Jornal Estado de Minas

COVID-19

Com vacinação a conta-gotas, Brasil tem morte acelerada entre jovens


Mortes por COVID-19 dispararam entre brasileiros não vacinados em abril, chegando a alta de 57% entre pessoas de 40 a 49 anos na comparação com a média para a faixa etária registrada entre março de 2020 e igual mês de 2021, aponta levantamento feito pelos cartórios de Registro Civil do Brasil.



Estatística que não surpreende, já que o país enfrenta atraso na campanha de vacinação e, com as flexibilizações do isolamento social, parte dos adultos voltaram para o trabalho presencial e outros ainda insistem em desrespeitar as medidas preventivas contra a propagação do novo coronavírus.

Os dados, divulgados pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), mostram que abril registrou aumento de mais de 50% no número de óbitos de pessoas mais jovens, na faixa etária entre 30 e 59 anos e, um pouco menor, na faixa dos 60 aos 69 anos.

Entre 30 e 69 anos, foram 41.225 mortes no mês de março, e outras 44.516 no mês de abril. O mês foi o segundo no ranking de mortes no Brasil deste o início da pandemia, ficando atrás somente de março.

Brisa com o irmão Raphael, vítima da COVID-19 aos 32 anos: "Era um menino brilhante, muito sonhador, muito alegre, muito querido", conta ela (foto: ARQUIVO PESSOAL)

 
A faixa etária que registrou o maior percentual de aumento em relação à média desde o início da pandemia foi a da população entre 40 e 49 anos, um crescimento de 57% no número de óbitos em abril na comparação com o período que vai de março de 2020 a março de 2021.



Na sequência, a faixa etária que vai dos 30 aos 39 anos viu o aumento do número de óbitos crescer 56%. Outra faixa etária que registrou crescimento foi a de pessoas entre 50 e 59 anos, com óbitos aumentando 54% em relação à média desde o começo da pandemia, e passando de 12.070 em março para 13.409 em abril.
 
Ainda em crescimento, mas em patamares inferiores, as mortes por COVID-19 entre a população entre 60 e 69 anos registrou aumento de 22% em relação à média dessa faixa de idade no período, e um aumento de óbitos menor em relação às demais idades, passando de 18.755 em março para 19.876 em abril.

Nas demais faixas etárias – já vacinadas, segundo as diretrizes do Programa Nacional de Imunização (PNI), o número de óbitos caiu em relação à média desde o início da pandemia. O recuo foi de 8% na faixa entre 70 e 79 anos, 52% entre 80 e 89 anos, e 65% na população entre 90 e 99 anos.





RANKING ESTADUAL


Todos os estados brasileiros registraram aumento de óbitos de pessoas com idades entre 40 e 49 anos na comparação com a média dessa faixa desde o início da pandemia. À frente do ranking está o Rio Grande do Norte, onde o número de mortes de pessoas nesse segmento da população cresceu 154%, seguido por Santa Catarina (118%) e Sergipe (101%).

Nas listas de estados com maiores crescimentos, Minas Gerais só aparece no ranking da faixa etária entre 30 e 39 anos, em oitavo lugar, com alta de 67%. Entre 50 e 59 anos, os maiores aumentos foram nos estados do Rio Grande do Norte (152%), Pará (105%), Rio Grande do Sul (80%) e Acre (73%).


FALTAM DOSES


O epidemiologista Geraldo Cury explica que, apesar da efetividade dos imunizantes, o Brasil tem uma situação particular em relação à campanha contra a COVID-19.



“O que a gente observa é que a vacina consegue reduzir mortes e casos graves da doença, isso sabemos com toda certeza. O grande problema do Brasil é que as vacinas não foram contratadas e não temos doses suficientes”, adverte.
 
O especialista ressaltou que, como os mais idosos foram priorizados, é normal que a mortalidade entre eles seja mais baixa daqui pra frente. Por outro lado, os mais jovens têm como única solução, enquanto aguardam a vez na fila, continuar com o uso de máscara, evitar aglomeração, praticar o distanciamento e fazer a higiene das mãos.

“Se esse grupo não fizer isso, vai continuar morrendo e muito. Ao lado de não terem ainda tomarem a vacina tem o comportamento social desastroso que estão tendo. A exposição excessiva, a aglomeração, a falta de máscara, gera risco maior porque a pessoa pode pegar maior carga viral nessas situações”, alertou.





DOR QUE NÃO PASSA


Quem perde uma pessoa para a doença sabe a dor que se espalha na falta da vacina. A cantora Brisa Tauana Ribeiro de Almeida, de 31 anos, fazia dupla com o irmão, Raphael Wauster Almeida, de 32, vítima do coronavírus. “Era um menino brilhante, muito sonhador, muito alegre, muito querido, cheio de planos, tinha acabado de se noivar. Eu perdi meu irmão, parceiro de trabalho. A vacina é a sensação de que temos a chance de não perder mais ninguém”, afirma.
 
Ela também perdeu uma tia, Marli Francisca, de 58, e ainda chora pelas mortes de vizinhos e outros amigos. Com a esperança depositada na vacinação, Tauana conta que hoje será dia de vacinar a mãe. “A gente perdeu pessoas jovens, minha mãe também perdeu um sobrinho de 36 anos. A gente convive com o medo de perder mais alguém. Quando a gente encara de frente a dor de enfrentar a COVID, tudo que a gente quer é a vacina”, conclui.

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