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Estado de Minas alerta

Morte e medo na Pampulha

Avião sai da pista do aeroporto durante manobras de teste e bate em árvores a 110 metros de empresas


21/04/2021 04:00

O avião tocou a pista sem freio de pouso e se chocou contra a vegetação(foto: Fotos:Juarez Rodrigues/EM/D.A press)
O avião tocou a pista sem freio de pouso e se chocou contra a vegetação (foto: Fotos:Juarez Rodrigues/EM/D.A press)

Cercado por bairros populosos como Jaraguá, São Bernardo, Dona Clara, Minaslândia, entre outros, o Aeroporto da Pampulha foi palco de mais um acidente ontem, que matou uma pessoa, deixou outra gravemente ferida e acende u o sinal de alerta nos moradores residentes próximos ao terminal. Afinal, o fato de ontem ocorreu a apenas 110 metros de área residencial. O espaço já foi alvo de várias batalhas judiciais contra a retomada de voos comerciais – atualmente, apenas aviões executivos pousam no local (leia texto abaixo).

No acidente de ontem, um jato passou dos limites da pista do terminal e parou no gramado, chocando-se contra árvores. Uma pessoa morreu e outra ficou gravemente ferida. Morreu no acidente Eustáquio Avelar, de 76 anos, que estava na cabine, como co-piloto. Gabriel dos Santos Nazaret, de aproximadamente 28, foi levado em estado grave para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, e Osmar Mulina Pereira Filho, de 31, teve escoriações. 

O acidente ocorreu por volta das 14h.  O avião envolvido, modelo 35A, fabricado pela Learjet, fazia uma série de procedimentos de toque e arremetida – que é quando o piloto suspende o pouso e retoma potência para nova decolagem. Nesse momento, a aeronave se arrastou na pista e foi parar no gramado, explicou o major Fábio Alves Dias, comandante do Batalhão de Operações Aéreas do Corpo de Bombeiros.

No momento da arremetida, o avião utilizava a pista 13, que se inicia na Barragem da Pampulha e termina próximo à Avenida Cristiano Machado. De acordo com os bombeiros,  o trem de pouso da aeronave nem sequer chegou a abrir. Com o impacto com a vegetação após o fim da pista, a estrutura do avião se partiu perto dos motores. 

De acordo com o major Dias, a prioridade dos bombeiros foi combater possíveis chamas provenientes do vazamento de combustível da aeronave. Para isso,  espuma foi lançada para reduzir o risco de incêndio. Em seguida, os bombeiros tentaram ter acesso às vítimas. Uma das pessoas, Omar Pereira, permanecia consciente, uma vez que não estava na cabine do avião.  Piloto e co-piloto ficaram presos às ferragens e os militares precisaram fazer uma abertura lateral na aeronave para chegar aos homens. O co-piloto já estava morto. Já o piloto foi resgatado em estado grave pelo helicóptero Arcanjo e levado para o Hospital João XXIII.

ÁUDIO 

Um áudio entre a torre de controle do Aeroporto da Pampulha e o piloto do avião que se acidentou na tarde de ontem no terminal confirma que a aeronave não estava com o trem de pouso acionado quando tocou a pista.

A conversa foi divulgada pelo site “Radar Aéreo” e confirmada pelo Estado de Minas.  No diálogo, o comandante diz ter a intenção de fazer quatro procedimentos de toque e arremetida na pista do terminal, atividade chamada na aviação como TGL.

Quando avião saiu da pista, no que seria o terceiro TGL, o piloto de um helicóptero da Polícia Militar ofereceu auxílio à torre de controle. “O Pégasus viu a aeronave passando. Precisa de algum apoio do Pégasus?”, pergunta o piloto.

O controlador, então, disse: “Afirmo, senhor. A aeronave estava em toque e arremetida, pousou sem trem, prosseguiu direto e atravessou a cabeceira”. Em seguida, disse que bombeiros já tinham sido acionados para o resgate.

Uma investigação será aberta pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), órgão ligado à Aeronáutica, para apurar as causas do acidente.O modelo 35A possui caixa-preta, o que pode ajudar nos trabalhos.

Vizinhança 

O acidente assustou moradores da região. "No ano passado, um outro avião caiu. Temos que ficar bastante alertas agora", disse Reginaldo de Souza, de 46, funcionário público e morador do Bairro São Bernardo. A aposentada Edna Antônia Coutinho, de 67, também relatou apreensão.

"Moro aqui na região a vida toda, mas agora estou com medo desses 'teco-tecos' por aqui. Semana retrasada, estávamos em casa e um decolou e, pouco depois, o meu filho avisou: 'Desligou o motor". Por sorte, ele conseguiu voltar e pousar", afirmou. 

O avião envolvido no acidente de ontem possui matrícula PR-MLA. Trata-se de um modelo 35A, fabricado pela Learjet. De acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a aeronave, que pertence a uma empresa de construção do Rio de Janeiro, está regular. A validade do Certificado de Verificação de Aeronavegabilidade (CVA)  é  até 30 de março de 2022.

Bombeiros fizeram os resgates
Bombeiros fizeram os resgates


Um vaivém que já dura anos
e ainda provoca polêmicas

 Nos últimos 18 anos, pelo menos cinco acidentes aéreos foram registrados na região da Pampulha (veja lista ao lado). O espaço já foi alvo de várias batalhas judiciais contra a retomada de voos comerciais - atualmente, apenas aviões executivos pousam no local. O Estado de Minas relembra como foi o processo de “desativação” da parte comercial do aeroporto até hoje.

