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Estado de Minas PATRIMÔNIO

A Unesco já sabia: o que levou igrejas de MG à lista das mais belas do país

Conheça as características dos quatro templos mineiros eleitos em ranking entre os 10 mais bonitos do país. Três deles já foram eleitos Patrimônio da Humanidade


30/05/2021 06:00 - atualizado 30/05/2021 07:17

Presença na lista do turismo internacional faz jus a uma maravilha entalhada pelas mãos de diversos talentos(foto: JUAREZ RODRIGUES/ EM/D.A PRESS )
Presença na lista do turismo internacional faz jus a uma maravilha entalhada pelas mãos de diversos talentos (foto: JUAREZ RODRIGUES/ EM/D.A PRESS )
Monumentos do mundo, da arte mineira e da história nacional, independentemente de estilo, dimensões, época em que foram erguidos. Entre as quatro igrejas de Minas destacadas pela agência espanhola Civitatis, que elegeu as mais bonitas do Brasil para se visitar, três espaços sagrados fazem parte de conjuntos reconhecidos pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como patrimônio da humanidade.

Uma dessas joias, integrante do acervo barroco de Ouro Preto, na Região Central do estado, é a Basílica Nossa Senhora do Pilar, que sobressai como uma das mais ricas em elementos artísticos do país. Também do século 18, e da mesma forma reconhecido pela Unesco, o Santuário Basílica Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, na Região Central, atrai gente de todo canto para ver os profetas esculpidos em pedra-sabão por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814).

Já na capital, fica a Capela Curial São Francisco de Assis, mais conhecida como Igrejinha da Pampulha e vinculada à Arquidiocese de Belo Horizonte, ícone do conjunto moderno. Tombada, como os demais templos citados, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), também recebeu a chancela da Unesco.

Em Sabará, na Grande BH, os olhos dos visitantes se encantam com a singela Igreja Nossa Senhora do Ó, chamada popularmente de Igrejinha do Ó, que abriga as famosas “chinesices”, alvo de constantes pesquisas e curiosas descobertas.

Derivada da palavra francesa “chinoiserie”, chinesice é uma referência ao conjunto de pinturas que recriaram, no século 18, em igrejas e capelas de Minas, os pagodes ou pagodas (tipo de torre com fins religiosos, comuns na China e outros países da Ásia), além de animais e paisagens. Conheça abaixo mais alguns detalhes desses tesouros de Minas para o mundo.


 

» BASÍLICA NOSSA SENHORA DO PILAR (OURO PRETO)

Cultura, arte, beleza e fé. A escolha da Basílica do Pilar como uma das mais belas igrejas do Brasil se torna ótima oportunidade para conhecer uma história que se confunde com a de Ouro Preto, antiga Vila Rica. Segundo especialistas, trata-se de um espaço único, com arquitetura belíssima e características muito particulares.

A nave tem forma de polígono de oito lados, com seis altares, tribunas sobrepostas e área específica para o coro. Nos retábulos ficam as imagens de São Miguel e Almas, Santana, Senhor dos Passos, Santo Antônio dos Pardos, Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e Nossa Senhora das Dores. O templo é tombado desde 1930 pelo Iphan.

Meio século depois do reconhecimento nacional, o Centro Histórico da cidade receberia o título de patrimônio da humanidade, o primeiro conquistado pelo país.

O projeto e a execução do entalhe são de autoria do português Francisco Xavier de Brito, que chegou a Vila Rica em 1741, trabalhou no Pilar de 1746 a 1750, e, conforme estudos e registros históricos, teria sido mestre de Aleijadinho.

Outros entalhadores portugueses importantes trabalharam ali, entre eles Manoel de Brito e o mestre de obras Pedro Gomes Chaves.

Já as pinturas têm a marca de João de Carvalhaes, Bernardo Pires da Silva, João Batista de Figueiredo e Manoel Ribeiro Rosa. Ainda atuaram no conjunto o entalhador Ventura Alves Carneiro, em 1751, no arco-cruzeiro, e José Coelho de Noronha (1754), autor do resplendor do trono, atualmente no coro.

