Jornal Estado de Minas

APÓS 'MONOPÓLIO' DA COVID

Campanhas contra gripe e sarampo retomam atenção para calendário de vacinas


Na próxima segunda-feira (4/4), Belo Horizonte inicia a vacinação contra a gripe para moradores com mais de 80 anos e de sarampo para crianças entre 6 meses até 5 anos. As campanhas concomitantes são avaliadas como ponto importante para a retomada da cultura de imunização após período em que o coronavírus monopolizou o debate sobre o tema.




 
 

Dados de uma pesquisa desenvolvida por epidemiologista da Universidade Federal de Pelotas-RS (UFPel) apontam que a pandemia está associada a uma queda de cerca de 20% na imunização infantil no Brasil e que há uma urgência em impulsionar novas campanhas para correr atrás do prejuízo.

A visão é compartilhada pelo infectologista e diretor da Target Medicina de Precisão, Adelino de Melo Freire Júnior, que avalia como positiva a realização simultânea das campanhas de combate à gripe e ao sarampo.

“O primeiro e segundo anos da pandemia foram uma grande justificativa para não se vacinar contra outras doenças, porque as pessoas estavam evitando ir em serviços de saúde e houve um impacto na vacinação de crianças do mundo inteiro. Mas quando a gente pensa que já temos um ano de vacinação contra a COVID, que isso traz mais segurança e as atividades estão, as pessoas precisam voltar a seguir o calendário de vacinação. Somos um país bem sucedido nesse campo e não podemos perder essa reputação”, avalia.





O médico destaca que a vacinação é um dos métodos científicos mais eficientes da história da medicina e vê com preocupação a grande quantidade de desinformação atrelada ao imunizante contra a COVID-19. 

“É um risco ter pessoas morrendo por algo que pode ser evitado”, ele pontua sobre um possível impacto das fake news sobre o imunizante da COVID atingir as vacinas contra outras doenças, tradicionalmente inseridas no calendário da vacinação brasileira.

Influenza

A campanha nacional de vacinação contra a gripe, nome mais popular da influenza, tem início em 4 de abril para pessoas acima dos 60 anos e profissionais de saúde. Em BH, por conta da disponibilidade de imunizantes, a oferta será escalonada. Por isso, a primeira fase estabelece que moradores com mais de 80 anos estão aptos para receber a vacina. Essa faixa etária compreende cerca de 72 mil pessoas na capital.





A campanha se estende até 3 de junho e também engloba o público infantil ao longo do período. O infectologista Adelino de Melo explica porque esses públicos foram escolhidos para receber a proteção contra a gripe.

“Esses grupos têm maior risco de adoecer com formas graves da doença, por isso são tratados com prioridade. Tradicionalmente a influenza circula mais a partir do outono, portanto esse é o momento tradicional para a campanha de vacinação”, comenta.

As vacinas contra a gripe são atualizadas anualmente para acompanhar o ritmo de mutação do vírus. O imunizante oferecido nesta campanha, por exemplo, já protege contra a H3N2, cepa responsável pelo surto da doença no início deste ano.





Vale destacar que os idosos podem receber o imunizante da gripe junto com o da COVID sem qualquer risco de alteração de efeitos colaterais ou dano ao sistema imunológico.

Sarampo

A campanha de vacinação contra o sarampo no calendário nacional só começa em maio e as crianças recebem o imunizante junto com o da gripe. Em Minas, no entanto, a orientação da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) foi de antecipar esse calendário.

Já a partir da próxima segunda (4), pais e responsáveis podem levar crianças de 6 meses até 5 anos (4 anos, 11 meses e 29 dias) em qualquer um dos 152 centros de saúde da capital para receber a vacina.

Adelino de Melo destaca que, mesmo já tendo tomado a vacina contra o sarampo em outra oportunidade, a criança deve participar da campanha para se proteger da doença, que é ainda mais contagiosa que a COVID-19.

Em 2016 e 2017, o Brasil era oficialmente considerado livre do sarampo, mas a queda dos números de vacinação fez com que a doença voltasse a circular no país, chegando ao ponto de ter mais de 8 mil casos registrados em 2020.