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Estado de Minas EDUCAÇÃO

Pitágoras fecha as portas

Colégio de mais de 55 anos credita encerramento das atividades a partir de 2022 ao contexto nacional


13/11/2021 04:00

Colégio Pitágoras
(foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)

 Pitágoras
Portão do Pitágoras, na Prudente de Morais, que atende estudantes do ensino infantil ao médio: anúncio põe fim à história iniciada em 1966 (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)


A história de Belo Horizonte passa, necessariamente, pela vida escolar, salas de aula e lições dos professores e pelo conhecimento dos estudantes. Por isso, é uma grande perda para a cidade quando um estabelecimento de ensino encerra as atividades. Ontem, foi anunciado o fechamento do Colégio Pitágoras, um dos mais tradicionais de BH, com previsão de término a partir de 2022. Neste período de pandemia, BH perdeu outras importantes instituições de ensino. Grupo de pais anuncia que vai à Justiça. Em nota enviada aos pais e responsáveis pelos alunos, a direção do colégio confirmou o fechamento e afirmou que vai finalizar as atividades escolares de 2021 sem alterações. “Seguindo nosso compromisso com a transparência, a confiança e o cuidado com toda nossa comunidade escolar, comunicamos na data de hoje, 11 de novembro de 2021, o encerramento das operações do Colégio Pitágoras em Belo Horizonte a partir do ano letivo de 2022", diz um trecho do comunicado.

A direção do colégio também explicou que firmou parceria com o Coleguium – outra instituição de ensino tradicional da capital – garantindo vagas para o próximo ano letivo, aos alunos interessados. “Zelando pelo comprometimento que sempre tivemos perante nossa comunidade escolar e pelo acolhimento, que é nossa marca registrada, firmamos parceria com o Coleguium, aqui de Belo Horizonte. Todos os nossos alunos e famílias interessadas terão vaga garantida para o ano letivo de 2022, basta citar o Pitágoras no contato com a Central de Relacionamento do Coleguium, no telefone (31) 3490-5000.” A faculdade Pitágoras continua aberta.

Quem estudou no colégio sente a perda de uma referência para a capital. "Estudei lá em 1999 e 2000. Vinha gente do interior para estudar no Pitágoras, pois preparava bem ia estudantes para o vestibular, especialmente da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Marcou uma época", diz o advogado Henrique Saade, de 36 anos, morador do Bairro Serra, na Região Centro-Sul da capital.

Conforme a nota divulgada ontem, a direção do colégio confirmou o fim das atividades em 2021 e alegou que a decisão foi tomada em função do contexto atual do país. Além disso, ressaltou que “os colaboradores estão recebendo o suporte necessário, além de todos os direitos garantidos e assegurados conforme a legislação vigente.”

HISTÓRIA


 Localizado na Avenida Prudente de Morais, no Bairro Cidade Jardim, na Região Centro-Sul da capital, o Colégio Pitágoras tem mais de 55 anos de atividade e atuava do ensino infantil ao ensino médio. O colégio iniciou suas atividades em 1966, com a fundação do Pré-Vestibular Pitágoras, por cinco jovens: Evando Neiva, João Lucas Mazoni Andrade, Júlio Cabizuca, Marcos Mares Guia e Walfrido Mares Guia. O cursinho funcionava na Rua Pernambuco, 880, no Bairro Funcionários, ao lado do Colégio Santo Antônio.

Na década de 1970, foram criados três colégios de educação básica na capital mineira. Já em 1979, são abertas unidades do colégio em outros países como Mauritânia, Iraque, Congo Francês, Equador, Peru e Angola. A partir da década de 1980, há expansão para vários estados brasileiros, entre eles Rondônia, Amazonas, Pará, Maranhão, Goiás e Bahia.

Em 1995, foi criada a Rede Pitágoras, com o objetivo de desenvolver uma relação de parcerias com escolas em todo o Brasil e o exterior, além de oferecer cursos e seminários de educação e treinamento para atualização e capacitação dos profissionais das instituições parceiras.

Em 1998, foi publicado o primeiro Projeto Pedagógico Pitágoras. No ano seguinte, foi criada a Fundação Pitágoras, com a missão de contribuir para a melhoria da qualidade da educação brasileira e para o alto desempenho dos alunos, especialmente da rede pública. Para isso, desenvolveu o Sistema de Gestão Integrado (SGI), com foco na melhoria da aprendizagem.

Em 2000, mais seis unidades foram implantadas no Japão, e, sete anos depois, ocorreu a abertura de capital do Pitágoras na BM&F Bovespa com o nome Kroton Educacional. A instituição recebeu aporte financeiro de um dos maiores fundos de capital privado do mundo, a Advent Internacional, em 2009.

