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Estado de Minas CORONAVÍRUS

Médicos dizem que BH vive o pior momento da pandemia em termos de contágio

Belo Horizonte completou nesta terça (16/03) um ano desde a confirmação do primeiro caso de COVID-19. Infectologistas do Comitê da PBH analisam o cenário atual


16/03/2021 06:00 - atualizado 16/03/2021 18:54

Aglomeração em ponto de ônibus: no momento em que população está mais desgastada, a doença chegou ao seu pico em BH(foto: Ramon Lisboa/EM/DA Press)
Aglomeração em ponto de ônibus: no momento em que população está mais desgastada, a doença chegou ao seu pico em BH (foto: Ramon Lisboa/EM/DA Press)

Máscara, comércio fechado, e “fique em casa”. As medidas de combate ao novo coronavírus voltam a ser prioridade um ano após Belo Horizonte iniciar as medidas de combate à COVID-19. Em 16 de março de 2020, a capital confirmou o primeiro caso do novo coronavírus.

No mesmo dia, médicos infectologistas se reuniram com o prefeito Alexandre Kalil (PSD) e, no dia seguinte, houve a publicação do decreto que criou o Comitê de Enfrentamento à Epidemia de COVID-19. Assim instituído, a primeira decisão da turma: o fechamento do comércio, publicado no dia 18.

A partir desta quarta-feira (17/03), o Estado de Minas publica uma série de entrevistas exclusivas com os integrantes deste comitê. Os médicos que foram convidados para integrar o time de monitoramento com olhar científico para a COVID-19 em BH pontuam os principais acertos durante a condução de um ano da pandemia na capital, assumem falhas nesse percurso e confidenciam os bastidores das reuniões com o prefeito Alexandre Kalil (PSD).

BH nunca esteve tão próxima de um colapso total do seu sistema de saúde. Nesta segunda-feira (15/03), 93,4% dos leitos de UTI da cidade para pacientes com COVID-19 estão ocupados. A conta considera as unidades lotadas na rede SUS e na suplementar. Esse é o recorde do indicador. Outros dois parâmetros, a taxa de uso das enfermarias e a transmissão do coronavírus, também alcançaram suas maiores marcas e estão na zona crítica da escala de risco. O fator RT chegou a 1,28.

Diante de cenário tão dramático, a equipe que orienta as flexibilizações na capital faz análise do que foi aprendido ao longo desse tempo e projeta o que a população pode esperar dos próximos meses.

Os especialistas alertam que o Brasil enfrenta um momento crucial da pandemia, quando a transmissão acelerou, a vacina segue a conta-gotas, faltam leitos para os doentes e as novas variantes ameaçam os mais jovens. Mesmo assim, a esperança é de dias melhores a partir do segundo semestre.

“O comitê completa um ano enfrentando, óbvio, junto com o cidadão de Belo Horizonte, de longe, o pior momento da pandemia em termos de contágio, saturação de leitos hospitalares e possibilidade de óbitos”, afirma o médico infectologista Estevão Urbano.

"Quando as pessoas estão mais desgastadas psicológica e economicamente, quando a pandemia mostra sua face mais nua e crua, do quanto é complexa, é que a situação se torna ainda pior"

Estevão Urbano, médico infectologista integrante do Comitê COVID na PBH



Além de voluntário no comitê que orienta as decisões do prefeito, Estevão é presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, coordenador dos serviços de infectologia dos hospitais Madre Teresa, Biocor Instituto e Vila da Serra, atua como médico infectologista do Hospital Júlia Kubitschek, é professor emérito da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais e ainda assume o cargo de diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia.

“Nesse caso, estamos falando não só de Belo Horizonte, mas do estado e do país. A situação não casa. Ou seja, quando você tem as pessoas mais esgotadas, vem com mais força. Quando as pessoas têm menor capacidade psicológica e física de enfrentá-la, ela vem num turbilhão como nunca antes”, analisa Estevão.

Flexibilizações 


Desde o início da pandemia, BH tem vivido idas e vindas entre graduadas flexibilizações do isolamento social e restrições nas atividades econômicas. Essa medida “gangorra” é apontada por especialistas como essencial para conter o vírus, desafogar o sistema de saúde e, ao mesmo tempo, dar um respiro à economia.

