Jornal Estado de Minas

PANDEMIA

Conheça mineiros que passaram a usar o Youtube depois da pandemia

Pegar o controle remoto da televisão e ficar o tempo todo assistindo a séries durante a pandemia. Certo? Nem sempre. Muita gente aproveitou o período pandêmico para desbravar a internet e buscar nela o que há de bom.




A rede oferece múltiplas escolhas e uma delas é o YouTube, canal de vídeos. Tem gente que nem tinha facilidade para “mexer” na plataforma, ou nem sequer a conhecia, e hoje faz dela um meio de divulgação do seu trabalho e até ganha algum dinheiro com isso.

Com mais tempo vago e em home office, muita gente migrou para o YouTube e de lá não quer sair mais, mesmo depois que a pandemia passar.
 
É o caso do escritor e professor Marco Túlio Costa, de Passos, que criou um canal para divulgar seus livros, debatê-los e já pensa em ampliar horizontes.

Marco Túlio tem 40 anos de literatura e 20 livros publicados, dois deles pela Amazon. Mas não foi tão fácil quanto parece a sua ligação e o “crescer e aparecer” na internet.




Acostumado a dar palestras em escolas, ele conta que é da geração “cara a cara” e há algum tempo havia pensado em abrir um canal. Com a pandemia, isso ficou evidente.

Era hora de botar a mão na massa. Em seu canal no YouTube, Marco Túlio fala sobre os seus livros, conta como foi escrever uma obra literária, a fonte de inspiração e o contexto político mundial e local de onde as histórias se passaram.

Para o “Mágico Desinventor”, seu primeiro livro, publicado em julho de 1981, ele dedica dois vídeos. “Eu falo o que as pessoas perguntam mesmo nas palestras que faço”, conta.
 
Futuramente, havendo mais contatos, pretende fazer um vídeo direcionado ao público infantil, um curso no campo infantil para ajudar o pessoal da área de Pedagogia, de Letras.

“Vamos desbravando, porque é um universo com múltiplas funcionalidades, não exige espaço físico e hora marcada”, confidencia. O leitor tem sido receptivo.

O canal é novo – foi criado em março –, mas as pessoas interagem bem. “Não penso em ser um ‘digital influencer’ e falar de literatura é um assunto mais específico, mas o canal tem 27 vídeos e tem gente que não sabia que eu havia escrito um determinado livro, por exemplo”, diz satisfeito com o resultado até agora.




 
Com o canal no YouTube, a professora Welma doou os primeiros 100 dólares que ganhou para a Região Norte de Minas, sua origem (foto: Arquivo Pessoal )
 

Dinheiro e fama na rede

A professora Welma Pereira da Silva, de Alpinópolis, natural de Montes Claros, fez dinheiro com o YouTube e resolveu ajudar as crianças carentes de seu lugar de origem.

Professora efetiva na Escola Estadual Dona Indá, graduada em geografia e pós-graduada em didática e metodologia do ensino superior pela UNIMONTES/Montes Claros, Welma conta que sempre foi apaixonada pela educação e, com a pandemia de COVID-19, descobriu que esse amor vai muito mais além.

No final do mês de março de 2020, as escolas da rede pública de ensino fecharam as portas, em função da pandemia, na tentativa de impedir que a contaminação da COVID-19 se alastrasse. Dessa forma, devido ao isolamento e pensando nos alunos que seriam prejudicados, começou a gravar videoaulas e publicá-las no YouTube.



 
Criou o canal “Mais Geografia” no YouTube, produziu vídeos utilizando os poucos recursos tecnológicos de que dispunha e buscou informações a fim de aprender a utilizar as tecnologias digitais.

Os principais recursos tecnológicos que utiliza são o aparelho celular, com os aplicativos Filmix, Picsart e Benime, e o programa PowerPoint, pelo notebook, que possui uma infinidade de funções para edição e criação de vídeos.

“O meu primeiro vídeo foi publicado no canal em 6 de maio de 2020 e, durante esse mês de maio, divulguei vários vídeos relacionados aos “Conceitos-chave de Geografia”. Trabalhei os vídeos de forma interdisciplinar, nos quais o conceito de 'lugar em geografia' dialoga com a língua portuguesa. Alunos e inscritos escreveram sobre o lugar onde vivem e publiquei esses relatos sob a forma de vídeo”, rememora.



