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Estado de Minas SAÚDE

Medicamento é nova esperança na luta contra o câncer

Em testagem pré-clínica, medicamento usado para tratar hipertensão pulmonar se mostrou eficaz contra tumores. Pesquisadores agora planejam testes em humanos


22/05/2021 04:00 - atualizado 22/05/2021 07:44

(foto: Pixabay)
(foto: Pixabay)


Uma nova esperança contra o câncer. É assim que o medicamento “Ambrisentan”, usado para tratar quadros de hipertensão pulmonar, passa a ser visto pela comunidade médica. Isso porque pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) concluíram, em estudo, que o fármaco pode reduzir a capacidade de células tumorais migrarem e invadirem outros tecidos em testes feitos com linhagens de tumores de pâncreas, ovário, mama e leucemia.
 
Segundo os dados apresentados pela pesquisa ainda em testagem pré-clínica (em animais), o medicamento reduziu em 47% a incidência de metástase – formação de uma nova lesão tumoral a partir de outra, mas sem continuidade entre as duas – no fígado e nos pulmões e, também, aumentou a sobrevida dos camundongos tratados com o remédio em comparação aos que não receberam doses do fármaco.
 
(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)
 
 

"Se for confirmado, a droga teria um efeito sistêmico, não apenas inibindo a migração do tumor para outros tecidos, como também bloqueando a geração de novos vasos que o fazem crescer"

Otávio Cabral Marques, pesquisador do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) e coordenador do estudo

 
 
O estudo, financiado pela Fapesp, foi publicado na revista “Scientific Reports”. “Esse medicamento é um inibidor do receptor da endotelina A, que age na constrição dos vasos sanguíneos. Por isso, é usado para tratar a hipertensão pulmonar – normalmente causada por doenças autoimunes como lúpus e esclerose sistêmica”, explica Otávio Cabral Marques, pesquisador do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) e coordenador do estudo.
 
Segundo ele, apesar de algumas diferenças, a ação é bem parecida no que diz respeito ao tratamento para câncer.

“As células em que ele agiu foram diferentes, mas o receptor que ele age também se expressa em células cancerígenas. Esse receptor que controla e modula a pressão do material pulmonar desses pacientes hipertensos também modula a movimentação das células tumorais. Ele atua em algumas vias, que a gente chama de vias de sinalização, são moléculas, comunicadores que trabalham dentro das células mandando informação para a célula se movimentar e espalhar. Então ele controla, modula e reduz essa ativação”, afirma.
 
É como se esse receptor, então, colocasse a célula em estado de alerta e de movimentação para o estado natural e não cancerígeno. Mas, ao que tudo indica, os resultados apresentados pelo estudo podem ir além.
 
“Parece que o efeito da droga não é apenas na migração das células tumorais, mas também na neoangiogênese, ou seja, na formação de novos vasos sanguíneos necessários para alimentar o tumor. Estamos realizando experimentos para comprovar isso. Se for confirmado, a droga teria um efeito sistêmico, não apenas inibindo a migração do tumor para outros tecidos, como também bloqueando a geração de novos vasos que o fazem crescer”, aponta o coordenador do estudo.

RISCOS?


A princípio, o medicamento não apresentou reação adversa, fator importante no tratamento de câncer, já que as terapias atuais normalmente expressam métodos invasivos e com efeitos colaterais fortes e nocivos ao organismo. É o caso da quimioterapia, por exemplo.
 
“Esse medicamento não tem o mesmo impacto danoso que os outros teriam. A ideia, então, seria associar o tratamento do câncer com esse medicamento para que ele possa reduzir a necessidade da quimioterapia excessiva. Essa redução pode ser algo muito benéfico para os pacientes, tanto do ponto de vista do tratamento em si quanto no que tange a qualidade de vida do paciente com câncer”, aponta Otávio Mendes.
 
Além disso, o pesquisador ressalta que, haja vista o já uso do medicamento para tratar quadros de hipertensão pulmonar, o fármaco já é testado e comprovado como não danoso. Mais um ponto positivo e de esperança para os pacientes com câncer.

O ESTUDO


A pesquisa foi uma surpresa boa também para os pesquisadores. “Estávamos estudando sobre anticorpos e usávamos o medicamento para bloquear os anticorpos, e vimos que o efeito do fármaco era bloquear o espalhamento dessas células. Foi um acidente, na verdade. Aí, pensamos: ‘Se está fazendo isso, será que se usarmos no tumor, não vai ser importante para reduzir a metástase?’.”

“Então, comecei e analisar várias linhagens de células de tumor e fazer experiências. Não foi premeditado, foi acidental. De vez em quando isso acontece, é um fenômeno interessante”, conta Otávio Mendes.
 
A pesquisa usou uma técnica para medir a migração celular para, em seguida, testar o medicamento. Então, camundongos no estágio inicial de uma linhagem agressiva de câncer de mama foram tratados por duas semanas antes de terem o tumor implantado e duas semanas depois. Nesse experimento, a redução da metástase foi de 43%, aumentando a sobrevida dos animais.
 
“Como a metástase das células 4T1 ocorre muito rapidamente nos camundongos, iniciamos o tratamento antes, para podermos nos aproximar mais do que aconteceria com humanos”, explica o pesquisador.
 
