Jornal Estado de Minas

INFLUENTES

Os jovens mineiros que se destacam nas redes com causas sociais

Em Belo Horizonte, quatro rostos têm se destacado em meio à multidão de jovens que usam as redes sociais para combater injustiças sociais. Aos 23 anos, Ana Carolina Nagem recorre ao Instagram para conscientizar seus seguidores sobre pautas raciais. A dupla Carmine Ripoli, de 24, e Lucas Drumond, de 23, criou no YouTube o canal “BH é Quem?” para exaltar a cena cultural e empreendedora da capital mineira. E para a mineira Gabriela Botelho, de 20, eleita Miss Espírito Santo Mundo, a internet é palco para desmistificar a vida de uma miss, discutir feminismo e divulgar um projeto social em Brumadinho. 





O Estado de Minas conversou com esses jovens mineiros que, por meio de vídeos, fotos e stories conquistaram seguidores fiéis, engajados e estão se tornando referência para a geração mais nova sobre temas relevantes nas redes sociais.

"É possível uma mulher negra falar e as pessoas escutarem"

Ana Carolina Nagem, 23 anos, usa as redes sociais para falar sobre racismo (foto: Ana Flávia Alves/Divulgação)
Criada em uma família de classe média, Ana Carolina Nagem sempre estudou em colégios particulares, frequentou áreas onde pessoas de pele branca eram a grande maioria e descobriu, desde muito nova, a realidade sobre a vida da população negra no Brasil. Ela conta que a necessidade de levar sua discussão sobre injustiças sociais ao Instagram surgiu durante o distanciamento social na pandemia. 

“Ficando em casa, comecei a sentir a vida mudando completamente. Antes disso, já tinha interesse em discutir certas pautas, mas não tinha tanto tempo assim. Na quarentena, consegui estudar mais sobre o movimento negro e, com isso, senti a necessidade de falar sobre o assunto”, explica.





“Pela minha classe social sempre estive rodeada de pessoas brancas. Frequento locais reservados para branquitude. Para entender meu entorno, eu precisava falar sobre esse assunto. Eu tinha uma urgência. E as pessoas me escutam”, comenta Ana Carolina.

A morte de George Floyd

Em 14 de outubro de 2020, um movimento por cobrança de igualdade racial e justiça ganhou força em várias cidades do mundo, após um policial branco matar por asfixia um homem negro que estava algemado e imobilizado, nos Estados Unidos. 

George Floyd, de 40 anos, foi morto enquanto suplicava pela sua vida gritando: “Eu não consigo respirar”. A morte causou uma onda de indignação mundial depois da divulgação de um vídeo que mostrava o policial ajoelhado sobre o pescoço de Floyd.





“Quando aconteceu a morte de Floyd, eu já usava minhas redes sociais para falar sobre racismo. Mas sem dúvida alguma foi quando eu senti que as pessoas realmente começaram a me escutar. A morte dele chamou atenção. Foi justamente nesse momento, do ‘boom’ sobre a pauta racial, que eu senti que comecei a fazer diferença”, conta Ana Carolina.

“Sinto que no Brasil temos muita tendência de olhar para os Estados Unidos, então quando isso aconteceu, a sociedade ficou em choque. Não olham para dentro do país, mas olham para lá. As pessoas usaram isso para gritar: “Não aguento mais’. Ele deu um estalo na cabeça das pessoas. Por isso elas se juntaram, não só por ele, mas por todas as vidas negras que são mortas todos os dias”.



Ao falar sobre a vida da mulher negra na sexta capital mais populosa do Brasil, a jovem, que pretende ser psicóloga e combater o racismo por meio da profissão, se emociona. “As pessoas olham para uma mulher negra na Savassi, um espaço reservado para a branquitude, e só com o olhar sabemos que a pessoa quer dizer que não devemos estar ali. E esse olhar, sempre esteve na minha vida, desde muito nova. E, ao entender isso, percebi que ser uma mulher preta em Belo Horizonte, na posição que eu ocupo, é resistir nesse espaço e conseguir fazer isso para que outras mulheres também estejam ali comigo”, afirma.




 
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"Sentimos a necessidade de exportar o que BH tem de melhor"

Carmine Ripoli, 24 anos, e Lucas Drummond, 23 anos (foto: Instagram/Reprodução)
Amigos de longa data, Carmine e Lucas resolveram criar um canal no Youtube para falar sobre a capital mineira, com o objetivo de exaltar a cena cultural e o empreendedorismo feito por outros jovens moradores de Belo Horizonte. A partir do projeto, a dupla acabou conquistando um outro objetivo: a influência. 

 
Sentados em um bar cinematográfico, com uma cerveja gelada nas mãos e com um jeitinho de falar particularmente mineiro, o assunto dos vídeos acabou incentivando aqueles que querem conquistar a independência de uma forma mais criativa. 