A uma semana de completar um ano da chegada do novo coronavírus, a prefeitura apertou o cerco e fechou mais uma vez o comércio, e também parques e praças, para evitar aglomeração de pessoas: a cidade volta à estaca zero.

“Nós aprendemos que essa estratégia que adotamos lá no princípio, a intermitência entre flexibilização e endurecimento de medidas de mobilidade social, funciona. Nós sabemos disso, nós tínhamos base teórica para isso e hoje temos a experiência prática de que a redução da mobilidade social como medida extrema vem funcionando de forma adequada, ou seja, ela é capaz de reduzir a tensão e a pressão sobre o sistema de saúde”, explica Carlos Starling, o mais experiente entre os médicos voluntários do comitê.

"(As medidas restritivas são) eventualmente amargas, mas necessárias para preservar a vida das pessoas"

Carlos Starling, médico infectologista integrante do Comitê COVID na PBH

Também membro das sociedades Mineira e Brasileira de Infectologia, Starling concentra diversos estudos na área e faz suas perspectivas com base no cenário atual da pandemia. Para o médico, as variantes do vírus que já circulam na capital são um grande desafio.

“Há uma possibilidade de termos que ficar nessas idas e vindas, em termos de flexibilização e endurecimento, ao longo de 2021. Vai ser assim como fizemos em 2020. Isso por causa das variantes, porque ainda não temos vacina suficiente e porque essas são medidas que são efetivas”, pontua.

Situação crítica em UTIs


O esgotamento de leitos, cenário real em centenas de cidades pelo país, inclusive em Minas Gerais, reflete também na capacidade de assistência de Belo Horizonte. A capital permanece com a situação crítica nas enfermarias e unidades de terapia intensiva (UTIs) desde o início do ano.


"Realmente, acho que talvez estejamos vivendo o pior cenário. Agora, a pergunta que fica é: por quanto tempo?"

Unaí Tupinambás, médico infectologista integrante do Comitê COVID na PBH

E nas últimas semanas a situação piorou: o indicador de ocupação de UTI, monitorado e divulgado diariamente pela prefeitura, se manteve acima de 70% desde o último dia 26. Apesar de existirem razões para este contexto – como o relaxamento da população nas festas de fim de ano, férias de janeiro e feriado de carnaval –, o que importa, agora, é procurar uma solução.

“Belo Horizonte tem um risco real de entrar em colapso”, alerta Unaí Tupinambás, a terceira chave que compõe o comitê da PBH. “Se a gente pudesse, realizaria o sonho de consumo de todo infectologista, epidemiologia e sanitarista: poder fazer um lockdown de 21 dias. Lockdown e vacina em cima. Você tira a pressão do sistema de saúde, as pessoas param de adoecer, param de morrer, o que queremos agora é evitar as mortes. É um cenário de filme de terror. Não tem para onde correr”, acrescenta o médico infectologista e professor da Faculdade de Medicina da UFMG.


Apesar de endurecer as medidas de combate ao coronavírus e anunciar o fechamento de atividades econômicas, o prefeito Alexandre Kalil (PSD) já descartou adotar lockdown na capital. “Não temos mais o que fechar. Só falta fechar supermercados, e ninguém comer, e farmácias, e ninguém comprar remédio. O fechamento acabou. Não temos mais o que fechar”, disse, em entrevista coletiva na sexta-feira.

A redenção, segundo Unaí, deve ocorrer até o fim deste ano. “Acredito que até o final deste semestre vamos vacinar toda a população acima de 60 anos. Assim a gente vai sair da crise sanitária, vai acabar a pressão nas internações. Talvez comece a melhorar a partir de agosto/setembro. Nós vamos ter uma primavera talvez muito boa em termos de ocupação de leitos, de mortes, mas o vírus vai estar circulando, vamos ter que usar máscara, evitar algumas aglomerações, mas há uma luz no fim do túnel”, disse o médico e professor.

Quem são os infectologistas

O Comitê de Enfrentamento à Epidemia de COVID-19 foi instituído em 17 de março de 2021. Além do secretário de Saúde, Jackson Machado, o grupo é formado por três médicos infectologistas que orientam as decisões do prefeito Alexandre Kalil (PSD), de forma voluntária, com base em estudos científicos.

