Jornal Estado de Minas

PANDEMIA

PNAD COVID-19 indica riscos da doença associados à rotina de trabalho

Em jornadas diárias entre várias residências, trabalhando na desinfecção de espaços onde funcionam todos os ramos, incluindo teletrabalho, profissionais que vivem de atividades domésticas e limpeza estão entre os grupos mais internados pela COVID-19 na Grande BH, como indica amostra do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).





Empregados domésticos, diaristas e cozinheiros aparecem na quarta colocação entre pessoas ocupadas que responderam ter ficado pelo menos um dia internadas pela doença na região metropolitana da capital, segundo amostra da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD) do IBGE, feita entre maio e novembro de 2020.

Se agrupadas as profissões de empregados em domicílios particulares aos faxineiros e ocupações semelhantes em empresas, o grupo apareceria com 9%, abaixo apenas dos técnicos e profissionais de saúde de nível médio (14%) e de operadores de máquinas e montadores da indústria (10%) no ranking das profissões com maior número de internados, segundo a amostra (veja quadro abaixo).

Descontados os profissionais da linha de frente, que mantêm contato direto com pacientes na rotina diária, trabalhadores domésticos e de limpeza, agrupados, apareceriam na segunda posição entre as profissões mais acometidas, segundo a amostragem do IBGE obtida entre residências em que pessoas foram hospitalizadas na Região Metropolitana de Belo Horizonte.





Em 12 de abril, o Estado de Minas publicou reportagem sobre a amostragem da PNAD IBGE 2020 com base em tabulação de fontes da área de economia, que apontava faxineiros, empregados domésticos e cozinheiros como a primeira posição no ranking de pessoas que passaram pelo menos um dia internadas devido a contágio pela COVID-19. Porém, essa informação estava errada.

Problemas na prospecção e cruzamento de dados provocaram o equívoco, e quando ele foi identificado a reportagem foi retirada do ar na versão digital. As informações amostrais foram revistas e checadas novamente. O grupo, apesar de ter participação importante no ranking de internações, não é o mais expressivo.

LIMPEZA


De acordo com sindicato dos trabalhadores de asseio e conservação, condomínios e limpeza urbana de Belo Horizonte e região (Sindeac), profissionais de limpeza como garis e faxineiros, domésticos ou não, “são extremamente expostos, pois lidam com resíduos de limpeza comercial e residencial de origens desconhecidas”. A entidade informa ter feito 4 mil testes para COVID-19 em 2020, que mostraram prevalência da doença entre 30% dos trabalhadores.




A distribuição de equipamentos de proteção individual cabe aos empregadores, mas nem sempre é seguida satisfatoriamente. Com isso, não é raro que esses acessórios não sejam usados de forma abrangente. O sindicato trabalha com notificações a partir de denúncias, pois a quantidade de condomínios na Grande BH é muito grande para ser efetivamente fiscalizada.

Segundo a entidade, os trabalhadores da área que atuam no setor da saúde foram vacinados prioritariamente, mas ainda se aguarda que os demais também sejam, entre eles os garis, que fazem movimento pela imunização.

MÉTODO


A PNAD COVID-19 tinha por objetivo estimar o número de pessoas com sintomas associados à síndrome gripal e monitorar os impactos da pandemia no mercado de trabalho brasileiro. A coleta teve início em 4 de maio de 2020, com entrevistas realizadas por telefone em aproximadamente 48 mil domicílios por semana, totalizando cerca de 193 mil domicílios por mês, em todo o Brasil.

Para os entrevistados que apresentaram algum sintoma, perguntou-se quais as providências tomadas, se buscaram atendimento médico e qual o tipo de estabelecimento de saúde procurado.

A reportagem do EM selecionou pessoas internadas por mais de um dia, por se tratarem de estágios mais graves da COVID-19. É preciso considerar ainda, ao avaliar os dados, que a PNAD é amostral, e não estatística. Por tratar de profissões, sofre influência de outro fator: em novembro de 2020, a taxa de desocupação chegou a 14,2%, a maior da série histórica da pesquisa, correspondendo a 14 milhões de pessoas sem trabalho. 

Profissionais ocupados internados na Grande BH


Veja o recorte de atividades mais afetadas pela COVID-19, segundo a amostra do IBGE

(foto: Arte/EM/D.A press)







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