Em 2010, a primeira escola brasileira no Canadá se tornou uma escola parceira da rede de ensino. Já em 2011, a Rede Pitágoras foi a primeira no setor de ensino a disponibilizar um canal de TV via satélite, exclusivo para as escolas parceiras. Em julho de 2019, o Colégio Pitágoras se tornou a segunda escola do estado de Minas certificada como Escola de Referência Google, um selo que reconhece instituições de ensino (públicas e privadas) que utilizam as ferramentas Google for Education.

OUTROS FECHAMENTOS 

Outros importantes estabelecimentos de ensino fecharam as portas em 2020. Em agosto deste ano, o Colégio Imaculada Conceição, com 106 anos de fundação, também anunciou o encerramento das atividades em dezembro. A Província do Brasil-Caribe da Congregação das Filhas de Jesus, responsável pelo Imaculada, alegou questões operacionais e a crise provocada pela pandemia de COVID-19 como motivos para o fim das atividades do colégio.

A crise financeira provocada pela pandemia atingiu, em setembro de 2020, outra tradicional instituição de ensino de BH, o Colégio Metodista Izabela Hendrix, com 116 anos de história. Apenas o centro universitário manteve suas atividades.

Grupo de pais vai à Justiça

Ganberini
Analista de relacionamento do Coleguium, Ganberini foi ao Pitágoras para atender os pais que quisessem fazer a transferência dos filhos (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)

Se para uns o anúncio do fechamento do Colégio Pitágoras foi motivo de tristeza, em outros provocou revolta. Muitas reclamações circularam em um grupo privado do Facebook e alguns pais já estudam tomar medidas jurídicas contra a instituição. “Indignação! Revolta! Grupo Eleva fecha portas do Colégio Pitágoras e comunica aos funcionários que serão desligados a partir de 21/12. Famílias que já tinham feito rematrícula são pegas de surpresa e precisam correr para conseguir vaga em outras escolas, caso não queiram aceitar a indicação de irem para o Coleguium”, diz o trecho da publicação de uma mãe, feita em rede social. Ela ainda comenta da reação dos alunos diante da notícia. “Hoje a comoção era geral na escola. Tenho notícias que crianças e adolescentes passaram mal de tanto que choraram!”

O advogado Renato Martins tem uma filha que estuda no colégio e está no segundo ano do ensino médio. Ele participa de um grupo de cerca de 70 pais que estão interessados em tomar medidas jurídicas contra o colégio. “Vários abusos que foram feitos pela instituição no fechamento. Primeiro, a maneira como o colégio fez a comunicação foi extremamente desrespeitosa. Nós recebemos um e-mail e um chamado pelos mecanismos de comunicação do colégio para uma reunião que aconteceria ontem (quinta-feira) às 19h, sobre diretrizes educacionais para o ano de 2022.”

Renato conta que a reunião seria exclusivamente presencial. Nem todos os pais podiam ir, eu mesmo não compareci. Mas, em quase todas as séries, algum pai foi.” Segundo ele, ao chegar à reunião os pais foram informados de que o colégio fecharia as portas. “De acordo com esses pais, estava presente também a equipe pedagógica do Coleguium, garantindo que a escola aceitaria todos os alunos, sem processo seletivo”. 

Segundo o grupo de pais, as instituições pertencem à mesma rede, a Eleva Educação. “Não há nenhum convênio, o colégio simplesmente optou por nos empurrar para um outro que é do mesmo grupo econômico que comprou o Pitágoras”, critica Martins.

Ele também acredita que o Pitágoras deixou para informar os pais do fechamento do colégio em novembro exatamente por isso.  “A operação de aquisição do grupo Eleva em relação à Saber Educacional é de março. Fomos comunicados em fevereiro desse processo. A operação precisou de autorização do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) porque implicava concentração de mais de 20% do mercado. Essa permissão do Cade veio por agora”. Para Martins, o plano de fechamento já existia. “É uma tentativa vil de obrigar o aluno a ir para o Coleguium.”

SOFRIMENTO 

Os pais relatam ainda o sofrimento de alunos de algumas turmas que estudaram o tempo todo juntos e agora terão que se separar. “Minha filha está no Pitágoras há três anos, mas na turma dela, hoje composta por 32 alunos, 27 estão juntos desde a primeira série, há 10 anos”, conta.

Ele avalia que se os pais tivessem sido avisados do encerramento das atividades no início do ano poderiam procurar um colégio que aceitasse a turma inteira, evitando o sofrimento dos filhos. 

 “Juridicamente, não conseguimos obrigar o colégio a continuar existindo.  A ideia é buscar indenização patrimonial para todos os pais e alunos prejudicados.”

TRANSFERÊNCIA 

Victor Ganberini é analista de relacionamento do Coleguium e estava no Pitágoras para atender os pais que quisessem fazer a transferência dos filhos. “Temos várias unidades para tentar atender o máximo possível. Hoje eu estava na escola para explicar a proposta do Coleguium, minimizar a parte burocrática de transferência”, disse. (Mariana Costa*)

*Estagiária sob supervisão da subeditora Rachel Botelho





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