Em 1705, nos arraiais que deram origem a Vila Rica, já se falava na devoção a Nossa Senhora do Pilar, que teria chegado à região com os bandeirantes.

Fatos importantes tiveram o primitivo templo como palco, entre eles a posse, em 1711, do governador Antônio de Albuquerque, quando os arraiais se transformaram em Vila Rica.

Na mesma data, a imagem da padroeira foi entronizada e, no ano seguinte, o bispo do Rio de Janeiro, dom frei Francisco de São Jerônimo, nomeou um pároco e autorizou a compra dos vasos sagrados (cálices, âmbulas etc.) e paramentos em quatro cores (vermelho, verde, branco ou amarelo e preto) para celebração dos sacramentos, além da presença de uma pia batismal.

O tempo passou, a população cresceu, até que, em 1728, a mesa administrativa das irmandades do Santíssimo Sacramento e de Nossa Senhora do Pilar decidiram aumentar a igreja, que já não comportava o número de fiéis.

Da mesma forma, o terreno se tornava pequeno para construção dos túmulos dos irmãos. As obras de ampliação começaram dois anos depois e ganharam uma inauguração, que passou à história como a maior festa dos tempos coloniais.

O Triunfo Eucarístico, em 1733, em tom quase operístico, misturou elementos sacros e profanos em cortejo pelas ruas de Vila Rica.

Em 2012, a Matriz do Pilar se tornou basílica por decreto do papa Bento XVI.

Riqueza de detalhes internos do templo contrasta com a simplicidade externa e desafia estudiosos(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Riqueza de detalhes internos do templo contrasta com a simplicidade externa e desafia estudiosos (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)

 

» SANTUÁRIO BASÍLICA SENHOR BOM JESUS DE MATOSINHOS (CONGONHAS)

 

O turismo religioso sempre foi intenso em Congonhas, especialmente em setembro, quando ocorre a centenária peregrinação ao Santuário Basílica Senhor Bom Jesus de Matosinhos, reconhecido como patrimônio cultural mundial pela Unesco em 1985.

De acordo com o Iphan, responsável pelo tombamento do bem em 1939, o templo começou a ser construído na segunda metade do século 18.

O conjunto edificado é formado pela igreja, com interior em estilo rococó, adro murado e escadaria externa monumental decorada com as esculturas dos 12 profetas em pedra-sabão (trabalho concluído em 1805), além de seis capelas dispostas, lado a lado, com as imagens recriando a via-crúcis.

Na avaliação de estudiosos, a inspiração está fortemente relacionada a exemplares portugueses como a Igreja Bom Jesus do Monte (Braga) e o Santuário Nossa Senhora dos Remédios (Lamego), ambos em Portugal.

Quem visita o santuário vai se maravilhar também com as 66 esculturas de madeira policromada em tamanho natural abrigadas nas capelas que “compõem um dos mais completos grupos escultóricos de imagens sacras no mundo, sendo, sem dúvida, uma das obras-primas de Aleijadinho, que deixou para a humanidade uma obra de grande expressão e originalidade”, na definição do Iphan.

O santuário do Bom Jesus de Matosinhos foi fundado pelo minerador português Feliciano Mendes,  depois de conseguir cura milagrosa. Assim, a construção do templo é considerada um grande ex-voto ou pagamento de promessa.

Em 1757, Feliciano Mendes, que chegara à região em busca de riquezas, após cura de grave enfermidade finca uma cruz no alto do Morro Maranhão.

Com oratório pendurado no pescoço,  passa a esmolar para construir o templo em homenagem ao Bom Jesus. Nessa empreitada, que dura alguns anos, os sucessores de Feliciano, que morreu em 1765, convocam Aleijadinho.

 

» IGREJA NOSSA SENHORA DO Ó (SABARÁ)

 

Há muito para se descobrir e se encantar em Sabará, uma das primeiras vilas do ouro de Minas. E o roteiro passa necessariamente pela singela Igreja Nossa Senhora do Ó, mais conhecida como Igrejinha do Ó, nome derivado das antífonas em louvor à Virgem Maria.

