Jornal Estado de Minas

SAÚDE EM APUROS

Afastamentos pressionam a rede hospitalar da capital

O aumento de casos de COVID-19 provocados pela variante Ômicron juntamente à escalada de doentes com a gripe Influenza tem desfalcado equipes e elevado a pressão nos hospitais. Do dia 1 ao dia 25 de janeiro foram afastados 1.086 profissionais da saúde do Sistema Único de Saúde de Belo Horizonte (SUS-BH). O número é mais que o dobro, por exemplo, se comparado com outubro ou novembro do ano passado, quando foram 412 e 540 afastamentos, respectivamente.




 
A quantidade só começou a aumentar exponencialmente em dezembro, quando o número de trabalhadores da Saúde afastados por causas respiratórias foi de 882. Os dados foram confirmados pela Prefeitura de Belo Horizonte ao Estado de Minas, que mostrou que em plena escalada de casos, afastamento de profissionais contaminados compromete escalas, sobrecarrega colegas e abre corrida por contratação.
 
“O levantamento do número de profissionais afastados é feito ao fim de cada mês. Entretanto, para avaliação do impacto desses afastamentos na assistência à saúde da população, a prefeitura antecipou o levantamento de janeiro deste ano”, informou a Secretaria Municipal de Saúde.
 

Faltam contratações


A prefeitura informou que, para recompor as equipes, de 24 de dezembro de 2021 a 25 de janeiro de 2022, o município contratou 1.430 profissionais de saúde, sendo 309 médicos em diversas especialidades. “A Secretaria Municipal de Saúde trabalha ininterruptamente para manter plenas condições de assistência a toda a população”, defendeu. Há ainda um banco de currículos para contratação imediata de médicos. Os interessados devem acessar o Portal da Prefeitura de Belo Horizonte para realização do cadastro.




 
De acordo com o Observatório da Enfermagem, gerido pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), na quinta-feira, a média móvel de casos entre os profissionais da área estava em 49, tendo sido confirmados 64 novos diagnósticos de COVID-19 em 24 horas. O número aumentou exponencialmente nas últimas semanas, já que janeiro começou com a média em 7, patamar que estava estabilizado desde junho de 2021.
 
Por outro lado, a média móvel de mortes não aumentou – está paralisada em um óbito desde 7 de janeiro. Ainda assim, o Cofen reforça que “esses dados não refletem com precisão os afastamentos”, uma vez que sua atualização depende do envio de levantamentos dos conselhos regionais (Corens) junto aos responsáveis técnicos, “sendo inevitável a subnotificação e delay”.
 
“Temos um panorama geral em que os profissionais de saúde que atuam em ambientes hospitalares estão se afastando com COVID, pela Ômicron, e gripe. O Observatório da Enfermagem tem alguns registros ainda um pouco tímidos. Dentro do nosso próprio sistema, temos alto índice de profissionais que já se contaminaram com COVID-19 ou síndromes gripais. Em todo o país, temos profissionais que já foram afastados”, disse Eduardo Fernando, coordenador do comitê gestor da crise COVID-19 do Cofen.





São Paulo 


Levantamento feito pelo Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP) espelha a pressão imposta a esses profissionais com a escalada da variante Ômicron no Brasil, combinada ao surto de H3N2. De acordo com a pesquisa, quase 82% dos entrevistados disseram que estão atendendo mais pacientes e 33% relataram que a jornada de trabalho aumentou.
 
“Quando tenho um profissional afastado, acabo sobrecarregando outro. Isso influencia tanto na saúde do enfermeiro quanto na qualidade do atendimento ao paciente”, afirma Eduardo. “Enquanto a população não se conscientizar de que o distanciamento social, a máscara e a higienização das mãos são necessários, nunca vamos conseguir combater esse vírus”, acrescenta Eduardo Fernando. 
 

Servidor da Fhemig decreta greve 

 
Gabriela Silva Leão*

Trabalhadores dos hospitais públicos e estaduais da rede Fhemig decidiram entrar de greve por tempo indeterminado a partir do dia 3 de fevereiro. A assembleia geral foi realizada na tarde de ontem, na porta do Hospital João XXIII, em Belo Horizonte. Apesar da paralisação, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Rede Fhemig (Sindpros), Carlos Martins, garante o atendimento aos pacientes que já estão internado. “Mesmo com a greve, os atendimentos de urgência e emergência e cuidados com pacientes internados, serão mantidos, funcionando em escala mínima.”




 
Segundo o sindicalista, a indiferença do governo em atender a categoria foi a motivação para a greve. Os funcionários pleiteam uma melhora nas condições de trabalho há pelo menos dois anos, e denunciam a precariedade de dentro dos hospitais e na assistência aos pacientes e aos trabalhadores. “É preciso destacar também que, trabalhando nessas condições, estamos colocando em risco a vida dos pacientes e nossas próprias vidas”, acrescenta.
 
“Vamos utilizar da greve para tentar, mais uma vez, sensibilizar o governo e a sociedade a buscar uma solução para esses problemas que temos vivido nos hospitais”, completa Martins. Entre os problemas listados pela categoria estão pacientes nos corredores aguardando vagas em setores de tratamento, superlotação, falta de profissionais e problemas estruturais, como falta de ar-condicionado. Um dos exemplos seria o Hospital João XXIII, onde o bloco cirúrgico está funcionando com as portas abertas por causa do calor, segundo eles.

*Estagiária sob supervisão do subeditor João Renato Faria 

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