Conheça cada um deles:

CARLOS STARLING

Carlos Starling, médico infectologista(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Carlos Starling, médico infectologista (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

IDADE: 63 anos
FORMAÇÃO: Médico
ESPECIALIZAÇÃO: Medicina Preventiva e Social, Infectologia, Mestre em Medicina
LOCAL QUE ESTUDOU: Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
OUTRAS ATUAÇÕES: Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), Sociedade Mineira e Brasileira de Infectologia

ESTEVÃO URBANO

Estevão Urbano, médico infectologista(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Estevão Urbano, médico infectologista (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
IDADE: 55 anos
FORMAÇÃO: Médico
ESPECIALIZAÇÃO: Infectologia
LOCAL QUE ESTUDOU: Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais
OUTRAS ATUAÇÕES: Sociedade Mineira e Brasileira de Infectologia, coordenador dos serviços de infectologia dos hospitais Madre Teresa, Biocor Instituto e Vila da Serra, infectologista do Hospital Júlia Kubitschek, professor emérito da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais

UNAÍ TUPINAMBÁS

Unaí Tupinambás, médico infectologista(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press )
Unaí Tupinambás, médico infectologista (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press )

IDADE: 59 anos
FORMAÇÃO: Médico
ESPECIALIZAÇÃO: Infectologia
LOCAL QUE ESTUDOU: Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
OUTRAS ATUAÇÕES: Médico infectologista, professor da Faculdade de Medicina da UFMG, Prefeitura de Belo Horizonte, assessor do Ministério da Saúde

Linha do tempo

2020

  • 16 de março – BH confirma primeiro caso de coronavírus
  • 17 de março – PBH cria comitê para enfrentar epidemia da COVID-19
  • 18 de março – Prefeito publica primeiro decreto de desmobilização social
  • 20 de março – Passa a valer a suspensão do funcionamento de estabelecimentos comerciais
  • 25 de maio – BH entra na primeira fase de flexibilização e permite funcionamento de parte do comércio, salões de beleza e shoppings populares
  • 8 de junho – BH entra na segunda fase de flexibilização e permite reabertura de lojas de artigos e equipamentos esportivos, artigos de uso pessoal, de embalagens, de instrumentos musicais, de arte e decoração, de armas e munições, petshops e floriculturas
  • 29 de junho – PBH fecha comércio não essencial por aumento de casos e UTI em 85%
  • 6 de agosto – Começa uma nova fase de flexibilização, com reabertura de shoppings, galerias de comércio, lojas de rua e salões de beleza
  • 4 de setembro – Após acordo mediado pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais, bares e restaurantes voltam a funcionar

2021

  • 6 de janeiro – PBH anuncia fechamento do comércio não essencial a partir do dia 11
  • 11 de janeiro – Comércio não essencial, bares e restaurantes fecham as portas mais uma vez
  • 29 de janeiro – Prefeitura autoriza retomada de atividades a partir dos dias 1º e 2
  • 1º de fevereiro – Atividades comerciais voltam a funcionar
  • 6 de março – BH volta ao estágio inicial de funcionamento do comércio: apenas serviços essenciais podem permanecer abertos
  • 12 de março – Novas medidas restritivas são anunciadas: passam a ser proibidas caminhadas/corridas esportivas nas pistas, enquanto praças e parques permanecem fechados. Estabelecimentos só podem atender via delivery, drive-thru e com portas fechadas; passa a ser proibida a retirada no local. Lojas de conveniência em postos de gasolina só podem funcionar de segunda a sexta-feira, até as 18h. Missas, cultos e demais celebrações religiosas presenciais ficam vedados

O que é o coronavírus


Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
Vídeo: Por que você não deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp

Como a COVID-19 é transmitida? 

A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.

Vídeo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronavírus?


Como se prevenir?

A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
Vídeo: Flexibilização do isolamento não é 'liberou geral'; saiba por quê

Quais os sintomas do coronavírus?

Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas gástricos
  • Diarreia

Em casos graves, as vítimas apresentam:

  • Pneumonia
  • Síndrome respiratória aguda severa
  • Insuficiência renal
Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avançam na identificação do comportamento do vírus. 

Vídeo explica por que você deve 'aprender a tossir'


Mitos e verdades sobre o vírus

Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.

Coronavírus e atividades ao ar livre: vídeo mostra o que diz a ciência

Para saber mais sobre o coronavírus, leia também:

 



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