Construção que destaca as formas de Niemeyer traz no interior tesouros concebidos por Portinari(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Construção que destaca as formas de Niemeyer traz no interior tesouros concebidos por Portinari (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)

Devotos iniciaram em 1717 a construção da capela, sobre a qual persistem mistérios. Pesquisadores supõem que nela teriam trabalhado artesãos vindos das possessões portuguesas no Oriente, e que o pintor Jacinto Ribeiro seja o autor das “chinesices” no interior. Documento datado de 1721 se refere ao artista como natural da Índia e morador da capitania das Minas desde 1711.

Na Igrejinha do Ó, destacam-se paredes revestidas de painéis emoldurados e teto em caixotões também com moldura.

Segundo dados do Iphan, são 15 painéis emoldurados, com pintura decorativa em ramagens e cartelas contendo símbolos da Virgem Maria, enquanto nas paredes laterais se encontram 14 painéis com pinturas figurativas alusivas ao nascimento e à infância de Cristo.

Também o arco-cruzeiro, com trabalhos em talha dourada, apresenta pintura em pequenos painéis em moldura octogonal, em estilo e motivos chineses, delicadamente pintados em ouro sobre azul, além de painéis no forro sobre a vida de Maria e, nas paredes laterais, cenas diversas alusivas à Sagrada Família.

Especialistas explicam que “a unidade decorativa do seu interior advém, principalmente, da harmonia conferida pelos elementos de policromia, o ouro, o vermelho e o azul, de gosto orientalizante, inspirado talvez na louça de Macau (China), largamente usada no Brasil naquela época”.

Brasileiros e estrangeiros se impressionam com as chinesices do templo barroco, que incluem até santos com olhos puxados. Segundo levantamento do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), chinesices podem ser contempladas também na Matriz Nossa Senhora da Conceição, em Sabará, e em outras cidades mineiras, a exemplo de Mariana, Catas Altas e no distrito de Cocais, em Barão de Cocais.

 

» IGREJA SÃO FRANCISCO DE ASSIS, NA PAMPULHA (BELO HORIZONTE)

Impossível visitar Belo Horizonte sem ir à Pampulha – e de forma bem especial à Igreja São Francisco de Assis, cartão-postal da cidade e ícone do conjunto moderno reconhecido pela Unesco, em 2016, como patrimônio da humanidade.

Reaberto em 4 de outubro de 2019, após um ano e três meses de obras de restauração, o templo projetado por Oscar Niemeyer (1907-2012), com jardins do paisagista Burle Marx (1909-1994), foi a última construção do complexo arquitetônico.

Na época (década de 1940), o visual moderno causou grande impacto e o templo não foi compreendido como espaço religioso. Durante 14 anos (1945-1959), ficou sem bênção oficial devido às formas criadas pelo arquiteto carioca Niemeyer.

Mesmo com os 14 painéis da via-sacra de Cândido Portinari (1903-1962), autor também do painel externo em azulejos, homenageando o santo padroeiro, houve reprovação de parte da comunidade católica, principalmente do então arcebispo de BH dom Antônio dos Santos Cabral (1884-1967).

Na parte interna, outra polêmica envolveu o cachorro que Portinari incluíra ao lado de São Francisco, também não aceito pelo arcebispo no interior de um templo religioso. Somente em 1958 a igreja foi entregue ao culto católico, sendo a primeira missa celebrada em 1959.

Na parte externa, podem ser admirados, além dos jardins de Burle Marx, o revestimento em pastilhas de Paulo Werneck (1903-1962). Dentro, destacam-se os baixos-relevos em bronze do batistério, do escultor Alfredo Ceschiatti (1918-1989), além do trabalho de Portinari.

O conjunto da Pampulha tem tombamento federal, estadual e municipal e, em 17 de julho de 2016, recebeu o reconhecimento da Unesco como patrimônio da humanidade.


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