Agora, o estudo se prepara para os testes clínicos. A ideia é testar o medicamento em pacientes que já realizam quimioterapia e observar se eles se recuperam melhor do que o grupo controle, que passa apenas pelo tratamento padrão.

E embora o fármaco tenha a vantagem de ser administrado por via oral, o pesquisador acredita na possibilidade de fazer uma aplicação direta no tumor, de forma a aumentar o efeito. Ainda não foi definido em que tipo de câncer serão feitos os testes clínicos.

Haja vista a ainda testagem clínica do medicamento para tratar cânceres, o uso do fármaco ainda não é indicado em quadros de tumores malignos.
 

"Esses estudos avaliaram a frequência e os tipos de atrasos e interrupções na prevenção ou no tratamento de pacientes com câncer em todo o mundo"

Rachel Riera, reumatologista que liderou a pesquisa sobre o impacto da COVID-19 no tratamento do câncer

 
 
 
(foto: Arquivo pessoal )
(foto: Arquivo pessoal )
 
 

Estudo aponta impacto da pandemia na oncologia 

 
Desde que a pandemia de COVID-19 atingiu o Brasil, em março do ano passado, saúde e bem-estar se tornaram o cerne do mundo e das discussões públicas. Porém, os impactos negativos foram, e ainda são, enormes no que tange ao rastreamento, prevenção, diagnóstico e tratamento de patologias secundárias.

Na oncologia, os dados ilustram bem a situação, como aponta um estudo brasileiro realizado pelo Núcleo de Avaliação de Tecnologias em Saúde Sírio-Libanês Ensino e Pesquisa, do Hospital Sírio-Libanês.
 
De acordo com a pesquisa – feita por meio do mapeamento e análise de evidências científicas de cerca de 3 mil publicações –, liderada pela reumatologista Rachel Riera e de coautoria de oncologistas do Departamento de Doenças não Transmissíveis da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 50% dos pacientes com câncer atrasaram o tratamento por conta da pandemia de COVID-19.
 
O estudo também mostrou, por meio de levantamentos, que 60% dos médicos reportaram atrasos no tratamento, sendo que 90% se referiam à radioterapia, 20% à quimioterapia e 76% às cirurgias.

Além disso, 77,5% dos pacientes interromperam os tratamentos durante a pandemia, inclusive o de cuidados paliativos. Nesse mesmo cenário, o relato de médicos em relação à interrupção de terapias é de 48%.
 
Também foi observado o atraso nos transplantes de células-tronco, segundo relato de 73% dos oncologistas. Ainda conforme os índices levantados, 88,5% dos centros oncológicos afirmaram ter registrado atrasos da pandemia na realização de exames laboratoriais para diagnóstico de câncer e 83,6% apontaram demora nos exames de imagem. O resultado disso: 77% de queda nos diagnósticos de câncer desde o início da pandemia de COVID-19.

NÃO COMPARECIMENTO


Outros dados sobre consultas apontam que 95% dos pacientes, médicos e centros médicos especializados reportaram cancelamento de consultas de acompanhamento, ao mesmo passo em que 42,5% dos médicos e pacientes apontaram que, muitas vezes, nem sequer havia a comunicação, mas apenas o não comparecimento em consultas já marcadas.
 
Os principais motivos para o atraso ou interrupção de tratamentos oncológicos por parte dos pacientes, segundo o levantamento, diz respeito ao medo de contágio da doença causada pelo novo coronavírus – COVID-19. Já para os médicos, as justificativas foram: risco de contrair COVID-19, falta de medicamentos, falta de equipes e falta de serviços de apoio.
 
“Esses estudos avaliaram a frequência e os tipos de atrasos e interrupções na prevenção ou no tratamento de pacientes com câncer em todo o mundo. A produção científica durante a pandemia está sendo intensa e crescente, o que possibilitou uma gama muito grande de estudos que pudessem ser incluídos na revisão sistemática. No entanto, isso também exige que a revisão seja atualizada frequentemente”, aponta Rachel Riera.
 
Para o oncologista Felipe Roitberg, do Hospital Sírio-Libanês e consultor da OMS, também autor da revisão sistemática, o trabalho constitui o melhor nível de evidência possível para tomadas de decisão em saúde pública.
 
“O principal objetivo agora é entender onde moram os elementos responsáveis pelos atrasos e disrupções no sistema de saúde mapeados pelo estudo publicado, mensurá-los por meio de modelos preditivos, e apontar soluções que minimizem os consequentes atrasos no atendimento aos pacientes de doenças crônicas, entre elas o câncer. Dessa forma, os países poderão mensurar as vidas salvas ao retomar os cuidados dos pacientes e salvar vidas”, diz.
 
Essa revisão sistemática inclui a análise de estudos avaliados que reportam dados de pacientes com câncer de mama, cabeça e pescoço, urológico, colorretal, pele, hematológico, ginecológico, pediátrico e pulmão. Também foram analisados estudos que destacam diferentes tipos de câncer. A pesquisa foi publicada na última edição da revista JCO Global Oncology, da Sociedade Norte-Americana de Oncologia Clínica (Asco, na sigla em inglês). (JM)

*Estagiária sob supervisão da editora Teresa Caram 
 

 


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