Jornal Estado de Minas

QUEIMADAS E CLIMA

Setembro: Em 10 dias, Grande BH registra 112 incêndios

Minas Gerais continua sofrendo com aumento das queimadas. Conforme registros do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), setembro, historicamente, concentra a maior mediana de focos ativos de calor no estado.  Incêndios se propagam por toda Minas Gerais e o fogo se alastra por plantações, pastos e matas e altera até mesmo a paisagem urbana, como ocorreu ontem em BH, com céu encoberta por névoa

A seca severa – com regiões no estado há mais de 120 dias sem chuva – aliada ao lixo inflamável e pontas de cigarro atiradas das janelas dos carros, segundo o Corpo de Bombeiros, são as maiores causas de queimadas, em 99% dos casos, de origem humana.




 
(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
No Parque Estadual Serra Verde, em Venda Nova, incêndio voltou a mobilizar bombeiros e brigadistas ontem, em área próxima de residências (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
Dados do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) apontam que, entre o dia 1º de e ontem, foram registradas 1.208 ocorrências em todo o estado – uma média de 120,8 por dia até o momento – e 112 na Grande BH. No ano passado, foram 5.020 ao longo de todo o mês, com média diária de 167,33.

‘’Isso não me permite dizer que a gente esteja caminhando para uma redução nos números porque a realidade desse dado é a dos relatórios de eventos de Defesa Social que se encontram encerrados e tratados nesta data. Por exemplo, eu sei que temos várias ocorrências de incêndio neste momento sobre as quais ainda não foram produzidos os relatórios para ser encaminhados para estatística’’, explicou o major Welter Chagas, comandante do Batalhão de Emergências Ambientais e Resposta a Desastres (Bemad).
 
O certo, é que já houve um crescimento de 75% nos incêndios florestais na Grande BH em 2021, ainda sem computar os dados de setembro. Segundo a corporação, entre janeiro e agosto de 2020, foram 1.805 registros. Já neste ano, foram registrados 3.158 em igual período. Somente na capital, o aumento até agora foi de 51%. Foram 712 em 2020, e agora, 1.073, ou seja, 361 registros a mais. Mas no comparativo do último mês, de um ano para outro, o número subiu de 192 para 193.




 
Ontem, o Parque Estadual Serra Verde, Região de Venda Nova, em Belo Horizonte, voltou a registrar focos de incêndio na madrugada.  E as chamas continuavam a dar trabalho à noite.  Brigadistas e militares do Corpo de Bombeiros combateram as primeiras chamas logo atrás do Residencial Colônia da Serra, por volta das 18h40 de quinta-feira.
 
Foram necessárias ações de duas frentes dos agentes. Uma próxima ao Serviço Social do Transporte (Sest) e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat), na Rua Guido Leão, no Serra Verde. Havia também focos nas proximidades do Bairro Minas Caixa, também em Venda Nova. Segundo a corporação, a ocorrência foi finalizada cerca de duas horas depois, após a situação estar controlada. Não houve vítimas.
 
Porém, uma nova denúncia de fogo no parque foi recebida ontem por volta das 5h30. Uma equipe dos bombeiros atuaram durante a manhã combatendo pequenos focos para evitar que as chamas se alastrassem ao longo do dia. Durante a tarde, entretanto, por volta das 15h30, as chamas retornaram, com risco para residência, exigindo a ação de bombeiros noite a dentro. De acordo com a corporação, devido ao declive e vegetação densa, não foi possível ainda calcular a área queimada.




 
Ainda na manhã de ontem, por volta das 7h, um incêndio foi registrado na Avenida Senador José Augusto, no Bairro Buritis, Região Oeste de Belo Horizonte. Segundo o Corpo dos Bombeiros, foi apurado com o solicitante que havia muitas chamas no local, com risco de atingir torres da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). O fogo foi completamente controlado poucas horas depois. Militares informaram que foi feito combate em local de desnível próximo às torres. Não houve danos a elas.


