Jornal Estado de Minas

IMUNIZAÇÃO CONTRA A COVID-19

Forças de segurança começam a ser vacinadas em Minas



Tenente Said, Cabo Ranier, Sargento Ronnie. Os nomes acompanhados de patentes são policiais e bombeiros que não deixaram de trabalhar um dia sequer durante a pandemia e perderam a vida para a COVID-19.  Para evitar novas perdas e proteger quem protege a população, Minas Gerais deve iniciar esta semana a imunização dos profissionais das forças de segurança, salvamento e Forças Armadas, já que o setor foi incluído na lista dos que devem ser vacinados com as mais de 1 milhão de doses que chegaram ao estado na quinta-feira (1º/4).




 
A remessa permitirá a ampliação da vacinação, incluindo idosos entre 65 e 69 anos, e que seja dada prioridade aos policiais federais, militares, civis e rodoviários; bombeiros militares e civis; e guardas municipais. A Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) informou que dentro do grupo haverá ainda outros critérios de prioridade: trabalhadores envolvidos no atendimento e transporte de pacientes, resgates e atendimento pré-hospitalar, ações de vacinação contra COVID-19, ações de vigilância das medidas de distanciamento social, com contato direto e constante com o público independentemente da categoria.
 
De acordo com a Associação dos Praças Policiais e Bombeiros Militares de Minas Gerais (Aspra-MG), mais de 7 mil militares testaram positivo para a COVID-19, dos quais 155 morreram em decorrência da doença. Como o Ministério da Saúde já previa esses trabalhadores como prioridade na vacinação e as prefeituras têm autonomia para gerir suas campanhas, algumas cidades já vacinaram esse público.
 
O Estado de Minas teve acesso a um documento em que o comando-geral do Corpo de Bombeiros fez um levantamento do número de militares vacinados no estado e encaminhou à SES-MG por meio de um processo no Sistema Eletrônico de Informações (Sei). De acordo com os dados do texto, pelo menos 1.043 bombeiros militares já foram vacinados no estado. Outros 2.003 que fazem o trabalho operacional ainda não receberam a imunização.




 
Esses militares foram imunizados por iniciativa das prefeituras, que têm autonomia para realizar a gestão da Campanha de Vacinação. É o caso de cidades como Arcos, Itaúna, Ituiutaba, Uberlândia e Diamantina. “Foram vacinados os profissionais da corporação que estão envolvidos na resposta pandêmica nos diferentes níveis de complexidade da rede de saúde e possuem atribuições de saúde nos municípios em que atuam, realizando ações como transporte de pacientes tanto em aeronaves quanto em viaturas de Unidade de Resgate”, informou a SES-MG.
 
Os municípios que adiantaram essa imunização aos bombeiros reconhecem o risco em que eles são expostos, já que, diariamente, os militares atendem ocorrências em que precisam de contato direto com doentes, sejam eles com ou sem diagnósticos de COVID-19. Segundo a corporação, 20,17% (equivalente a 73.741) das ocorrências atendidas pelo Corpo de Bombeiros no ano passado se referem ao atendimento pré-hospitalar. Esta é a segunda atividade mais atendida pela corporação, que só fica atrás das ações de prevenção (20,68%).

Exposição


A vacina é esperada com ansiedade. Um bombeiro que pediu para não ser identificado contou à reportagem sobre as dificuldades do trabalho durante a pandemia. Ele lembra que, embora sejam da segurança pública, os bombeiros também atuam na área da saúde. Os militares atendem e transportam pacientes com COVID-19 ou outras doenças, frequentam hospitais e entram nas casas de várias pessoas para atender todo tipo de ocorrência, todos os dias. “Mesmo trabalhando lado a lado com médicos, enfermeiros e o Samu, todos vacinados na primeira fase, não somos considerados prioridade”, reclama.




 
O militar faz parte do grupo que se expõe ao novo coronavírus mas ainda não foi imunizado. “Sabemos que todas as pessoas são muito importantes e que a vacinação é um direito de todos, afinal, zelar pela vida do próximo é a essência da nossa profissão. A questão é que somos muito expostos, em algumas unidades ainda usamos máscaras artesanais de TNT, sem nenhuma certificação, por exemplo”, denuncia o bombeiro.
 
Apesar de toda coragem que a tropa tem para desempenhar as funções de salvamento, muitos soldados trabalham lado a lado com o medo. “Infelizmente perdemos na última semana o sargento Brito e o cabo Ranier para COVID-19. Nós juramos servir com o sacrifício da própria vida, mas todos temos família, além de nos preocuparmos com nós mesmos, temos medo de levar doença pra casa”, lamenta.
 
“Já fui a ocorrência que entrou como crise convulsiva e, chegando lá, constatamos que se tratava de suspeita de COVID-19. Queria fazer um apelo à sociedade, para que quando ligarem para os bombeiros ou Samu, sejam sinceros ao responder as perguntas da triagem. Havendo recursos disponíveis, o atendimento nunca será negado, estaremos sempre à disposição, independentemente do seu problema, mas precisamos ir preparados, usar o EPI (equipamento de proteção individual) correto, saber com o que estamos lidando. Peço que as pessoas pensem na gente, apesar de nos orgulharmos do título de heróis, também somos humanos”, acrescenta.




