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Estado de Minas

Colégio faz postagem responsabilizando mulheres por serem estupradas

'Teólogos ensinam que o pecado da sedutora é muito maior que o da pessoa seduzida', afirma a instituição católica. Postagem foi apagada depois


01/06/2021 17:24 - atualizado 01/06/2021 18:34

Colégio Recanto do Espírito Santo se desculpou pela publicação, mas com ressalva: 'Apesar de concordarmos com a modéstia no vestir, o texto em questão deixou margem para interpretações que não são as do colégio. Pedimos desculpa'
Colégio Recanto do Espírito Santo se desculpou pela publicação, mas com ressalva: "Apesar de concordarmos com a modéstia no vestir, o texto em questão deixou margem para interpretações que não são as do colégio. Pedimos desculpa" (foto: Nino Carè/Pixabay)
Um colégio católico de Itaúna, Região Centro-Oeste de Minas, causou revolta com a postagem que fez em sua página no Instagram, nesta terça-feira (1º/6), na qual responsabiliza as mulheres por serem estupradas.

"Quando a mulher decide expor partes do corpo que deveriam estar cobertas se torna uma sedutora, partilhando assim a culpa do homem. De fato, os teólogos ensinam que o pecado da sedutora é muito maior que o da pessoa seduzida", afirma a postagem do Colégio Recanto do Espírito Santo, uma instituição ligada ao movimento católico conservador em Itaúna.
Postagem foi feita na manhã desta terça-feira (1º/6)
Postagem foi feita na manhã desta terça-feira (1º/6) (foto: Arquivo pessoal)
Após a repercussão negativa, o colégio apagou a postagem e desativou os comentários em todas as publicações da página.

Em uma publicação nos stories da rede social, o colégio pediu desculpas e reafirmou que concorda com a “modéstia no vestir”.

“Olá, paz e alegria! Foi feita uma postagem indevida por quem administra nossas redes sociais. Apesar de concordarmos com a modéstia no vestir, o texto em questão deixou margem para interpretações que não são as do colégio. Pedimos desculpa. O post foi excluído. #nãoaoestupro, #aculpanuncaédavitima", afirmou a postagem subsequente.
Colégio pediu desculpas, mas reafirmou concordar com 'modéstia no vestir'
Colégio pediu desculpas, mas reafirmou concordar com "modéstia no vestir" (foto: Reprodução redes sociais)
 
O Estado de Minas entrou em contato com o colégio para saber quem é responsável pela administração das redes sociais, se a pessoa sofrerá algum tipo de punição e também o motivo pelo qual os comentários nas publicações foram desativados.

A secretária acadêmica do colégio informou que a direção iria responder, mas não retornou até o momento da pubicação da matéria.
 

Indignação

A postagem causou revolta entre moradores e educadores de Itaúna. Uma professora de outra instituição de ensino da cidade, que prefere não ser identificada para não sofrer represálias, espera que o colégio seja punido.

“Quando uma instituição de ensino faz apologia à cultura do estupro, culpabilizando a maneira de se vestir de uma mulher em suas redes sociais, o que sentimos é um choque. Um grito abafado. Temos vivido um período difícil, de retrocesso e que dá margem a todo e qualquer tipo de absurdo. A postagem desse colégio é de extrema irresponsabilidade, chegando a ser criminosa. É por conta desse tipo de coisa que muitas mulheres não denunciam estupros e outras violências que sofrem. Não podemos nos calar diante de tal absurdo e a devida instituição precisa, sim, ser punida juridicamente e responsabilizada.”
 
Nas redes sociais, as pessoas também se manifestaram. Outra moradora afirmou “sentir pena das crianças que estão crescendo com esse tipo de ensinamento”.
Postagem causou revolta nas redes sociais
Postagem causou revolta nas redes sociais (foto: Reprodução redes sociais)
 

Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres

A presidente do Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres e integrante da Comissão da Mulher Advogada da OAB Minas Gerais, advogada Cristiane Lara, lamentou a postagem do colégio. 

"Nós, mulheres e homens, temos o dever de zelarmos e vigiarmos para que nossos direitos não nos sejam tomados e essa publicação sugere justamente o contrário. Esperamos de uma escola que ensine que todos devemos respeitar mulheres e meninas como seres dotados dos mesmos direitos e deveres que os homens e meninos. Repudiamos o conteúdo desta postagem e entendemos como inadmissível a propagação de pensamentos preconceituosos e que não contribuem para uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária e liberta de preconceitos" afirmou a advogada, que também integra o núcleo Maria da Penha do projeto Direito na Escola.
 
 
 


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