“Sempre observamos que perto de nós existia uma galera que estava correndo atrás de pautas interessantes e relevantes. A cena cultural de Belo Horizonte é muito rica e vasta. Então, tivemos uma vontade de mostrar BH para as pessoas de fora”, explica Carmine.





“A ideia do canal surgiu a partir da necessidade de falar sobre a gente. Sobre nossa mesa de boteco, nossas gírias, o que a gente faz e o que a gente trabalha”, completa Lucas.


Projeto criado durante a pandemia

O “BH é Quem?” foi criado após Carmine terminar a faculdade e em meio à pandemia. O jovem ficou desempregado e, com isso, acabou tendo a ideia de criar o canal no YouTube para influenciar outros jovens. Com a vontade de criar vídeos, ele chamou Lucas, videomaker profissional.

Entre os entrevistados estão músicos e empreendedores que têm uma qualidade em comum: estão no início da carreira e colhem frutos de sonhos que se concretizaram. “Foi tudo muito natural, estamos no convívio de jovens. Somos jovens. É parte da nossa cultura e vivência. Acho que os pontos de identificação acontecem por isso”, afirma Carmine.

“Nossa responsabilidade está no momento de enaltecer as cenas de Belo Horizonte. Nossa responsabilidade está em mostrar o que BH tem para oferecer de todas as formas possíveis”.

Com o título de um “Talk Show no Youtube que veio pra explorar as cenas de Belo Horizonte”, o “BH é Quem?” faz sucesso. Por isso Lucas e Carmine sonham em conquistar muito mais. “Queremos mostrar que a cena de BH é tão grande quanto a de São Paulo e Rio de Janeiro. Somos tão grandes quanto eles. Sinto a necessidade, e sei que o Carmine também sente, de mostrar que somos tão capazes quanto. Nossa cena é rica e necessária”, afirma Lucas.





"Jamais podemos esquecer Brumadinho"

Gabriela Botelho, 20 anos, trabalha em uma ONG em Brumadinho (foto: Instagram/Reprodução)
Modelo fotográfica desde que começou a dar seus primeiros passos, Gabriela Botelho nasceu em Belo Horizonte e, aos 20 anos, usa as redes sociais para mostrar os bastidores da vida de Miss Espírito Santo Mundo e quebrar tabus. 

No Instagram, a modelo fala sobre assuntos como feminismo e doenças mentais. Ao lado da mãe, que é psicóloga do Sistema Único de Saúde (SUS) há 20 anos, Gabi conversa com meninas muito novas que já sentem a pressão estética da sociedade.

“Cresci com a ideia que precisamos pensar fora da caixinha e não olhar apenas para o nosso mundo, que felizmente é privilegiado. Então, minha vontade sempre foi de ajudar e contribuir”, conta Gabriela. “Como sempre fui modelo, cresci nesse mundo. Sofri muito e desde muito nova percebi que falar era a melhor escolha. Então, uso minha voz para isso”.





Se tornar miss veio da necessidade de Gabriela de se encontrar. Ela conta que o título a possibilitou deixar de ser apenas “um produto” para se tornar uma cabeça pensante, que atua em prol da sociedade. 

Usando as redes sociais para isso, Gabi, que é coordenadora na ONG Na Ação, também utiliza sua voz e projeção para alertar e conscientizar os jovens sobre o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, Região Metropolitana de Belo Horizonte, que ocorreu em 25 de janeiro de 2019.

O Na Ação é uma iniciativa independente que trabalha para ajudar pessoas que vivem em situações de risco e crises humanitárias.

Em conjunto com as lideranças locais de cada comunidade, o grupo promove soluções eficazes para combater a falta de assistência médica, a fome, a vulnerabilidade e ainda fornecer mais recursos para a educação.

“Entrei no Na Ação quatro meses depois da tragédia. Conheci a ONG através de amigos da minha escola na época. Em outubro, virei uma das coordenadoras. Agora, cuido da vara da área infantil”, explica. “Infelizmente, o Brasil é um país de pessoas emergentes. Então, assim que acontece uma tragédia, os brasileiros prestam os primeiros socorros e se mobilizam. Nos primeiros meses de Brumadinho, eram toneladas de doações. Mas depois as pessoas se esquecem. E isso é um grande problema. Afinal, o baque que essas comunidades passam não é no momento e sim, na reconstrução”, explica.

Gabriela conta que durante toda sua ação em Brumadinho ela conquistou amigos e conseguiu ajudar muitas pessoas. “Enxergo dentro do olho deles a gratidão por aquele momento. Eles precisam da gente e Brumadinho jamais pode ser esquecida”, afirma.

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