segundo eles, entrou bem no espírito brasileiro. "É um filho que a gente tem. E nos deu duas netinhas lindas, a Mila Veronika, de 5, e Lia Karina, de 4" , disse Ceres. Ao lado, Gustavo Mendes, economista, destacou a força para o trabalho do genro e o amor que tem pela família. "Gosta de tocar violão, de cantar e torce pelo Cruzeiro", contou com satisfação.