 
Sobre a denúncia de uso de máscaras supostamente impróprias, o Corpo de Bombeiros informou que "todo o material adquirido pela corporação é certificado, até por exigência dos processos licitatórios que são realizados para as aquisições”. E completou: “Todo o Equipamento de Proteção Individual tem sido adequadamente fornecido, sem problemas de fluxo até o momento e a corporação não teve conhecimento de nenhuma denúncia nesse sentido até o momento."

Casos e mortes


A pressão sobre o sistema de saúde pela COVID-19 continua forte em abril, dando indícios de que pode superar março, quando o sistema hospitalar começou a colapsar em Minas Gerais. O número de doentes acompanhados em isolamento ou internados ontem já era o maior do ano. Mesmo aos fins de semana, quando o represamento de dados reduz índices, foram computados 99.269 casos positivos de novo coronavírus (Sars-CoV-2) sob atenção do estado, mais que os 97.271 do boletim de sexta-feira (02/04), que figurava com o maior quantitativo. As informações são do boletim Epidemiológico da Secretaria de estado de Sáude de Minas gerais (SES-MG). O índice de monitorados representa um volume 24,6% superior à média de 79.639 contaminados acompanhados nos domingos de março de 2021. O número de mortos chegou a 25.654. E o de casos confirmados, a 1.156.435.
 

Sobrevivente segue na batalha

 
(foto: Arquivo pessoal)

Em meio à pandemia do novo coronavírus, enquanto muitos trabalhadores puderam ficar em casa e manter o trabalho recolhidos, a segurança pública não pôde usufruir desse “privilégio” por proteção da sociedade. Na Polícia Civil não foi diferente. O perito criminal Saulo Gomes da Silva, de 39 anos, não parou de trabalhar presencialmente ao longo de um ano da pandemia, chegou a ficar internado depois de contrair a doença e se recuperou com muita força de vontade.




 
“Segui internado por nove dias. No hospital, no domingo à noite, comecei a sentir calafrios, todo meu corpo tremia muito, a ponto de serem os tremores incontroláveis e de sentir muita dor.. Ano passado tive dengue, que também dá dor no corpo, mas a COVID-19 foi absurdamente pior. Num intervalo de 20 minutos, minha temperatura passou de 37,1 pra 38. Nesse momento, pensei que fosse morrer. Uma sensação muito ruim. Fui medicado e a febre passou. Durante praticamente todos os dias da internação recebi oxigênio nasal. Não conseguia ficar sem, nem mesmo para ir ao banheiro. Respirava com bastante dificuldade”, conta Saulo.
 
Na mesma enfermaria onde ele estava, no Hospital Evangélico, havia um homem septuagenário com várias comorbidades que começou a ter dificuldade para respirar. “Como não havia vaga na UTI, montaram uma UTI de urgência no nosso quarto. Fiquei muito assustado com aquela cena. Fiquei com muito medo de precisar ser intubado também”, lembra o policial.
 
O servidor público que passou pelo sufoco de enfrentar a doença comemora a recuperação, mas lamenta as mortes de colegas. “Perdi vários colegas de trabalho. Tenho muitos amigos médicos e não vi nenhum deles morrendo. Mas os policiais estão morrendo aos montes. Pessoas de todas as idades”, lamenta. “A vacina é importante não só para os profissionais de segurança pública, mas para sociedade e para o Estado. Porque a ausência desses profissionais, em meio a toda essa onda de desemprego e desespero, pode gerar um verdadeiro caos. Há casos de pessoas infectadas que são presas e cospem nos policiais, com o intuito deliberado de contaminá-los", relata.




 
Além das lições deixadas pela COVID-19, como valorizar os profissionais que estão no enfrentamento da doença, Saulo aprendeu a não perder o bom humor, mesmo fazendo parte da triste estatística de pacientes no estado. Administrador de uma página de comédia no Instagram, a “Polícia Brasil Humor” (@policiabrasilhumor), ele continuou utilizando a rede como entretenimento e recebeu apoio dos seguidores. “O advogado avisou, o alvará chegou, o carcereiro recebeu. Vai cantar!”, brincou o policial no dia de sua alta hospitalar.

Nova remessa

Carga com doses de vacina no aeroporto da Pampulha: Minas já recebeu 11 remessas de imunizantes (foto: Gil Leonardi/Imprensa MG)
Confira o conteúdo e qual será o uso do 11º lote de vacina recebido por Minas

» 943.400 doses da Coronavac
» 73.250 doses da AstraZeneca
» Total: 1.016.650 doses

» Além de ampliar a vacinação para idosos entre 65 e 69 anos, o carregamento vai permitir o início da imunização de profissionais das forças de segurança que atuam na linha de frente do combate à pandemia; incluídos como prioridade no Plano Nacional de Imunização (PNI).





» No grupo prioritário das forças de segurança estão os trabalhadores envolvidos no atendimento e transporte de pacientes, resgates e atendimento pré-hospitalar, ações de vacinação contra COVID-19, ações de vigilância das medidas de distanciamento social, com contato direto e constante com o público independentemente da categoria.

» Demais profissionais que não se enquadram nas atividades de linha de frente deverão ser vacinados conforme andamento da campanha nacional de vacinação contra a COVID-19.

Fonte: SES-MG

audima