 
Em junho de 2020, iniciou-se o teletrabalho na rede pública de ensino. Nesse modelo, o material mais importante seria o Plano de Estudo Tutorado (PET), utilizado para cumprir a carga horária do aluno.

Assim, trabalhando com o ensino remoto, Welma começou a produzir vídeos relacionados ao PET. “Elaborei vídeos de correções de atividades e vídeos contendo os trabalhos produzidos pelos alunos, referentes a atividades complementares envolvendo os conteúdos do PET. Para a minha surpresa, o canal cresceu bastante, havendo um aumento no número de visualizações e de inscritos”, diz.
 
A Plataforma do YouTube monetiza canais que publicam vídeos obedecendo às diretrizes. Para ser monetizado, o canal tem que possuir no mínimo 1.000 inscritos e ter mais de 4.000 horas de visualizações nos vídeos publicados nos últimos 12 meses. Somente é possível fazer o saque do dinheiro a cada 100 dólares acumulados.

“Quando tive conhecimento disso, elaborei um propósito: se esse teletrabalho – que se iniciou no intuito de auxiliar os alunos que ficariam prejudicados durante o isolamento – tivesse um retorno em monetização, os primeiros 100 dólares seriam doados para a Região Norte de Minas Gerais. Surpreendentemente, o canal, ao final de 2020, apresentava 300 dólares acumulados e mais de 5.000 inscritos. Deste modo, fiz a doação”, conta.



 
Neste ano, ela está trabalhando na produção de vídeos que, além da geografia, também englobam a geografia do dia a dia e a disciplina integradora 'Projeto de Vida'.

O número de visualizações diminuiu em relação ao ano passado, e Welma acredita que seja devido ao aumento do número de canais no YouTube, que também trabalham com o PET, criados por outros professores.

Entretanto, o canal já está novamente bem próximo de acumular os 100 dólares.
 
Embora demande muito esforço, o teletrabalho aumentou a autoestima dela, fazendo-a sentir-se grata por saber que, de alguma forma, trabalhou a educação a distância e ajudou pessoas de vários lugares de Minas.

E, apesar do retorno das aulas presenciais, esta será uma ferramenta que sempre irá utilizar, pois a tecnologia e os meios de informação são recursos que devem ser empregados para facilitar e potencializar a educação, proporcionando novas possibilidades de ensino e aprendizagem.




 
Claudia e Donizete Viana trocaram a TV pela internet e hoje conhecem boa parte do mundo através da rede (foto: Arquivo Pessoal )
 

Turistas digitais

O casal Claudia Elizabete Alves Viana e Donizete de Castro Viana, ela costureira e ele cabeleireiro, aproveita o momento para desfrutar de longas viagens pelo YouTube.

E quer conhecer o mundo inteiro através da plataforma. Com a ajuda da filha, que cursa relações internacionais pela Unesp, eles começaram a conhecer primeiro o Brasil e depois o mundo.

A primeira cidade brasileira que conheceram foi Porto Seguro (Bahia), lugar que já tinham ido a passeio e de onde puderam rememorar coisas pitorescas e 'visitar' lugares que a viagem in loco não permitiu.

Depois, eles conheceram todas as capitais do Brasil. “Para mim, o YouTube proporciona adquirir conhecimento e culturas novas sem sair de casa e sem gastar”, conta Claudia, que trocou as insossas novelas pelo conhecimento.

Agora, o casal está conhecendo o continente europeu. A Itália, a cidade medieval na Bélgica, Bruges, onde muitos castelos que não foram atingidos pela guerra estão muito bem preservados.

“No ano 60 d.C, o apóstolo Paulo vindo de Jerusalém para Roma, numa tempestade grande, ao chegar na ilha de Malta, teve o navio destruído e lá ele curou o administrador doente. Em agradecimento, construiu lá a igreja de São Paulo, que recebe turistas até hoje e que o Donizete gostaria de conhecer. Estivemos lá pelo YouTube”, conta Claudia, em alusão a um local que o marido gostaria de pisar.
 

 
 

 
 




audima