NÉVOA SOBRE A CIDADE


Por causa das sucessivas queimadas e condições climáticas, Belo Horizonte seguia ontem sob uma névoa de fumaça. Segundo o major Welter Chagas, trata-se do fenômeno chamado inversão térmica – fenômeno climático em que a poluição urbana fica em suspensão, como se estivesse “presa” nas nuvens

‘’É bem característico desta época do ano, em que podemos observar que o céu está limpo com poucas nuvens mas com uma camada parecendo que tem uma névoa fina’’, explicou.  Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a previsão do tempo para o fim de semana na cidade é de calor, mas com possibilidade de pancadas de chuvas para amenizar a situação. Os termômetros podem variar de 20°C a 34°C.
 
Os bombeiros também trabalhavam ontem em uma frente para combater o fogo na Serra do Elefante, em Mateus Leme, na Região Metropolitana de BH. Estima-se que uma área de 5 hectares tenha sido queimada. Por volta das 18h, os focos isolados e distantes já tinham sido controlados, mas os militares continuavam atuando em um único ponto onde a linha de fogo avançava.





IMPACTO DO CLIMA


O maior agente dessas ocorrências é o homem, mas para além da causa humana, a situação está associada à condição climática: um período chuvoso menos intenso, com índices de umidade relativa do ar mais baixos e aumento de temperaturas médias.  ‘’Neste período, até primeira quinzena de outubro, a incidência de incêndios florestais aumenta por conta da combinação desses fatores’’, explicou o major.
 
No início da semana, o Parque das Mangabeiras, na Região Centro-Sul de BH, sofreu um incêndio que começou no fim da tarde de domingo (5/9) só foi controlado 24 horas depois. Foram mobilizados no local 20 militares, 10 brigadistas e um caminhão-pipa em apoio. O fogo queimou uma área de 23 hectares da reserva. Na terça-feira (7/9), a corporação atuou na contenção de chamas em uma mata próxima ao condomínio Veredas das Gerais, em Nova Lima. O incêndio foi debelado e o risco eliminado. Foram necessários 48 mil litros de água em uma área aproximada de 25 hectares.
 
Outro foco também atingiu a cidade na região da Alameda Serra do Cabral. Os militares foram acionados pelo morador de um condomínio durante a madrugada de quarta-feira (8/09). Segundo o Corpo de Bombeiros, não houve relatos de vítimas ou que as chamas atingiram propriedades particulares.




 
Em Rio Acima, uma região dentro do Parque Nacional da Serra do Gandarela ficou em chamas por quatro dias. O fogo começou em 4 de setembro e permaneceu até o dia 7, deixando como rastro 235 hectares de área queimada. De acordo com o gerente do parque Tarcísio Nunes, há suspeitas de que esse incêndio tenha sido criminoso. A equipe do parque está investigando as causas.


OUTRAS REGIÕES DO ESTADO


Ontem, os bombeiros voltaram a combater as chamas no Parque Estadual do Ibitipoca, que fica na Zona da Mata e, pelo terceiro dia seguido, atuaram no incêndio no Parque Estadual Serra de Ouro Branco, Região Central de Minas Gerais.
 
De acordo com o Corpo de Bombeiros, os trabalhos foram retomados por volta das 6h e parte da reserva ambiental já foi atingida pelo incêndio, considerado de grandes proporções. Diversos focos destruíram vegetações mistas de pasto, Cerrado e Mata Atlântica e ameaçam a Serra de Ouro Branco.



Segundo a última atualização do Corpo de Bombeiros, a equipe da força-tarefa, composta pelo Corpo de Bombeiros, Defesa Civil de Ouro Branco e IEF, trabalhou na quinta-feira com 23 combatentes e com 30 pessoas ontem. Na quinta-feira, foram utilizados dois aviões Air Tractor e um helicóptero do Previncêndio do Instituto Estadual de Florestas (IEF).

O combate, segundo o Corpo de Bombeiros, se concentrou principalmente abaixo do paredão da serra e uma linha de fogo permanece em um local de acesso impossível, o que levou os combatentes a fazer o controle no topo da serra. 
 O parque tem uma área aproximada de 7.520 hectares e de acordo com o Corpo de Bombeiros ainda não dá para calcular o tamanho da destruição que já atingiu a reserva ambiental.
 
*Estagiária sob supervisão da subeditora Rachel Botelho