Em março de 2005, 90% dos voos comerciais do Aeroporto da Pampulha foram transferidos para o Aeroporto Internacional de Confins, na Grande BH. O terminal, que, três anos antes, recebeu 3.073.976 passageiros e um total de 88.737 operações de pousos e decolagens, passou a contar apenas com voos regionais e executivos. Uma portaria emitida pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), em 2007, chegou a limitar pousos e decolagens de aviões com até 72 poltronas.

Em 2015, iniciou-se um movimento do governo de Minas para que o Aeroporto da Pampulha recebesse voos regulares. A Infraero, que administrava o terminal na época, também era favorável ao retorno das aeronaves maiores para encher os cofres da estatal, que havia perdido bastante receita com as concessões aeroportuárias. Na época, entidades ligadas aos bairros no entorno do terminal protocolaram queixas na Anac contra a volta dos voos na Pampulha.

Em 2016, a Azul Linhas Aéreas, uma das únicas companhias que ainda operavam voos regionais na época, deixou o Aeroporto da Pampulha em definitivo. Naquele ano, estava em vigor o programa Voe Minas, do governo estadual, que conectava Belo Horizonte a cidades do interior do estado. No entanto, o serviço foi extinto em 2019.

NOVA TENTATIVA 

Em maio de 2017, a Infraero pediu para que a Anac liberasse a volta dos voos de grande porte no Aeroporto da Pampulha, com apoio da Prefeitura de BH. O Ministério dos Transportes vetou. No entanto, em outubro daquele ano, o governo federal derrubou o veto e autorizou o aeroporto a operar voos domésticos nacionais e de longa distância. Moradores da Região da Pampulha, comerciantes e políticos se posicionaram contrários à permissão.

A lista de críticas ia desde a economia do estado, com o enfraquecimento da malha aeroportuária, a problemas como risco de acidente aéreo e poluição sonora provocada pelo vaivém de aeronaves no terminal. Moradores fizeram ofícios para entregar a deputados federais e chegaram até a entrar com ação na Justiça para barrar os voos de grande porte. As rotas se mantiveram.

Com o sinal verde do governo federal, a Gol abriu voo que ligava a capital mineira até São Paulo, com escala em Juiz de Fora, a partir de janeiro de 2018. A passagem pela Zona da Mata deu brecha para que os Boeings da empresa pousassem na Pampulha. Em agosto de 2018, a Gol cancelou a rota, justificando pela indefinição em relação a regulamentação dos voos.

AVIAÇÃO REGIONAL

Em 2019, o TCU voltou atrás e liberou voos interestaduais na Pampulha, mas o Ministério da Infraestrutura informou que manteria o aeroporto funcionando apenas para os regionais. Isso ocorreria até que fossem concluídos estudos de viabilidade técnica, econômica e ambiental do local.

Mas, em 2020, o governo federal delegou a exploração do terminal ao governo de Minas, com período de outorga de 35 anos. A administração estadual pretende conceder o aeroporto à iniciativa privada para que investimentos sejam feitos no terminal. A operação deve gerar o repasse de, aproximadamente, R$ 12 milhões ao estado.

Com a desativação do Aeroporto Carlos Prates, na Região Noroeste de BH, a partir do início de 2022, a tendência é que as operações do aeroclube passem para o Aeroporto da Pampulha e outros terminais do estado, como Pará de Minas, local tradicional de escolas de aviação. (MA)

Perigo no ar

7/9/2020
A turbina de um avião pegou fogo no Aeroporto da Pampulha. O acidente ocorreu com um avião de médio porte e prefixo PR-AUR. Ele foi parar no final da pista, para o lado da Avenida Cristiano Machado. O avião pertencia à empresa WRV Empreendimentos e Participações. Os três ocupantes saíram ilesos.

30/9/2009
Um acidente feriu gravemente o fiscal de pátio William José Cordeiro, de 46 anos, no Aeroporto da Pampulha, em 2009. William foi atingido pela hélice de um monomotor Piper PA 28 Cherokee, prefixo PT-DZR, que fazia manobras. A vítima estava no pátio para sinalizar o local em que a aeronave estacionaria, procedimento conhecido como parqueamento.

17/12/2005
Um acidente aéreo envolvendo um helicóptero da empresa Helimed, no Aeroporto da Pampulha, mobilizou o Corpo de Bombeiros. A aeronave sofreu uma pane, quando estava a cinco metros de altura. A tripulação, composta por 6 pessoas, ia para uma festa de confraternização de Natal, em Pedro Leopoldo (MG). Todos tiveram ferimentos leves.

11/6/2003 
Avião bimotor Navajo, prefixo PTEHH, caiu na Rua Estado esquina de Rua Alcatrazes, no Bairro Jardim Atlântico, na Região da Pampulha, a cerca de dois quilômetros da cabeceira da pista do aeroporto da Pampulha. O avião decolara cerca de 30 minutos antes, depois de uma escala de reabastecimento, com destino a Juiz de Fora, onde deveria ser entregue um malote de dinheiro. Seis pessoas morreram carbonizadas.

7/6/2015 
Um avião de pequeno porte caiu em cima de uma residência no Bairro Minaslândia, Região Norte de Belo Horizonte, pouco depois de decolar do Aeroporto da Pampulha. O acidente ocorreu na Rua São Sebastião, próximo à estação de metrô Primeiro de Maio. Morreram o piloto, co-piloto e um tripulante, que também era piloto. O laudo emitido pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) destacou que o avião estava em "decolagem americana", quando o equipamento ganha altitude de forma abrupta, atingindo 1.700 pés em 15 segundos. A manobra é proibida em áreas densamente povoadas.



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