Jornal Estado de Minas

ANIVERSÁRIO

Tradicional toque dos sinos vai marcar os 310 anos de Ouro Preto

Existem muitas formas de expressar alegria ao comemorar um aniversário. Um grupo de 20 sineiros encontraram na linguagem do toque dos sinos a forma de dizer parabéns aos 310 anos de elevação dos arraiais mineradores à cidade de Vila Rica.





O toque festivo do badalar dos sinos vão ressoar em 11 igrejas do perímetro do centro histórico de Ouro Preto em uma sinerata, marcada para esta quinta-feira (8/7), às 12h, sendo que os repiques também vão homenagear os profissionais da saúde.
 
Presente em várias transformações sociais, políticas e culturais da antiga Vila Rica, atual Ouro Preto, os sinos, os toques e os sineiros serviram de mensageiros e marcaram o ritmo dos acontecimentos.

Um deles é o sino da capela de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Brancos, mais conhecida como capela do Padre Faria.  
 
De acordo com a secretária de Cultura e Patrimônio de Ouro Preto, Maria Margareth Monteiro, o sino da capela de Padre Faria já foi um instrumento de comunicação relevante.




Em 12 de maio de 1792, quando a cabeça Joaquim José da Silva Xavier, Tiradentes, foi exposta no centro da Praça Santa Quitéria, hoje Praça Tiradentes, todos os sinos tocavam toques festivos em comemoração à morte de um traidor da coroa portuguesa. 

No entorno da capela de Padre Faria, onde moravam os escravos, o religioso e sua comunidade protestaram contra os desmandos de Portugal por meio dos sinos, com toques fúnebres.
 
“O ilustre e antigo comunicador vai participar da sinerata e, após o evento, será retirado da capela e passará por um processo de restauração. Depois de restaurado, o sino vai ser uma das atrações da Bienal de São Paulo, marcada para 2022, em que será comemorado o bicentenário da Independência”.
Após a festividade, o sino da capela de Padre Faria será retirado e passará por um processo de restauração. Depois de restaurado, será uma das atrações da Bienal de São Paulo, marcada para 2022 (foto: Ane Souz/Divulgação)
 
O ofício de sineiro tem resistido ao tempo em algumas cidades, mantendo a tradição – muitas igrejas substituíram o trabalho manual do toque por equipamentos eletrônicos.




 
O ouropretano Thiago Viana Neves, de 25 anos, vai participar da orquestra dos sinos e conta que após se unir a outros sineiros, em 2013, e criarem Associação dos Sineiros de Ouro Preto, descobriram registros de documentações musicais dessa tradição de sinerata feita em outras épocas, e que foi esquecida durante um período.
 
"Decidimos, desde então, resgatar essa tradição. Para nós, é muita alegria fazer a sinerata dos 310 anos e fortalecer os vínculos do povo com o passado que nos trouxe até a Ouro Preto de 2021”.
 

Linguagem do toque é Patrimônio

O Toque dos Sinos em Minas Gerais só foi reconhecido como patrimônio nacional em 2009. O Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) aprovou o pedido de registro dessa manifestação cultural após a união dos sineiros de diversas cidades históricas de Minas Gerais, que mostraram a necessidade de proteção desse bem cultural.




 
Thiago Viana destaca que, atualmente, a discussão sobre os desafios do ofício dos sineiros é como trazer novas pessoas para perpetuar a cultura e manter a tradição dos toques.

Para o sineiro, as pessoas têm um apego às questões tecnológicas e não entendem que os sinos também são um meio de comunicação e que ainda podem divulgar notícias no calor dos acontecimentos.
 
“A associação em Ouro Preto anda inativa e estamos em processo de revalidação do título de patrimônio nacional, que acontece de 10 em 10 anos e já deveria ter acontecido”.
 
Segundo Viana, o processo de revalidação do título nas nove cidades inventariadas pelo Iphan é obrigatório a cada 10 anos, isso pela própria dinâmica dos processos culturais e suas transformações. Esse é um dos motivos pelos quais o Decreto 3.551/00 prevê no Art. 7º a revalidação do título.




 
“O processo é feito para verificar se aquele patrimônio continua inalterado, como ele é trabalhado, mantido no local do registro, e é feito para entender o contexto desse patrimônio na atualidade”.
 

Espelho da Memória

Também no dia 8 de julho será aberta para visitação, até 18 de julho, no alteamento da Praça Tiradentes, a Mostra Fotográfica Espelho da Memória, com fotos de Luiz Fontana, que foi um dos mais importantes fotógrafos atuantes em Ouro Preto, tendo deixado notável acervo de imagens fundamentais para o conhecimento da cidade na primeira metade do século 20.
 
De acordo com a secretária municipal de Cultura e Patrimônio, Maria Margareth Monteiro, "a mostra chama a atenção para o que Ouro Preto era no início do século 20, de 1920 a 1940, e tem como um dos objetivos despertar o olhar do espectador para o que Ouro Preto é hoje e levar a comunidade a pensar a cidade desejável para daqui 10 anos, com a revisão do Plano Diretor. A revisão do Plano Diretor está parada desde 2016 e Ouro Preto precisa de um direcionamento para a lei de ocupação do solo para habitação e moradia e estamos usando as cerca de 1.500 fotos do acervo de Luiz Fontana como um retrovisor do que foi e uma orientação para o futuro”.




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